A estrada nacional 103 que rasga o país de lado a lado, ligando Viana do Castelo a Bragança é um dos roteiros rodoviários mais genuínos do Porto e Norte. São ao todo 274 quilómetros que podem ser percorridos em toda a sua extensão ou em várias etapas, a pé, de carro, de mota ou de bicicleta.
É impossível enumerar todo o potencial desta estrada tão antiga quanto bela, mas a verdade é que a sua orologia, vegetação e características paisagísticas levam o viajante numa viagem por doze concelhos que ao ritmo que vai sendo percorrida vai evidenciando as suas especificidades que se alteram significativamente conforme se atravessa o território do interior para o litoral norte português.
São algumas dessas metamorfoses físicas, mas igualmente transformações culturais que destacamos neste roteiro que atravessa sete rios; possui património de todas as épocas e estilos arquitetónicos; paisagem rural e urbana, parques naturais, produtos endógenos; raças autóctones, zonas de caça e de pesca, golfe, termas, hipismo, atividades de natureza, desportos radicais, alguma da melhor gastronomia do país, além de tradições imemoráveis.
Partindo de Bragança da rotunda da Flor da Ponte – não sem antes visitar o seu centro histórico para ver o castelo, o Domus Municipalis, a cidadela, a Sé Catedral e os vários museus e centros de interpretação – a N103 dirige-se para Vinhais.
Na envolvente destacam-se o Miradouro de S. Bartolomeu e a porta de entrada do Parque Natural de Montesinho. O centro interpretativo do parque e o Centro Interpretativo do Porco e do Fumeiro são a par do magnifico Parque Biológico de Vinhais alguma das pérolas a não perder neste concelho de castanhas e de porco bísaro de qualidade incontestável.
Continuando pela impressionante N103 chega-se a terras de Valpaços. A envolvente do Rio Rabaçal é incontornável por estas paragens: o parque e a sua praia fluvial, a ponte, a ecovia e o centro interpretativo fazem parte deste complexo ao ar livre. O Centro Hípico de Travancas, a aldeia abandonada de Picões e os produtos regionais como a castanha dos soutos de Carrazedo de Montenegro e o Folar de Valpaços são obrigatórios conhecer antes de seguir viagem.
Chegando a Chaves, o percurso deve incluir a Ponte de Trajano, um circuito pelo centro histórico para conhecer o castelo, o património religioso e alguns equipamentos importantes, sem esquecer, obviamente, o complexo termal e uns quantos pasteis de Chaves para o caminho.
Em Boticas, na sede do concelho, o destaque vai para o Centro de Artes Nadir Afonso, o Museu Rural, o Repositório Histórico do Vinho dos Mortos sem faltar o entorno paisagístico do Boticas Parque, da Ponte Pedrinha sobre o rio Beça, o moinho de água e o passadiço. Para refrescar por estas paragens de águas minerais, nada melhor do que visitar nas redondezas a Aldeia de Carvalhelhos e o seu castro.
A próxima paragem é em Montalegre, concelho de panorâmicas e usos e costumes inconfundíveis do Parque Natural da Peneda Geres, o único parque natural português classificado «parque nacional» que conta já com mais de 50 anos. As albufeiras do Alto Rabagão e da Venda Nova, os assombrosos miradouros junto à estrada e localidades perdidas na serra como Pitões de Júnias são incontornáveis antes de uma paragem para descansar no centro. O castelo imponentíssimo e o espaço principal do Ecomuseu do Barroso que possui quatro núcleos no concelho completam o percurso nesta terra de festejos em todas as sextas-feiras, dias 13 do ano.
Assistindo ao longo do trajeto à transição de Trás-os-Montes para o Minho através das alterações evidentes no relevo, na flora, no casario e em todos os aspetos da paisagem, chega-se ao concelho de Vieira do Minho, célebre pela Barragem da Caniçada, a Albufeira do Ermal, os desportos outdoor como o telesky, a escalada, o trekking, a aldeia de Agra, os baloiços panorâmicos e muitos espigueiros em pleno Parque Nacional da Peneda Gerês.
A 103 continua depois para Póvoa de Lanhoso. Terra de artesãos laboriosos, especialmente na arte peculiar de transformar ouro em minuciosas obras de filigrana – admiráveis no Museu do Ouro e na Casa da Filigrana – destacam- -se ainda na sede de concelho, o altaneiro castelo e uma envolvente repleta de bons pretextos para fazer pequenas paragens: o Monte do Pilar, o Castro de Lanhoso, a Praia Fluvial de Verim, a Barragem das Andorinhas e o “Diverlanhoso”, um complexo de turismo aventura de equipamentos e paisagens de arrepiar.
No concelho de Braga, a cidade dos arcebispos, é impossível não visitar o Sameiro e a mais recente preciosidade do Porto e Norte classificada Património da Humanidade pela UNESCO: o Santuário do Bom Jesus do Monte e depois vaguear demoradamente pelas ruas do seu centro histórico para visitar a sublime Sé Catedral, as igrejas, os palácios e os vários museus da cidade.
Seguindo para Barcelos, cidade de cultura e património impressionante, é imprescindível conhecer o conjunto monumental do seu centro histórico, com as várias igrejas, cruzeiros, largos e ruas ornamentadas com grandes e coloridos Galos de Barcelos a lembrar em cada esquina que esta é a terra das artesãs da família Ramalho, conhecidas mundialmente pelas suas figuras de barro sui generis.
A Ponte Medieval “Peregrinos de Santiago”, o rio Cávado, o Monte da Franqueira com panorâmicas esplendidas, o Largo da sua feira semanal ancestral e o galo assado – prato lendário ligado ao “milagre” da Festa das Cruzes – acompanhado por Vinho Verde da região demarcada minhota tornam este concelho um epicentro da cultura e da história de todo o Norte de Portugal.
Depois de Barcelos, a Nacional 103 entra no concelho de Esposende, território atlântico muitíssimo procurado pelos amantes dos desportos náuticos e veraneantes de todas as latitudes. O Museu Marítimo, o Farol e o Forte de São João Baptista são lugares que testemunham a importância desta localidade na orla marítima portuguesa. O Parque Natural do Litoral Norte, o Estuário do Cávado, a Foz do Neiva e as praias de bandeira azul do concelho são alguns dos tesouros que não podem ser esquecidos neste roteiro rodoviário.
Esta impressionante estrada termina em S. Romão de Neiva, uma localidade pertencente ao concelho de Viana do Castelo de onde se destaca o magnifico Mosteiro beneditino de S. Romão de Neiva. Viana é uma das terras portuguesas com maior tradição etnográfica do país, graças aos seus trajes dos cortejos da Romaria da Senhora da Agonia e dos inúmeros grupos folclóricos do concelho, imortalizados no Museu do Traje. É uma capital de distrito plena, vaidosa do seu centro histórico de património vastíssimo e de todo um conjunto de atrações de serra e de mar. O Navio-Hospital Gil Eannes, o Parque Ecológico Urbano, o Monte de Santa Luzia, onde resplandece no alto o imponente santuário, a par dos miradouros, das praias e da sua famosa torta de Viana, tornam-na única em todo o litoral norte de Portugal.
Esta magnífica estrada descrita em grande parte num livro do Prémio Nobel da Literatura, José Saramago, é tudo isto e muito, muito mais. Atravessa várias áreas protegidas, reservas da Biosfera Transfronteiriça da UNESCO: Planalto Ibérico, Parque Natural do Douro Internacional, Parque Natural de Montesinho, Parque Nacional da Peneda Gerês, Parque Natural do Litoral Norte. É ladeada por diferentes rios: Douro, Angueira, Sabor, Baceiro, Tuela, Rabaçal, Tâmega, Beça, Rabagão, Cávado, Neiva e por diferentes serras: Montesinho, Padrela, Larouco, Gerês. Possui equipamentos de apoio em várias zonas da estrada, bem como cafés, restaurantes, esplanadas, unidades de alojamento e empresas de animação turística preparadas para dar asas à imaginação na preparação de atividades lúdicas de vários tipos e interesses.
A Entidade Regional Turismo do Porto e Norte de Portugal e os municípios que esta atravessa têm em mãos um trabalho de promoção e divulgação desta extraordinária estrada no país e no estrangeiro.
Saiba mais em: https://onortelaemcima.pt/
Publicado na edição de agosto da Revista Comunidades