O escritor cabo-verdiano Germano Almeida, homenageado deste ano no festival literário Escritaria, disse em Penafiel, não gostar da expressão lusofonia, considerando que a “língua portuguesa não representa uma cultura lusófona”.
“Eu não gosto muito da expressão lusofonia. Somos escritores de diversos países que usam a língua portuguesa como língua de contacto, como língua de expressão, mas não é uma cultura lusófona”, afirmou na conferência de imprensa do evento que teve lugar esta quinta-feira no museu municipal daquela cidade do distrito do Porto.
O escritor, que este ano é homenageado no festival Escritaria, a decorrer até domingo, acrescentou: “Nós temos muitos pontos comuns, obviamente, sobretudo Cabo Verde, que é um país feito pelos portugueses. Mas as ilhas, não só a sua orografia, mas sobretudo a ausência de meios de vida, as faltas de chuva, sobretudo, fizeram de nós pessoas diferentes”.
Segundo o autor, “é isso que tentamos traduzir na literatura e na música”.
“Isto (língua comum) pode ser um elemento importante para os países de expressão portuguesa, mas não nos faz lusófonos; ‘lusógrafos’ sim”, observou aos jornalistas.
Sublinhando que teve sempre com Portugal, onde estudou e fez serviço militar, “uma relação ótima”, ressalvou que “os portugueses não fizeram dos cabo-verdianos portugueses”.
“Portugal foi sempre uma presença estranha. Nunca me senti português, sempre me afirmei cabo-verdiano. Mas, se um dia Cabo Verde desaparecesse, o país que eu adotaria seria Portugal, mais nenhum outro”, sublinhou.
O ministro da Cultura de Cabo Verde, Abraão Vicente, vai estar em Penafiel, neste festival.
O governante cabo-verdiano participará na conferência “O papel da Lusofonia | À conversa com Germano Almeida e Abraão Vicente”, além de outras iniciativas incluídas na programação oficial do festival, até 31 de outubro, adiantou o presidente da câmara de Penafiel, Antonino Sousa.
O festival literário Escritaria de Penafiel inclui dezenas de atividades dedicadas ao livro, ao teatro, a exposições, música e artes de rua.
“Germano Almeida, um dos mais proeminentes escritores em língua portuguesa, terá silhueta e frase em Penafiel para memória futura, a par com os anteriores homenageados”, assinala a organização.
No sábado (30), será lançado o novo romance de Germano Almeida, “A Confissão e a Culpa”, o último volume da sua “Trilogia do Mindelo”.
Lídia Jorge, Pepetela, Manuel Alegre, José Saramago, Alice Vieira, Mário de Carvalho, Mário Cláudio, Agustina Bessa-Luís são alguns outros escritores homenageados em edições anteriores do festival.