Já poucos se lembrarão dos estimados dois milhões que no virar do século passado procuraram uma vida melhor no Brasil, mas estou certa de que nos recordamos das grandes vagas migratórias dos anos 60 do século passado que virando costas à pobreza e à guerra colonial seguiam na esperança de uma vida melhor na Europa ocidental que crescia e precisava de emigrantes para continuar a crescer.
E se até 2000 a emigração portuguesa perdeu visibilidade a favor da entrada de imigrantes em Portugal ela nem por isso deixou de ser significativa. Mas é no virar da primeira década deste século que o enorme volume de saídas voltou a mostrar o vigor da emigração para os portugueses, que perante a força da crise procuraram uma vida melhor nos destinos tradicionais da emigração portuguesa como a França ou o Luxemburgo, mas também em novos como o Reino Unido. A emigração parece ser um trunfo a que os portugueses recorrem sempre que a esperança diminui entre portas.
Do lado de quem fica e do país que os viu partir persiste outro tipo de esperança. A do contributo dos que apesar de partirem podem dar ao desenvolvimento do país de origem. No passado foram desenvolvidos vários estudos sobre o contributo da emigração portuguesa para o país de origem. Uns, mais otimistas assinalaram a importância das remessas para o equilíbrio das contas públicas ou para a dinamização dos territórios do interior do país. Outros mais pessimistas argumentaram que os negócios criados não produziram alterações significativas no desenvolvimento do país.
Chegados a 2022, mudou quem parte, mudou o país e mudaram as condições de mobilidade. A nossa emigração é agora mais qualificada. Não nos referimos apenas aos que saem com um diploma e que são cada vez mais. Mesmo os que não têm um curso superior, têm mais qualificações do que aqueles que saiam sem saber ler nem escrever e mostram deter outras qualificações e competências crescentemente valorizadas. Mudou o país cada vez mais orientado para os serviços, cada vez mais integrado na economia global, e que por virtude de fazer parte da União Europeia participa de novas condições de mobilidade. Não só a revolução dos transportes, mas também a livre circulação de pessoas no espaço da União Europeia que facilita o aumento de visitas ou a migração temporária em detrimento da permanente, mudaram também os principais destinos da emigração portuguesa, à cabeça Alemanha cujo interesse reside na diversidade da emigração portuguesa no país e no lugar proeminente que detém no espaço europeu e mundial.
Perante este novo perfil da nossa emigração, este país que mudou e uma renovada mobilidade a pergunta que se coloca é que efeitos pode a nossa emigração produzir sobre o desenvolvimento do território. Importa aqui considerar as remessas e o que com elas se faz, mas levar igualmente em conta as atitudes, práticas e novos conhecimentos que viajam com as pessoas e que são fruto das suas experiências migratórias. Por fim, vale a pena lembrar que face à força que as regiões vão tomando no mapa europeu e mesmo português, é pertinente fazer este exercício não apenas para a escala do país, mas também a para a escala regional. Perante tantas perguntas hoje sem resposta, é relevante investigar-se qual o contributo da emigração portuguesa, e da Alemanha em particular, para o desenvolvimento do país e das regiões de origem.