O coração do rei “Libertador” foi recebido com honras de chefe de Estado no Brasil, protagonizando um dos momentos altos das celebrações dos 200 anos da Independência.
Com o presidente Bolsonaro a presidir à receção no Palácio do Planalto, em Brasília, o coração embalsamado do primeiro imperador do Brasil, devidamente protegido numa urna de ouro de nove quilos, foi acolhido com grande pompa e circunstância: um enorme desfile de soldados com trajes de época, um espetáculo aéreo e uma procissão solene.
A relíquia guardada em Portugal há 187 anos está agora emprestada ao Brasil por ocasião das celebrações dos 200 anos da independência do país.
É a primeira vez que o coração do monarca responsável histórico pela independência do país, viaja até ao Brasil, onde os restantes restos mortais se encontram sepultados na Cripta do Monumento à Independência, no Museu do Ipiranga, em São Paulo. Foi ali perto que o então príncipe regente teria dado o famoso Grito do Ipiranga, a 7 de setembro de 1822 “Independência ou morte”.
Coração em Portugal, corpo no Brasil
Por que razão ficou o coração do rei D. Pedro IV de Portugal e Pedro I do Brasil, ficou em Portugal, onde faleceu em 1834, e os restantes restos mortais foram trasladados para o país além atlântico que tornou independente?
O rei “Libertador” ou Rei “soldado” faleceu em Portugal, onde regressou após abdicar do trono no Brasil, a favor do seu filho, em abril de 1831. No Brasil D. Pedro I esteve no torno durante nove anos.
Na véspera da sua morte, a 23 de setembro de 1834, o monarca declarou querer confiar o seu “coração à heroica cidade do Porto, theatro da minha verdadeira glória…”, segundo refere a Irmandade da Lapa, onde o seu coração embalsamado tem estado guardado. “Sua filha D. Maria II escolheu a Irmandade da Lapa, como fiel depositária do coração do mui nobre rei por no decorrer do Cerco do Porto, ser na Igreja da Lapa que D. Pedro encontrava recolhimento e assistia às missas militares”, lê-se no site desta irmandade.
Em testamento, o rei pediu ainda que os seus restantes restos mortais fossem levados para o Brasil. O que só viria a acontecer em 1972, aquando do aniversário dos 150 anos da independência. Na ocasião, a chegada dos restos mortais do monarca ao país que tornou independente também foram recebidos com honras dignas de um chefe de Estado.
Em 1972, aniversário de 150 anos da independência, o corpo de Pedro foi levado para o Brasil – conforme havia pedido em seu testamento – acompanhado de grande pompa e honras dignas de um chefe de estado.
No Brasil até 8 setembro
Agora, até 7 de setembro, o coração do “Libertador” ficará em exibição controlada até às comemorações do bicentenário da independência brasileira, em 07 de setembro.
Após as cerimónias de terça-feira, a urna de ouro voltou para Itamaraty. No Brasil, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, estará presente em vários eventos das comemorações dos 200 anos da Independência. Quinta-feira de manhã também presidirá, no Instituto Rio Branco, a uma palestra intitulada: “Dois povos unidos por um coração – o significado político e simbólico de D. Pedro para Portugal e o Brasil.”
Apesar de o autarca do Porto regressar a Portugal, o coração de D. Pedro continuará a ser acompanhado pelo comandante da Polícia Municipal do Porto, António Leitão da Silva.
O coração de D. Pedro regressa à cidade do Porto em 09 de setembro, ficando novamente em exposição nos dias 10 e 11, antes de voltar a ser guardado a cinco chaves.
Milhares de visitantes no Porto
Antes de viajar temporariamente para o Brasil, o coração do “rei soldado” raras vezes saiu do mausoléu da capela-mor da igreja da Lapa, no Porto, desde 1835. Contudo, no fim-de-semana de 20 e 21 de agosto, o coração esteve em exposição, numa iniciativa aberta ao público que nos dois dias foi visitada por 6.294 pessoas.
Para retirar o coração do pequeno caixão de mogno guardado no mausoléu são precisas cinco chaves, mil cuidados e uma complexa operação.
Conservado em formol dentro de um recipiente de vidro e, este, dentro de um escrínio de prata dourada, o coração D. Pedro I do Brasil e IV de Portugal foi admirado em Portugal e agora vai continuar a sê-lo no Brasil.