A Frente de Imigrantes Brasileiras e Brasileiros em Portugal (FIBB) quer alertar sindicatos e partidos para dificuldades dos imigrantes que trabalham como estafetas de plataformas internacionais em Portugal, depois de um trabalhador brasileiro ter ficado em coma após uma agressão.
Este mês, mais um estafeta brasileiro em Portugal foi agredido por cliente, e está internado, em coma induzido, no Hospital Garcia de Orta, em Almada, com uma lesão cerebral, explicou Carlos Hortmann, um dos responsáveis da FIBB.
Carlos Hortmann, que é também professor e investigador do ISCTE, em Lisboa, sublinhou que “o objetivo mais imediato é que os estafetas sejam reconhecidos como trabalhadores, não como um empreendedor, que vai ficar rico”, mas que “eles possam ter o mínimo de vínculo laboral, ter garantias de subsídio de férias, porque na prática não têm garantias nenhumas”. A situação do “trabalhador que foi agredido é algo que passou do quantitativo para o qualitativo”, considerou.
“É o copo de água que transbordou. Porque há inúmeras violências para os trabalhadores que estão nesses ramos de estafetas de aplicações. Eles vivem em condições paupérrimas. Muitos pedalam 40 quilómetros por dia, trabalham 12 a 13 horas por dia, sofrem de xenofobia e discriminação”, além de agressões físicas, relatou. Para aquele responsável, a agressão daquele trabalhador veio “colocar em evidência um problema estrutural”, que é necessário resolver.
Quanto ao papel do movimento a que pertence, que nasceu há cinco meses e está agora a organizar-se como associação, “já escolheu como um dos seus espaços de intervenção ser mediador e político também, nesses problemas que vão aparecer”, referiu.
Carlos Hortmann sublinhou que até agora “não houve nenhuma posição da empresa”, para a qual trabalhava o imigrante brasileiro agredido.
“Este estafeta que foi entregar comida a casa de um professor de artes marciais (…) foi espancado, está internado, foi intubado e está em coma induzido”, salientou.
A sua própria condição vulnerável “de trabalho, de precarização, faz com que se tornem mais frágeis”, adiantou. “Então, acabam não fazendo denúncias, muitos estão indocumentados e têm medo de a polícia fazer alguma queixa”, referiu. Porque, “quem tem feito esse trabalho, não só em Portugal, mas na Europa, são sobretudo imigrantes”, muitos indocumentados, explicou.
Carlos Hortmann recorda que este é um trabalho que só exige que se tenha uma bicicleta e um telemóvel para o fazer. “Não precisa de estar documentado, de ter número da Segurança Social. E essa é que é a grande questão por trás disso”, concluiu.