O maior partido de direita em França, Os Republicanos, já só tem dois candidatos a deputados em Paris, preparando-se para um grupo mais pequeno na Assembleia, uma refundação pós-eleições e um partido “decisivo” para Emmanuel Macron.
“O nosso grupo será um grupo decisivo no seio da Assembleia Nacional. Quando se é um grupo de uma família política responsável e construtiva, será um bloco ‘pivot’ na Assembleia Nacional”, disse Rachida Dati, antiga ministra da Justiça e presidente da câmara do sétimo bairro de Paris, em declarações à agência Lusa.
O desgaste de Os Republicanos começou em 2017, com o presidente fracês, Emmanuel Mácron, a chamar para o seu Governo figuras importantes do partido e seduzindo alguns deputados de direita. No total, há cinco anos, este partido conseguiu eleger 112 deputados, com as sondagens a indicarem que no próximo domingo, o grupo poderá ficar reduzido a 65, na melhor das hipóteses.
Brigitte Kuster foi eleita há cinco anos pelo 4.º círculo eleitoral de Paris, que abrange o 17.º e uma parte do 16.º bairro, mas poderá não ser reeleita. Passou à segunda volta com uma diferença de 13% face à primeira colocada, Astrid Panosyan-Bouvet, cofundadora do partido República em Marcha de Emmanuel Macron.
“É uma situação que nunca tínhamos vivido. Já só éramos dois deputados em Paris e agora estamos confrontados com duelos que nos são desfavoráveis, portanto pagamos o preço do que se passa a nível nacional com esta ideia de voto útil para contrariar os extremos, uma ideia muito promovida pelo Presidente”, afirmou a candidata.
No entanto, na noite em que a agência Lusa esteve com Kuster, um duro golpe afetou a deputada. Nicolas Sarkozy, um aliado de 40 anos, recebeu a sua adversária dando assim um apoio tácito à força política de Emmanuel Macron. A indignação reinava entre as cerca de duas centenas de pessoas que vieram apoiar a candidata na reta final da campanha.
“As pessoas que pensaram que nos iam destruir não foram bem-sucedidas. Temos ainda um partido sólido, temos grandes personalidades, temos muitos eleitos locais que conhecem bem o nosso território. É com essas pessoas que vamos reconstruir o partido”, declarou Rachida Dati, que veio apoiar Brigitte Kuster.
De forma a reforçar este final de campanha, também Michel Barnier, negociador do Brexit, esteve nesta ação de campanha, e, questionado pela Lusa, alertou para os perigos de um Governo de esquerda em França.
“Esta eleição legislativa é fundamental para a Europa, será que o nosso país vai continuar a ser um país europeu? Não queremos uma Europa ingénua, a Europa precisa de mudanças, mas temos de evitar um novo Brexit. Há sempre um risco e, depois de ter gerido o Brexit como negociador, acho sempre que temos de ter cuidado”, disse Michel Barnier.
Mesmo com um grupo reduzido na Assembleia Nacional, Os Republicanos, que continuam em maioria no Senado e no poder local, podem ter um papel importante caso Emmanuel Macron não consiga uma maioria absoluta, servindo assim para viabilizar leis nos próximos cinco anos e também negociar medidas que consideram importantes, face a uma esquerda que vai crescer exponencialmente.
“Podemos ter um papel muito importante em certas leis, que nos pareçam úteis para o nosso país, como já fazíamos. Penso também que o Governo tem interesse em ir mais além do que aconteceu até agora. Um Governo tem de se fazer respeitar, o respeito pelo poder em França não existe”, justificou Brigitte Kuster.
Após as legislativas e a derrota nas presidenciais, o partido vai ter de encontrar uma nova liderança que permita um horizonte viável para 2027. Kuster teme que o sistema de primárias não seja o mais adequado e defende que o líder que se apresente como candidato aos franceses deve já estar no poder nessa altura.
“Temos de trabalhar. Talvez o nosso calendário não seja bom, escolher alguém só alguns meses antes das eleições não funciona. Temos até às eleições europeias para nos refundarmos e depois precisamos de um chefe incontestado para os três anos seguintes”, concluiu.
A segunda volta das eleições legislativas decorre no domingo, num resultado que pode retirar a maioria absoluta a Emmanuel Macron, com a coligação de esquerda Nova União Popular Ecologista e Social (Nupes) a bater-se por uma maior representação na Assembleia Nacional nos próximos cinco anos.