Diariamente, são várias as notícias que nos dão conta de acidentes rodoviários e que nos alertam para uma realidade com uma dimensão que por vezes menosprezamos.
A Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) relevou, no Relatório de Sinistralidade de julho de 2022, que entre janeiro e julho de 2022 registaram-se no Continente e nas Regiões Autónomas, 18.889 acidentes com vítimas, 253 vítimas mortais, 1.398 feridos graves e 22.021 feridos leves, em consequência de acidentes de viação.
Sim, 253 vítimas mortais em apenas sete meses! São pais, mães, filhos, avós, netos, amigos, colegas que partiram cedo demais e deixaram de estar entre nós. São mais de mil famílias destroçadas, são milhares de pessoas afetadas.
É um facto unanimemente reconhecido em todo o mundo que os acidentes rodoviários constituem um enorme, mas negligenciado problema de saúde pública que tem consequências significativas em termos de mortalidade e morbilidade e custos sociais e económicos consideráveis.
A nível mundial, a sinistralidade rodoviária é a primeira causa de morte entre os 5 e 29 anos de idade e a oitava para todas as idades. Recentemente, a APSI revelou, no seu relatório, que a sinistralidade rodoviária é a segunda causa de morte, em Portugal, entre os 5 e os 14 anos e a primeira entre os 15 e os 19 anos.
Para além do irreparável fator humano, a sinistralidade rodoviária tem um impacto económico e social muito significativo. O estudo sobre “O Impacto Económico e Social da Sinistralidade Rodoviária em Portugal”, desenvolvido pelo Centro de Estudos de Gestão do ISEG, para a ANSR, mostrou que os acidentes rodoviários registados em Portugal no ano de 2019 tiveram um custo económico e social para o país estimado em 6.422,9 milhões de euros, valor que representa 3,03% da riqueza criada no país nesse ano.
São várias as causas na origem dos acidentes rodoviários: excesso de velocidade, condução sob o efeito de álcool, cansaço e distrações provocadas pelo uso de telemóveis durante a condução, entre outros, sendo a velocidade a principal causa de um terço de todos os acidentes mortais.
A segurança rodoviária é um fenómeno complexo e assenta em três vetores essenciais: veículo, infraestruturas e comportamento humano.
Na ANSR, temos vindo a trabalhar nestes três vetores. Relativamente aos veículos há já um grande trabalho desenvolvido a nível europeu, como por exemplo a mais recente norma da UE, que entrou em vigor no passado dia 6 de julho, a qual obriga todos os construtores automóveis a instalarem uma grande variedade de equipamentos de segurança.
Por outro lado, as gestoras das infraestruturas têm realizado um investimento consequente nos últimos tempos e são mais tolerantes ao erro humano, ainda que menos do que seria desejável.
As pessoas, pelo facto de de terem uma distração, não têm que perder a vida na estrada. Esta tem que ser construída de modo a proteger a vida dos seus utilizadores, mesmo quando erram.
Quanto ao comportamento humano, temos vindo a eleger duas formas de trabalho: a sensibilização e a eficácia do processo contraordenacional, sendo que, obviamente, privilegiamos as mudanças de comportamento.
De forma a reduzir a sinistralidade rodoviária, a ANSR após a sua criação em 2007, desenvolveu dois planos estratégicos de segurança rodoviária, a Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária, em 2009 e o Plano Nacional de Segurança Rodoviária, através dos quais foi implementado um conjunto de medidas numa perspetiva holística da segurança rodoviária que de uma forma sustentada tem sido responsável por uma melhoria neste domínio em Portugal.
Portugal alinha-se com o compromisso europeu de reduzir, nesta década, o número de mortes e feridos graves em 50% com o objetivo de não haver mortes na estrada em 2050, mas a segurança rodoviária é uma responsabilidade de todos e só com um compromisso de toda a sociedade poderemos chegar ao único número de mortes nas estradas nacionais: ZERO.
Contamos com todos! Contamos consigo!