Pelas 11:00, a fila para votar começava a formar-se logo ao início da Rua de Alcolena, com poucas sombras para as pessoas se refugiarem do calor que já se fazia sentir.
A polícia chegou ao local pelas 06:00, altura em que também começaram a chegar os primeiros eleitores, que só começariam a votar dali a duas horas, quando as urnas abriram.
Logo nesse primeiro momento, houve que acalmar os ânimos, disse fonte policial, que pacientemente ouvia as queixas de vários eleitores, desde aqueles que diziam que tinham de ir trabalhar aos que apontavam o dedo a alegados fura-filas. “Depois fizemos uma caixa de segurança na entrada e ficou tudo calmo e ordeiro”, disse a polícia.
“Vota! Bu voto ta fassi diferença”, crioulo que constata a diferença que pode fazer um voto, é a frase inscrita na ‘t-shirt’ de um dos voluntários que, na entrada, tentam ajudar a agilizar o processo.
“A polícia teve que intervir e começou a organizar de melhor forma e agora está a andar devidamente”, relatou um eleitor que afirmou não duvidar de que “vale a pena” a espera para votar, esperando “o melhor para o país e para o povo guineense”.
Entretanto, Florzinha Monteiro, cônsul da Guiné-Bissau em Portugal, faz “um balanço positivo” na votação. “Ainda não tenho ideia da taxa de afluência, mas arrisco dizer que, pela vontade que observa junto à embaixada, “vai ultrapassar os 50%”. Das 20 mesas de voto existentes em Portugal, 17 situam-se em Lisboa e arredores, duas no Algarve e uma no Porto.
Mas “a grande maioria” dos 7.789 guineenses recenseados em Portugal vota nas sete mesas que existem dentro da embaixada, destaca a cônsul, para o dia de hoje também presidente da Comissão Nacional de Eleições da Guiné em Portugal.
“Temos muita gente aqui porque todo o mundo veio recensear-se aqui e como o processo de votação é votar onde se recenseou, é por isso que temos esta multidão toda”, explica.
Na mesa 3, onde estão registados 388 eleitores, o fluxo de voto faz-se com alguma rapidez e cumprem-se os critérios da prioridade para crianças pequenas, por exemplo.
Depois de confirmado o nome nos cadernos, os eleitores dirigem-se a uma espécie de palanque, tapado por um pano típico da Guiné. No final, pintam o dedo com tinta indelével, para registar que já votaram.
As pessoas “vieram com bom ânimo” e “estão a colaborar com a parte logística”, considera a voluntária Sambique Bidiandé, explicando que “o problema” é que a fila não está organizada por mesas e as pessoas não sabem onde votam.
“Temos que permitir que as pessoas das mesas vazias possam entrar, mas os que estão à frente não as querem deixar passar. E fica difícil fazer-lhes compreender”, relata.
Os voluntários também dão “uma ajudinha” a idosos e pessoas com dificuldades de mobilidade a descerem as escadas de acesso às mesas. Florzinha Monteiro reconhece que é urgente fazer obras na Embaixada para facilitar o acesso.
A cônsul não está surpreendida com a mobilização. “O povo da Guiné gosta de votar (…). Um voto faz diferença”, realça, apelando à participação.
“Temos que deixar a última pessoa votar, nem se for às oito da noite. Desde que esteja na fila até às 17:00, pode ter a certeza de que vai votar. Nem que seja até amanhã”, garante.
Já Rui Pinto Ribeiro, coordenador do círculo Diáspora Europa do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), um dos 20 partidos e duas coligações que concorrem a estas eleições legislativas, reconhece ter ficado “surpreso” com a adesão. “Assisti a várias eleições cá e (…) nunca tinha acontecido esta participação”, nota.
O político está também “feliz” com “o interesse dos guineenses na diáspora poderem participar, de uma forma direta” no destino do país.
“Fortalecer a democracia e consolidar o Estado democrático” são os maiores desafios para a Guiné, aponta. “Se isso não for possível, tudo o resto que vem alavancar o desenvolvimento não se consegue executar”, realça, admitindo as carências sociais e económicas do país,
Cerca de 900 mil guineenses escolheram ontem, domingo, os 102 deputados ao parlamento e o futuro governo do país.
Nas últimas legislativas, realizadas em 2019 e que o PAIGC venceu, o Madem-G15 foi a segunda força mais votada, obtendo 27 dos 102 deputados no parlamento.
O Madem-G15 passou a integrar o Governo em 2020, depois de o Presidente, Umaro Sissoco Embaló, ter demitido o executivo liderado pelo PAIGC e formado um novo.