Bordéus, assim como Bayonne e Hendaia, homenageiam hoje o antigo cônsul português que salvou milhares de pessoas vindas de França durante a Segunda Guerra Mundial numa “homenagem constante” que a França presta a Aristides de Sousa Mendes.
Associando-se às celebrações da entrada no Panteão Nacional, em Lisboa, Bordéus realiza hoje uma cerimónia com a presença de Geneviève Darrieussecq, ministra delegada à Memória e aos Antigos Combatentes, assim como das principais autoridades regionais no Jardins de Mériadeck, em frente ao busto do antigo cônsul português.
“Milhares de pessoas salvas pelo Aristides de Sousa Mendes tinham nacionalidade francesa e, por isso, é a França que homenageia este feito. A presença da ministra é o reconhecimento deste facto e as autoridades francesas sempre homenagearam o diplomata português. É constante”, disse Manuel Dias, vice-presidente do Comité Aristides de Sousa Mendes em Bordéus.
As homenagens têm-se multiplicado no mês de outubro com uma cerimónia no domingo na sinagoga de Bordéus e na segunda-feira uma missa na catedral Saint André de Bordéus, celebrada arcebispo Jean-Paul James. Na segunda-feira foram ainda inauguradas duas placas na cidade, uma na Rua Aristides de Sousa Mendes e outra na escola Aristides de Sousa Mendes, ambas situadas num novo bairro da cidade.
“O que se tem lembrado é a ação extraordinária do cônsul Aristides de Sousa Mendes, as pessoas que ele pôde salvar e o papel de Portugal na Segunda Guerra Mundial, que acolheu cerca de 500 mil refugiados, sendo lugar de trânsito para muitos”, descreveu Manuel Dias.
Também as autoridades portuguesas se associam a esta homenagem, abrindo hoje o consulado-geral de Portugal em Bordéus para a organização de diversas atividades como apresentação de obras, ateliers de artes plásticas e sessões de canto e leituras em homenagem ao antigo cônsul.
Em Bayonne, onde Aristides de Sousa Mendes passou parte dos vistos que salvaram quase 30 mil pessoas, haverá uma cerimónia junto ao antigo consulado português na cidade. Já em Hendaia, uma outra cerimónia está prevista junto à placa em homenagem ao cônsul português, que se situa à entrada da ponte fronteiriça entre França e Espanha.
Durante todo o mês de outubro, o Comité Aristides de Sousa Mendes em Bordéus organiza a exposição “1940, l`exil pour la vie”, onde são mostrados arquivos, documentos e vídeos em francês e português que reconstituem a vida e feitos do diplomata. Esta exposição coma a curadoria de Marie-Christine Volovitch-Tavarès, Claudia Ninhos e Victor Pereira pode ser visitada de forma gratuita em Cenon, nos arredores de Bordéus, até 31 de outubro.
Para Manuel Dias, co-organizador de muitos destes eventos, o trabalho de memória continua mesmo após a entrada de Aristides de Sousa Mendes no Panteão.
“A nossa ação é pedagógica, nós trabalhamos todos os anos com entre 800 a 900 alunos para recordar o que aconteceu neste região, há um trabalho de memória e pedagogia. O trabalho da memória é constante, sobretudo neste período difícil que atravessamos”, concluiu.
O antigo Cônsul-Geral de Portugal em Bordéus, recebe esta terça-feira, em Lisboa, honras de Panteão Nacional.
A cerimónia teve início às 11 horas. Contará com a presença do presidente da República, do primeiro-ministro e do presidente da Assembleia da República, bem como de membros da família de Aristides de Sousa Mendes.
Na agenda está o descerramento de uma placa simbólica na Sala 2, onde se encontram sepultados o general Humberto Delgado, a poetisa Sophia de Mello Breyner, o escritor Aquilino Ribeiro e o futebolista Eusébio da Silva Ferreira. Será a primeira homenagem do género feita pelo Parlamento no Panteão.
A decisão de não trasladar o corpo de Aristides de Sousa Mendes para Lisboa foi tomada pelo Parlamento, de modo a respeitar o desejo do próprio. “Quis ser sepultado na terra natal, junto da família”, explica Delgado Alves. O diplomata, que morreu em 1954, está no cemitério de Carregal do Sal, distrito de Viseu.
Em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, Aristides de Sousa Mendes, então cônsul de Portugal em Bordéus, França, emitiu vistos que salvaram milhares de pessoas do Holocausto, desobedecendo às ordens do então presidente do conselho, António de Oliveira Salazar, que liderava o governo.