O primeiro-ministro português, António Costa, vai estar dois dias em Paris para participar na Cimeira sobre o Financiamento das Economias Africanas, organizada pela França, onde também se vai encontrar bilateralmente com líderes africanos.
O líder do Governo português chega ao fim da tarde desta segunda-feira à capital francesa para um jantar servido no Eliseu, tendo como anfitrião o presidente francês, Emmanuel Macron. À mesa, António Costa vai sentar-se com mais de 15 líderes de países africanos, incluindo o presidente de Angola, João Lourenço, e o presidente de Moçambique, Filipe Nyusi.
Na manhã de terça-feira, António Costa vai encontrar-se bilateralmente com Filipe Nyusi, com o presidente do Egito, Abdul Fatah as-Sisi, com o presidente tunisino, Kais Saled, e com o chefe de Estado do Ruanda, Paul Kagame.
A tarde será dedicada à cimeira, onde, entre outras temáticas, se vai discutir o financiamento da dívida africana e o futuro do setor privado no continente, com a França a apostar no envolvimento dos parceiros internacionais e na criação de um pacote de “apoio massivo” às economias africanas.
Para além dos líderes africanos, esta reunião vai ainda contar com a presença física de líderes europeus como o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, ou o líder do governo espanhol, Pedro Sanchez.
Ao final da tarde, António Costa vai encontrar-se com João Lourenço, encerrando assim a sua agenda oficial na capital francesa.
Tanto Filipe Nyusi como João Lourenço vão também ter encontros bilaterais com o presidente Emmanuel Macron. Na agenda de João Lourenço está ainda um encontro com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa.
A Cimeira sobre o Financiamento das Economias Africanas surgiu na sequência da divulgação de um pedido de apoio dos líderes africanos, a 15 de abril do ano passado, no Financial Times e no Jeune Afrique, afetados não só pelo impacto da pandemia na saúde dos cidadãos, mas também na economia, que viu as debilidades já existentes agravadas pelas medidas de restrição necessárias para impedir a propagação do vírus.
Ainda hoje, antes desta cimeira, a França vai promover a conferência internacional de apoio à transição sudanesa, onde o presidente do Conselho de Soberania da República do Sudão, Abdel Fattah Al-Burhan, e o primeiro-ministro sudanês, Abdallah Hamdok, se vão encontrar com diversos líderes africanos e com Emmanuel Macron.
Os Presidentes de Moçambique e de Angola estão entre os convidados da cimeira que visa a estimular o crescimento económico. Analistas divergem sobre os reais objetivos do evento e criticam França.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, será o anfitrião de vários líderes africanos, incluindo o chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, e o Presidente angolano, João Lourenço.
Entre os convidados estão ainda o presidente da Comissão da União Africana e o chefe do Banco Africano de Desenvolvimento, bem como alguns líderes do G7, G20, Fundo Monetário Internacional (FMI) e outras instituições financeiras.
A pandemia de Covid-19 é o principal assunto do momento, mas quando se trata das relações franco-africanas, outras questões ganham prioridade, como os legados coloniais e o franco CFA.
Segundo a DW, alguns especialistas os critérios usados para convidar os participantes da cúpula foram considerados controversos. “O Presidente Macron enviou convites para as economias africanas mais significativas e certamente para aquelas que fazem parte da francofonia”, disse Roland Marchal, um dos maiores especialistas em relações franco-africanas da Universidade Sciences Po, em Paris.
“Será um erro supor que o objetivo de França é apenas reunir os seus clientes, membros da francofonia, seus clientes tradicionais no continente”, acrescentou o analista.
Para além da francofonia
Segundo Roland Marchal, o Presidente francês, assim como seus antecessores, François Holland e Nicholas Sarkozy, tentam estender laços de amizade com países que a França não colonizou, como Etiópia, Quénia, Nigéria e África do Sul, considerados os países mais emergentes do continente africano.
“Há a questão das ex-colónias por trás disso”, diz o deputado francês Sébastien Nadot. “Países com disputas em andamento com a França não estarão presentes, caso contrário, isto seria percebido como uma provocação para a diáspora na França. Por exemplo, Sassou Nguesso [Presidente da República do Congo] não estará lá”, disse Nadot .
Oportunismo?
O objetivo principal da cúpula é “dar um grande impulso” aos países atingidos pela Covid-19. “Claro, é uma oportunidade para África, pois, neste momento, o mundo inteiro, especialmente o continente africano, está no limite”, disse Albert Rudatsimburwa, especialista do Ruanda sobre a região dos Grandes Lagos.
Para a analista camaronesa Bergeline Ndoumou, há questões mais urgentes que afetam o continente e que a atual cúpula não aborda. “É apenas mais uma reunião inútil, uma perda de tempo e de recursos, e que é mais benéfica para França do que para África”, afirma.
“Eles têm realizado inúmeras cúpulas, mas como essas cúpulas beneficiaram África? Temos água potável? Boas escolas ou instalações médicas? Como as cúpulas impactaram a governança em nossos países africanos? Ainda temos maus líderes”, disse Ndoumou, sublinhando que tais reuniões são uma forma de França lembrar aos países de África que ainda são colónia.
“É apenas uma manobra de Macron para solidificar seu domínio no continente africano”, acrescentou. Não há uma indicação clara se a cúpula vai discutir questões políticas, sociais e de governança no continente africano.
“A respeito da Covid-19, não tenho certeza se haverá qualquer discussão significativa sobre isso em Paris. Sei que a Organização Mundial da Saúde não estará presente. O Fundo Monetário Internacional estará lá, mas não sabemos quem. É óbvio que a Covid-19 não é a prioridade”, disse o parlamentar francês Sébastien Nadot.
Fio de esperança
“Atualmente, França não tem poder financeiro suficiente para ajudar os Estados africanos”, disse Roland Marchal, da Universidade Sciences Po, ao sublinhar a necessidade de França contar com o suporte de outras potências ocidentais.
“Usaremos esta oportunidade para examinar os Estados africanos que têm dívidas enormes com a China. Países como Zâmbia e Djibouti estão em apuros. O Quénia estará em apuros em breve. Portanto, estamos a tentar ajustar o défice comercial dos países africanos com a China”, explicou o analista.
O deputado francês Sébastien Nadot acusa França de ser pretensiosa ao tentar resolver os problemas de África ao mesmo tempo em que não consegue resolver os seus próprios e acrescenta que pode haver um vislumbre de esperança para os africanos, especialmente no que diz respeito ao cancelamento da dívida e à questão do franco CFA.
“Mas os líderes africanos têm que organizar por unanimidade seus países para encontrar uma moeda alternativa que possam usar. Se estão a esperar uma solução de França ou da Europa, será uma solução de fora e não claramente apenas para os interesses dos países de África”, diz.