A dimensão e impacto da emigração no país, nas palavras abalizadas de Vitorino Magalhães Godinho, uma “constante estrutural” da demografia portuguesa, têm impelido a construção nas últimas décadas, no seio dos territórios municipais, de vários núcleos museológicos dedicados à salvaguarda da memória do processo histórico do fenómeno migratório nacional.
É o caso, por exemplo, do Museu das Migrações e das Comunidades, sediado em Fafe, o Espaço Memória e Fronteira, localizado em Melgaço, o Museu da Emigração Açoriana, instalado na Ribeira Grande, e o Museu Português da Migração, concebido no Sabugal, que têm prestado um serviço público de grande relevância na dinamização da memória da emigração portuguesa.
A grande relevância do fenómeno migratório nacional e a importante função destes núcleos museológicos locais concorrem diretamente para que o projeto do futuro Museu Nacional da Emigração, cuja criação foi aprovada, como recomendação, pela Assembleia da República, a 27 de outubro de 2017, e cuja construção está prevista desde 2018 em Matosinhos, pressuponha uma estratégia cultural em rede.
Uma estratégia cultural em rede que pode e deve integrar outros relevantes espaços museológicos que têm sido construídos ao longo dos últimos anos por portugueses no estrangeiro, comummente figuras gradas das comunidades lusas, e que tal como no território nacional desempenham um papel valioso na perpetuação da memória da emigração portuguesa.
É o caso, por exemplo, da Galeria dos Pioneiros Portugueses, um espaço museológico em Toronto, impulsionado no presente pelo comendador Manuel DaCosta, um dos mais ativos e beneméritos empresários luso-canadianos, que se dedica à dinamização do legado dos pioneiros da emigração portuguesa para o Canadá. Nação da América do Norte onde vive e trabalha uma das maiores comunidades de emigrantes portugueses, e que se destaca atualmente pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico.
Ainda na esteira museológica sobre o fenómeno migratório no seio das comunidades lusas destaca-se o Museu da Imigração, em Lausanne, na Suíça, um dos principais destinos da emigração portuguesa, como comprovam os mais de 200 mil lusos que vivem e trabalham no território helvético. Fundado em 2005 pelo português Ernesto Ricou, artista plástico e professor de História de Arte reformado, o Museu da Imigração, considerado o mais pequeno da Suíça, procura desde então salvaguardar as memórias ligadas à migração.
Na mesma linha, sobressai desde o final do séc. XX o Museu Etnográfico Português em Sydney, na Austrália, inaugurado por um grupo de voluntários que têm procurado manter viva a identidade cultural da comunidade luso-australiana, cujas raízes remontam à segunda metade do séc. XX, e que é constituída atualmente por cerca de 55 mil portugueses disseminados por metrópoles como Perth, Melbourne ou Sydney.
Estes exemplos museológicos, e outros que se encontram ou possam vir a ser projetados no seio das comunidades lusas espalhadas pelos quatro cantos do mundo, enquanto valiosos espaços de perpetuação da memória e das histórias da emigração portuguesa, merecem a admiração e reconhecimento do país, e não podem deixar de integrar o trabalho em rede do futuro Museu Nacional da Emigração.