Foi recentemente inaugurado em Paris, no conhecido Boulevard de Batigolles, entre os bairros 17.0e8.0, com toda a solenidade adequada ao momento e na presença de inúmeras figuras públicas, a Promenade Aristides de Sousa Mendes, o conhecido Cônsul de Portugal em Bordéus quando decorria na Europa a ocupação nazi durante a II Guerra Mundial.
A inauguração desta Promenade como nome Aristides de Sousa Mendes é mais um elemento relevante para a projeção de Portugal no mundo, visto que a sua ação constitui um sólido exemplo moral universal para todas as gerações vindouras, pela sua coragem, humanidade, altruísmo e abnegação.
Vale sempre a pena recordar a sua ação. Em plena ocupação nazi, milhares de pessoas de vários países fogem em pânico da guerra e da possibilidade de serem deportadas para campos de concentração, sobretudo judeus, que eram os principais visados.
Inúmeras famílias reais, como a do Luxemburgo, receberam vistos de Sousa Mendes. Portugal era por essa altura um porto seguro para quem queria apanhar um barco ou um avião para outras paragens, designadamente para os Estados Unidos. A postura da ditadura salazarista era de uma neutralidade cúmplice com o regime nazi.
Salazar queria impedir o trânsito para Portugal de refugiados, diminuindo assim as possibilidades de salvação de milhares de pessoas, lançando-as para um destino trágico. Salazar envia as ordens para os postos diplomáticos e consulares pela, tristemente célebre Circular n° 14, que contém uma alínea específica para impedira atribuição de vistosa judeus e refere ainda a sua recusa a estrangeiros de nacional idade indefinida, russos e portadores de passaportes Nansen.
Aristides de Sousa Mendes ignorou as ordens de Salazar, bem consciente das consequências que a sua desobediência teria na sua vida e carreira, que acabou destruída.
Entre 17 e 25 de junho de 1940 passou vistos sem parar em Bordéus, Bayonne e Hendaya, salvando assim mais de 30 mil refugiados dos campos da morte e da barbárie nazi, entre os tais cerca de 10 mil judeus, como se refere num livro publicado sob a direção de Manuel Dias Vaz, um dos fundadores do Comité de Homenagem a Aristides de Sousa Mendes e um lutador por esta causa já há 35 anos.
O seu exemplo moral colocou-o na História já em 1966 como um dos “Justos entre as Nações”, reconhecimento do Estado de Israel pela ação de não judeus que salvaram judeus perseguidos pelo nazismo.
Também nos Estados Unidos começou a ser homenageado e invocado muitos anos antes de ser reabilitado pelo Estado Português e reintegrado na carreira diplomática, o que só aconteceu em 1988. Mas, independentemente dos tradicionais atavismos nacionais, Aristides de Sousa Mendes é um grande orgulho para Portugal.
Numa outra dimensão, merece todo o reconhecimento o imenso e extraordinário trabalho do Comité de Homenagem a Aristides de Sousa Mendes, nascido em Bordéus, pela vontade de um pequeno grupo de pessoas, entre os quais se destaca Manuel Dias Vaz. Tem sido ele e o comité do qual foi um dos fundadores que têm tido uma ação muito meritória de divulgação das ações exemplares de Aristides Sousa Mendes, promovendo conferências, encontros, edição de livros e publicações, indo às escolas, fazendo lobby para que o nome do Cônsul de Bordéus seja dado a ruas, praças e edifícios púbicos, como agora aconteceu, mais uma vez, em Paris.
A inauguração da Promenade no Boulevard de Batigpolles foi devidamente valorizada com intervenções dos presidentes da câmara de Paris e de Lisboa, Anne Hidalgo e Carlos Moedas, do Secretário de Estado da Internacionalização, Bernardo Ivo Cruz, em nome do Governo português, e de um dos netos do diplomata, Gerald Mendes, e a presença de eleitos e outras individualidades.
Sousa Mendes é indiscutivelmente um exemplo moral universal, mas o Comité Aristides Sousa Mendes e o trabalho incansável e pioneiro de Manuel Dias Vaz, quantas vezes, tão injustamente esquecidos pelas instituições, merecem igualmente todo o reconhecimento, por ao longo de décadas, elevarem assim o nome de Portugal.