Governos tentam aliviar restrições, sobretudo durante a semana de Natal, para permitir reuniões familiares, tentando ao mesmo tempo não comprometer o início de 2021 com uma terceira vaga de contágios. Restrições à circulação e aos ajuntamentos são a receita comum, com algumas limitações mais imaginativas pelo meio.
Dez pessoas à mesa, mas mantendo a distância de um metro. Quatro convidados no jardim, mas só um pode entrar na habitação para ir à casa de banho. Reuniões familiares, mas com a recomendação de isolamento voluntário antes e depois. Às portas de um Natal totalmente inédito, a Europa tenta festejar alguma coisa sem estragar o início de 2021. Na maior parte dos países há um aligeirar das medidas durante a época festiva que se aproxima – ou uma promessa de alívio -, mas há exceções.
Espanha. Reuniões familiares limitadas a dez
Aqui mesmo ao lado, o Governo liderado por Pedro Sánchez acordou com as comunidades autónomas que, no período entre 23 de dezembro e 6 de janeiro (Dia de Reis, data em que são trocadas as prendas em Espanha), as pessoas só podem viajar entre diferentes regiões para visitar familiares ou pessoas chegadas. E o que são pessoas chegadas? As que tenham “um especial vínculo afetivo” entre si, segundo o ministro da Saúde.
De qualquer forma as reuniões familiares em época natalícia – leia-se 24,25, 31 de dezembro e 1 de janeiro – devem ser limitadas a dez pessoas, crianças incluídas (atualmente os ajuntamentos não podem exceder seis pessoas), com a recomendação que se trate de pessoas de um mesmo grupo de convivência.
O recolher obrigatório, na véspera de Natal e de Ano Novo, será também mais limitado, vigorando a partir da uma e meia da manhã. Embora as medidas tenham merecido o acordo da generalidade das autonomias algumas regiões já fizeram saber que vão impor medidas mais restritivas.
É proibido comer ou beber na via pública (com exceção das esplanadas), o comércio e a restauração manterão os horários atuais (diferentes em cada comunidade), são proibidos eventos de massas, mas podem realizar-se eventos culturais e desportivos desde que cumpram as regras sanitárias. O mesmo é válido para as celebrações religiosas.
Em contraciclo, Itália endurece medidas
Em Itália não há qualquer alívio de medidas, muito pelo contrário – as regras vão apertar entre 21 de dezembro e 6 de janeiro. Nesse período será proibido circular entre regiões exceto por razões de emergência, e a interdição estende-se a quem tenha família ou segunda casa numa região diferente daquela em que vive. A 25 e 26 de dezembro, bem como a 1 de janeiro, a lei é ainda mais rígida, proibindo deslocações dentro da mesma região. O recolher obrigatório mantém-se às 22 horas e vigora também na véspera de Natal e de Ano Novo.
A 25 e 26 de dezembro, bem como a 1 e 6 de janeiro, os restaurantes podem abrir para almoços, mas os grupos são limitados a quatro pessoas. Mas já não podem abrir para o jantar.
E uma questão bastante alheia a Portugal, mas que se tem colocado nos vários países da Europa central: as estâncias de esqui, habitualmente lotadas no final de ano, vão estar encerradas no período do Natal e do Ano Novo.
“Devemos evitar o risco de uma terceira onda, que poderia chegar em janeiro e não ser menos violenta que a primeira e a segunda”, avisou o primeiro-ministro, Giuseppe Conte, esta quinta-feira, no mesmo dia em que a Itália atingiu o número de mortes por covid-19 mais alto de sempre, contabilizando 993 vítimas mortais, mais 24 que o pico anterior (atingido a 27 de março). Esta sexta-feira foram 24 099 novos casos e 814 óbitos.
França. À espera dos números para decidir
Emmanuel Macron prometeu aliviar as restrições devido à pandemia a partir de 15 de dezembro, mas apenas se os novos contágios estiverem abaixo dos 5000/dia e o número de internados em cuidados intensivos se situar entre os 2000 e os 3000 doentes. Para já o país está ainda longe destes números – nesta sexta-feira a França registou 324 mortos e 12 696 novos casos positivos -, o que levanta muitas incógnitas sobre as próximas semanas.
Já depois do aviso presidencial o primeiro-ministro, Jean Castex, veio dizer que as festividades natalícias não devem juntar mais de seis adultos à mesa.
O recolher obrigatório deverá ser levantado, excecionalmente, nas noites de 24 e 31 de dezembro, para que as famílias se possam reunir, mas os ajuntamentos no espaço público continuarão proibidos.
Não há mercados de Natal e quanto às estâncias de esqui já é certo que pelo menos os teleféricos estarão encerrados para evitar a concentração de pessoas. Ainda assim e para evitar que turistas de outros países de desloquem para território francês as autoridades já avisaram que haverá controlos aleatórios nas fronteiras.
Bélgica. Apenas um convidado na ceia natalícia
Na Bélgica cada agregado familiar pode receber apenas um convidado para as festividades de Natal. A não ser que tenha um terraço ou jardim com acesso direto a partir da rua, caso em que podem juntar-se grupos de quatro pessoas – mas só um dos visitantes pode entrar na habitação para usar a casa de banho. É assim mesmo. “Se tiver que ir à casa de banho, tem de voltar a sua casa”, confirmou um porta-voz do ministério do Interior belga. Restaurantes, bares e ginásios vão continuar encerrados.
Alemanha. Uma semana de alívio no Natal e Ano Novo
“Temos duas mensagens a transmitir às pessoas: primeiro, obrigado; segundo, as restrições atuais não serão levantadas”. Foi assim, sem meias palavras, que a chanceler Angela Merkel anunciou no final de novembro os planos das autoridades para o mês de dezembro, depois de uma reunião em videoconferência, durante sete horas, com os líderes dos 16 estados federais alemães. Ainda assim haverá algum alívio no período entre 23 de dezembro e 1 de janeiro. Cada agregado familiar poderá encontrar-se com outros agregados até um máximo de dez pessoas (e os menores de 14 anos não contam para este limite), com as autoridades a recomendar que os cidadãos cumpram um período de isolamento voluntário antes e depois das celebrações. Aos patrões pediu-se flexibilidade e recurso ao teletrabalho durante este período.
Hotéis, restaurantes e ginásios vão permanecer encerrados.
Reino Unido. Uma “amnistia” de cinco dias
É o quadro de restrição mais leve da Europa: entre 23 e 27 de dezembro podem reunir-se até três agregados familiares, sem especificação de número limite. Mas estas “bolhas” só se aplicam ao espaço privado, a locais de culto religioso e a espaços públicos ao ar livre – não podem ir juntos a restaurantes ou bares, por exemplo. Não haverá restrições à circulação durante este período de cinco dias. As lojas poderão fazer um horário alargado no período de Natal e de Ano Novo. As cerimónias religiosas também podem manter-se.
As medidas sofrem algumas adaptações consoante os países: por exemplo, na Irlanda, este período excecional estende-se de 22 a 28 de dezembro. Na Escócia foi determinado que as “bolhas familiares” não devem ultrapassar as oito pessoas. A primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, também já avisou que as regras especiais não vão prolongar-se para o período de Ano Novo. Os tradicionais fogos-de-artifício de fim de ano em Londres e Edimburgo já foram cancelados.
Noruega. Dez à mesa, mas afastados
A atual restrição de cinco pessoas passará a dez em dois dias do período natalício e de final de ano, à escolha de cada família. Mas os convivas devem manter uma distância de um metro entre eles. “Terão de improvisar e talvez estender um pouco a mesa este ano”, disse a primeira-ministra Erna Solberg.
Polónia. Limites à reunião e à circulação
O governo polaco já anunciou que haverá limites à livre circulação no país e que o Natal deverá ser passado com a família mais restrita.