Lusodescendente quer homenagear militares portugueses na cidade francesa de Richebourg em Abril de 2018, no centenário da batalha de La Lys.
A comissária da exposição Racines [Raízes], Aurore Rouffelaers, está à procura de descendentes de portugueses que combateram na Primeira Guerra Mundial para uma mostra que vai estar patente de 6 de Abril a 7 de Maio de 2018, na cidade francesa de Richebourg.
O objetivo é juntar objetos centenários e filmar testemunhos de filhos, netos ou bisnetos de soldados que combateram nas trincheiras da Grande Guerra, no norte de França, no âmbito das comemorações do centenário da Primeira Guerra Mundial e na cidade que acolhe o cemitério militar exclusivamente português de Richebourg L’Avoué, onde estão sepultados 1.831 militares.
A exposição vai estar aberta, nomeadamente, a 9 de Abril de 2018, no centenário da Batalha de La Lys, considerada como “a Alcácer Quibir do século XX” e em que morreram cerca de dois mil soldados do Corpo Expedicionário Português (CEP), nas vésperas do render de tropas.
A história de amor, a poucos quilómetros da linha da frente, há 100 anos, entre o bisavô português e a bisavó francesa, está na origem do interesse desta lusodescendente pela participação de Portugal na guerra, assim como os relatos que sempre ouviu da avó, Felícia Glória d’Assunção Pailleux, a mulher que nos últimos 40 anos tem sido a porta-estandarte de Portugal nas comemorações anuais da Batalha de La Lys.
“A ideia desta exposição é procurar os descendentes dos soldados portugueses que escolheram casar com francesas e ficar em França. É um trabalho difícil, porque já passaram 100 anos e, com os casamentos pelo meio, os apelidos portugueses perderam-se. O meu avô era Assunção e eu sou Rouffelaers”, explicou a comissária, sublinhando que a exposição é apoiada pelo Centro de Turismo de Béthune-Bruay.
Para Aurore Rouffelaers, “o importante é recolher testemunhos dos filhos da guerra”, entre os quais está a avó, de 90 anos, e que é a terceira de 15 filhos de João Manuel da Costa Assunção, um português de Ponte da Barca, que se apaixonou por Mélanie, uma francesa que morava numa granja a 15 quilómetros da frente de batalha.
Quando a guerra terminou, João Assunção ainda foi até ao barco para regressar a Portugal, mas arrependeu-se e foi bater à porta da mãe de Mélanie, onde ficou a dormir no corredor até casarem. Alguns anos depois, o português adquiriu a nacionalidade francesa e abriu uma oficina de bicicletas.
“A ideia é mostrar a história local, misturada com a história de Portugal, e tentar perceber se o facto de se ter pais portugueses pode ou não mudar uma vida. A minha avó é o exemplo perfeito de que sim, pode mudar uma vida”, contou.
Além dos filhos, netos e bisnetos dos soldados portugueses que casaram com uma francesa e ficaram a viver em França, Aurore Rouffelaers também quer testemunhos dos que procuram antepassados que tenham vivido uma história de amor fugaz durante a guerra e regressado a Portugal, tendo deixado filhos em França.
“Quero testemunhos sobre a história destes soldados, sobre a história da guerra e sobre como é que, no norte de França, uma sociedade particular nasceu destas raízes portuguesas”, explicou.
Depois da exposição, a organizadora quer colocar os testemunhos numa plataforma acessível aos investigadores, porque considera que é um tema que ainda não foi estudado.
Aurore Rouffelaers, de 38 anos, é também a coordenadora do Centro de Turismo de Béthune-Bruay para as comemorações do centenário da Primeira Guerra Mundial e está a trabalhar em coordenação com o cônsul honorário de Portugal em Lille, Bruno Cavaco.
A lusodescendente é ainda comissária da exposição Amores Suspensos, que vai estar patente de 6 de abril a 7 de maio no centro de turismo de Lillers, e que vai mostrar cerca de 150 cartas de amor de soldados portugueses.