Exposição “Valkyrie Mumbert” da artista portuguesa Joana Vasconcelos patente no MassArt Art Museum (MAAM) em Boston.
Quando o MassArt Art Museum (MAAM) encerrou há um ano devido à pandemia, os seus responsáveis ao tentarem encontrar soluções práticas para a súbita interrupção de atividades acabaram por reformular o programa “Looking to Learn,” existente há 25 anos, que tradicionalmente servia escolas na área de Boston, convertendo-o num modelo virtual, que não só é mais abrangente como também é oferecido pela primeira vez na língua portuguesa.
Agraciada com um bolsa cultural, a brasileira Michaela Blanc, que está a trabalhar no MAAM e a frequentar um curso pós-graduação em “Museum Education” na Tufts University, adaptou o programa para servir escolas que ensinam a língua e cultura portuguesas.
“O objetivo é dar a conhecer o museu de arte e artistas contemporâneos aos estudantes,” informou Blanc, que é licenciada em História da Arte pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e trabalhou no Museu de Arte e no Museu de Arte Moderna antes de se mudar para Boston em 2017.
Blanc reformou o programa em torno da instalação “Valkyrie Mumbet” criada pela artista portuguesa de renome mundial Joana Vasconcelos e inaugurada no MAAM em fevereiro de 2020. Esta primeira exposição individual de Joana Vasconcelos nos EUA presta homenagem a Elizabeth “Mumbet” Freeman, a primeira mulher escravizada a abrir e a ganhar um processo legal por sua liberdade sob a recém-promulgada Declaração de Direitos da Constituição de Massachusetts em 1781.
“É um projeto muito dinâmico,” adiantou Blanc. “Os estudantes fazem muitas perguntas. Falamos de cores, formato, design e herança pessoal. Eles ficam muito interessados e muito entusiasmados.”
O programa é composto por duas iniciativas. A primeira, designada por “A Closer Look,” que consiste numa visita virtual, guiada pela Diretora Executiva do MAAM, Lisa Tung, pela obra de arte de Joana Vasconcelos. Através da visita é possível entender como a peça surgiu, as suas ligações históricas, assim como o significado especial que a obra tem para a artista.
A outra iniciativa, designada por “Another View: Want to see more?” estabelece uma visita 3D pelas obras contidas nas instalações do MAAM. Através desta iniciativa é possível explorar as obras de todos os ângulos, conhecer a exposição em versão bilingue e ter acesso a atividades de criação de artes recreativas.
“Looking to Learn” encoraja os estudantes a usar a sua imaginação e a desenvolver competências como a colaboração, pensamento crítico, questionamento e reflexão. Inspirando-se em “Valkyrie Mumbet,” Blanc utiliza as atividades para suscitar conversas sobre feminismo, identidade e racismo sistémico.
“Notámos imediatamente que esta era uma grande oportunidade para falarmos sobre a história de Massachusetts e ligá-la a temas oportunos e a cidadãos globalmente conscientes,” sublinhou Blanc. “Foi assim que surgiu a componente bilingue.”
Em parceria com o Consulado Geral de Portugal em Boston, com a Coordenação do Ensino Português nos EUA e com o Camões, I.P., o programa está a ser oferecido a alunos do 4º ao 12º ano a frequentar aulas de Português, tendo até ao momento sido utilizado em 11 escolas de Massachusetts e Rhode Island.
O programa bilingue Olá da King Open School em Cambridge, a Escola Secundária de Somerville, a Paul Baird Middle School em Ludlow, a Manthala George, Jr. Global Studies School em Brockton, a Discovery Language Academy em New Bedford e a Escola Portuguesa do Clube Juventude Lusitana em Cumberland são algumas das instituições que têm beneficiado deste programa.
“Este programa virtual é único, até porque foi pensado e realizado em língua portuguesa e permitiu, numa situação de pandemia em que muitos museus se encontram encerrados, como foi o caso do MAAM, bem como muitas das escolas, que passaram a funcionar em regime à distância ou híbrido, fazer chegar a exposição da Joana Vasconcelos a todas as comunidades educativas, bem como divulgar outros projetos educacionais do MAAM,” adiantou João Caixinha, Coordenador do Ensino de Português nos Estados Unidos.

“É nosso objetivo promover a língua portuguesa, mas também a cultura portuguesa e as culturas lusófonas. Para além disso, este projeto permite a realização de atividades mais lúdicas e criativas com os professores e os alunos em língua portuguesa e ao mesmo tempo explorar outras dinâmicas no mundo das artes,” frisou Caixinha. “O MAAM foi sem dúvida um grande parceiro nesta iniciativa porque na realidade é uma instituição que promove atividades de âmbito educacional e só podemos agradecer à Diretora Lisa Tung e à Michaela Blanc por nos apoiarem a 100%.”
A próxima etapa será expandir o programa para chegar até Washington D.C. e outros estados, como Connecticut, Nova Iorque, Nova Jersey e Califórnia.
“Estamos a preparar-nos para avançar a nível nacional,” informou Blanc. “Conseguimos encontrar um lado bom [nesta pandemia]. Percebemos que existe uma enorme oportunidade de ligar estudantes não só em Massachusetts mas em todo o território dos EUA.”
Joana Vasconcelos, residente em Lisboa, onde tem o seu estúdio, é conhecida internacionalmente pelas suas instalações de grande escala. A sua arte celebra a força de trabalho das mulheres, expõe preconceitos sociais e interroga funções de género.
“Uma vez que encontrámos tanta ligação com a comunidade de língua portuguesa através da exposição Joana Vasconcelos, que ainda está patente, e creio que a dada altura voltaremos a acolher visitantes na galeria, espero que haja um grande interesse em voltar a apresentar artistas internacionais,” disse Blanc. “Vimos esta pandemia como uma oportunidade de alcançar públicos diferentes e mais diversificados, o que é muito importante.”
Inaugurado em fevereiro de 2020, o MAAM é o mais recente museu de arte contemporânea de Boston e tem entrada gratuita.
O MAAM também lançou recentemente versões do seu conteúdo “Make with MAAM” em português e espanhol, que poderão ser acedidas aqui.
“Estou realmente orgulhosa desta componente trilingue,” disse Blanc. “Penso que é algo que planeamos continuar a fazer no futuro, independentemente do que o futuro nos traga.”