O ano que está prestes a terminar ficará assinalado pelas consequências da guerra da Ucrânia, invadida pela Rússia.
Essas consequências não se limitam à devastação de um país soberano e aos impactos da morte que não poupa crianças e velhos.
As regras de direito internacional e da própria guerra são letra morta para Putin.
Escamotear a evidência do que se desenrola à vista de todos é procurar justificar o injustificável.
A guerra desenrola-se na Europa no século XXI.
O “velho continente” e, com ele, a generalidade dos povos e países passaram a sofrer com maior ou menor intensidade os efeitos da guerra, sobretudo nos sectores da energia e alimentar, com uma subida anormal de preços, agravando as desigualdades e penalizando os mais pobres.
Tudo isto ocorre sobre um pano de fundo de alteração do quadro geopolítico mundial.
Esta constatação justifica que os países e povos de língua portuguesa façam convergir todos os esforços possíveis para o reforço das suas relações nos domínios político e económico, sendo esse objetivo imposto pela realidade dos factos.
As recentes eleições ocorridas no Brasil traduziram um contributo muito relevante para a concretização deste objetivo.
É que o Brasil é um país relevantíssimo para a afirmação dos povos e países de língua portuguesa.
O Presidente eleito, Lula da Silva, foi quem nos seus dois anteriores mandatos deu prova do desejo desse aprofundamento, há que reconhecê-lo, particularmente com os países africanos, ao contrário do seu opositor, Bolsonaro, que no programa de candidatura não referiu sequer o continente africano.
Acresce que Lula manterá na próxima presidência o seu principal conselheiro para as questões africanas, Celso Amorim, recordando-se que, enquanto presidente, visitou pessoalmente inúmeros países do continente africano e abriu um número considerável de embaixadas nele.
Sendo a língua portuguesa a mais falada do Atlântico Sul, não é necessário acrescentar mais nada sobre o contributo do Brasil para esse aprofundamento num novo quadro, também de retorno do país ao novo ciclo.
Sucede ainda que Angola, que também teve eleições gerais no passado dia 23 de agosto, é quem preside à CPLP, tendo sido em Luanda, em 2021, que foi aprovada a Lei-quadro para a mobilidade dos cidadãos sobre o impulso de Cabo Verde.
Para quem está atento, há também o facto de Angola ter agora uma posição clara sobre a guerra que ocorre na Ucrânia.
Os resultados das eleições em Angola, ao demonstrarem a enorme importância do voto da juventude, fortemente maioritária no país, revelam também que ela é o garante do futuro, tanto mais que Angola será no final do século o país com maior população de entre os de língua portuguesa, ultrapassando o Brasil.
Nesta reconfiguração geoestratégica do mundo, o peso da cidadania dos povos de língua portuguesa será um (ainda maior) grande ativo, devendo, por isso, assumir-se como uma prioridade das políticas a prosseguir por todos.
Os países de língua portuguesa são porta de entrada de continentes, ou de grandes regiões, todos fazem fronteira com o mar, tendo tudo a ganhar e nada a perder se reforçarem as relações entre eles neste novo ciclo em gestação, que se está a abrir.
Termino desejando a todos os leitores um melhor 2023 e em paz.