Durante 20 anos, a brasileira Margarida Bonetti viveu escondida numa mansão em ruínas, em São Paulo, no Brasil, supostamente ocultando um passado esclavagista para fugir do FBI. A sua história, destapada por uma investigação jornalista, ganhou agora um novo capítulo depois do desaparecimento da “mulher da casa abandonada”.
O rocambolesco caso que o Brasil discute há semanas remonta à década de 1970, quando Margarida Bonetti e o seu marido René emigraram para os Estados Unidos, levando consigo uma empregada doméstica que tinham “recebido” como “presente de casamento” e a quem mantiveram em condições praticamente de escravatura durante duas décadas.
Vítima de agressões físicas e psicológicas e privada da sua liberdade durante anos, a empregada conseguiu fugir com a ajuda de alguns vizinhos na localidade americana de Gaithersburg, no estado do Maryland, e o seu testemunho levou o FBI a investigar o casal.
René Boneti foi condenado a 6 anos e 5 meses de prisão pela justiça americana, enquanto Margarida, herdeira de uma grande fortuna, conseguiu fugir para o Brasil, onde se refugiou numa mansão familiar em ruínas no caro bairro de Higienópolis, com um dos metros quadrados mais caros da capital paulista.
A história com contornos de livro foi resgatada pelo jornalista Chico Felitti e contada no podcast semanal “A Mulher da Casa Abandonada”, do jornal Folha de São Paulo, que se tornou no arquivo multimédia mais ouvido do Brasil na plataforma Spotify.
Após o lançamento do primeiro episódio, há um mês, os internautas começaram a interessar-se cada vez mais pela vida de Margarida Bonetti, uma carrancuda mulher que mal saia de casa e que, nas poucas ocasiões em que foi vista debruçada na sua janela, estava sempre com a cara coberta por um creme branco.
A mansão familiar onde viveu numa situação de exílio autoimposto tornou-se nas últimas semanas num ponto de peregrinação de dezenas de vizinhos e curiosos, que tiram fotos frente à “casa abandonada”, agora coberta de ervas daninhas e deteriorada pela passagem do tempo.
“Ouvimos no podcast a história da mulher que abusou de outra brasileira nos Estados Unidos e se escondeu aqui. Viemos sobretudo por curiosidade”, disse à Agência Efe Murilo Sans, que, acompanhada por um amigo, foi à mansão construída entre as décadas de 1920 e 1930 e onde foi pintada a frase “Esclavagista”.
“Vim porque tinha curiosidade de saber como era, se é realmente o que os meios de comunicação estão a contar (…) Ninguém sabe até que ponto o que é verdade e o que é mentira”, acrescentou em declarações o estafeta Alexandre Anglioto.
No meio da pressão mediática e popular, Bonetti abandonou recentemente a mansão e o seu paradeiro é atualmente desconhecido, aumentando a intriga que mantém parte do país em suspenso.
De acordo com a imprensa local, uma das irmãs de Bonetti disse à Polícia Civil de São Paulo que Margarida deixou o imóvel depois de uma bala ter atingido uma das janelas da mansão, algo que está a ser investigado pelas autoridades.
A enigmática “mulher da casa abandonada” nunca foi julgada pelo sucedido no Brasil. Para Felitti, a principal dúvida é saber se “os Estados Unidos não pediram a ajuda da Justiça brasileira ou se a Justiça brasileira recebeu o pedido e não se mexeu”.
Fonte: Agência EFE