Ho Iat Seng vai ser recebido ao mais alto nível em Portugal. Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa; primeiro-ministro, António Costa – primeira e terceira figuras do protocolo de Estado – estão já confirmados para a terceira semana de abril.
A revista Comunidades, que na semana passada adiantou esta visita, entretanto, apurou que está também em cima da mesa um encontro com o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva – segunda figura do Estado – embora nesta altura haja mais dificuldades em confirmar uma data concreta para esse encontro, numa agenda já tão preenchida do Chefe do Executivo de Macau em Lisboa. Facto é que fontes ligadas ao processo garantem que estão a ser feitos todos os esforços para que Ho Iat Seng seja recebido pelas três maiores figuras do protocolo de Estado em Portugal.
Uma honra tradicionalmente concedida apenas a poucos chefes de Estado estrangeiros. Seja como for, claramente uma agenda formal ao mais alto nível por parte de Portugal, que concede a Ho Iat Seng um tratamento bem acima do seu estatuto político.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, vai também receber Ho Iat Seng, embora neste caso esteja ainda por confirmar a data concreta, que terá de ser encaixada numa agenda que começa a tornar-se complicada nesta primeira deslocação do Chefe do Executivo fora da China.
Entretanto, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, está a envidar esforços para que Ho Iat Seng se desloque também à cidade do Porto. Uma operação para a qual o Palácio da Praia Grande já manifestou disponibilidade e que não tem qualquer contravapor da parte do Governo português. Neste caso, ainda não foi possível confirmar detalhes sobre esta deslocação.
Mas é um facto que Rui Moreira deu atenção especial à geminação do Porto com Macau, figura que raramente é explorada pelas cidades portuguesas. Relação, essa, que foi alimentada pelo governo de Chui Sai On, que foi ao Porto naquela que foi a última missão de um líder da RAEM em Portugal, com particular empenho nos anos seguintes por parte de Alexis Tam – primeiro como chefe de gabinete; depois como secretário para os Assuntos Sociais, Educação e Cultura do anterior Chefe do Executivo.
Esta agenda pesada, e especialmente relevante, que ainda não confirmada pelas autoridades da RAEM, nem de Portugal, está a ser vista em Macau como um sinal político “fortíssimo” por parte do Governo de Macau e da China, no sentido de retomar as relações diplomáticas com Portugal e o próprio conceito de Macau como plataforma lusófona.
Mas também em Lisboa esta deslocação tem uma semiótica política excecional. Se é verdade que tradicionalmente é dada especial importância em Lisboa às missões diplomáticas de Macau, “esta é uma altura particular, dado o longo interregno nas relações diretas provocado pelo isolamento de Macau” durante os anos da política de Covid-zero, que coincidiram com o mandato de Ho Iat Seng.
“Esperamos que Macau e a China percebam o sinal que Lisboa está a dar”, e que tem “sobretudo a ver com um sinal de boa vontade e uma aposta no futuro; e não propriamente com o que se passou nos últimos tempos”, alerta fonte portuguesa conhecedora do processo nos bastidores do poder em Lisboa. E é também um facto, alerta outra fonte em Lisboa, que “esta é uma resposta clara de Portugal à relação que quer ter com Macau, numa altura em que o ambiente político na Europa e na sua Aliança Atlântica cria bloqueios” no que toca às relações com a China.
Prova dessa relação tensa com a China, mas também de uma interpretação menos relevante sobre o papel de Macau nas relações internacionais, é a dificuldade que Ho Iat Seng enfrenta em conseguir encontros ao mais alto nível na sua deslocação a Bruxelas, onde vai estar no regresso a Macau.
Fonte ligada a esse processo adianta que “será praticamente impossível” que o Chefe do Executivo seja recebido pelo Presidente do Conselho, Charles Michel, ou mesmo pela presidente da Comissão Europeia, Ursula Gertrud von der Leyen. O alto representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrel, é nesta altura a melhor hipótese em cima da mesa. Ainda assim à espera de confirmação.