O secretário-geral da ONU, António Guterres, defendeu um “cessar-fogo imediato” em Gaza e apelou à paz no Líbano e na Ucrânia, ao intervir na reunião dos BRICS, bloco das principais economias emergentes, com os países do Sul Global.
“Precisamos de paz em todo o lado. Precisamos de paz em Gaza com um cessar-fogo imediato e uma libertação imediata e incondicional de todos os reféns”, disse Guterres durante a reunião, realizada na cidade russa de Kazan, onde ontem terminou a cimeira dos BRICS, que teve como anfitrião o Presidente russo, Vladimir Putin.
Na sua intervenção, e ainda sobre a situação no Médio Oriente e as várias frentes de combate (Gaza e Líbano), o líder da ONU disse ser necessário distribuir a ajuda humanitária de forma efetiva e fazer progressos “irreversíveis” para “acabar com a ocupação israelita” e implementar a solução de dois Estados (Palestina e Israel).
“Precisamos de paz no Líbano, com uma cessação imediata das hostilidades, avançando na plena implementação da resolução 1701 do Conselho de Segurança”, acrescentou Guterres, recentemente declarado ‘persona non grata’ pelo Governo israelita, ao referir-se à resolução que colocou um fim a um conflito entre Israel e o movimento xiita libanês pró-iraniano Hezbollah em 2006.
A resolução 1701 prevê a cessação das hostilidades de ambos os lados da fronteira e que apenas as forças de manutenção da paz da ONU e o exército libanês podem ser destacados para o sul do Líbano.
Em solo russo, Guterres também apelou à paz na Ucrânia: “Uma paz justa, em conformidade com a Carta das Nações Unidas, o direito internacional e as resoluções da Assembleia Geral”.
A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro de 2022, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
O secretário-geral da ONU apelou ainda a um acordo no Sudão e à defesa “dos valores da Carta das Nações Unidas, do Estado de Direito e dos princípios de soberania, integridade territorial e independência política de todos os Estados”.
Ontem assinalou-se o Dia da Organização das Nações Unidas, que marcou o aniversário da entrada em vigor, em 1945, da Carta das Nações Unidas.
O secretário-geral da ONU recordou igualmente os quatro desafios que a Cimeira do Futuro, promovida pela organização multilateral em setembro passado, estabeleceu para as áreas das finanças, do clima, da tecnologia e da paz.
“A Cimeira do Futuro marcou o caminho para reforçar o multilateralismo, para o desenvolvimento e a segurança globais. Agora devemos transformar as palavras em ações”, concluiu Guterres.
À margem da cimeira dos BRICS, houve um encontro entre Guterres e Putin, a primeira reunião entre os dois representantes desde 2022, onde Guterres “repetiu a sua posição de que a invasão russa da Ucrânia violou a Carta da ONU e o direito internacional”, afirmou um porta-voz, em comunicado.
O responsável da ONU repetiu também o seu apoio a uma “paz justa”, de acordo com a Carta e o direito internacional, e sublinhou ao presidente russo o seu compromisso com a “liberdade de navegação no Mar Negro”, capital para a Ucrânia e para a segurança alimentar e energética global.
Enquanto isso, Vladimir Putin considerou que a sua relação com os Estados Unidos dependerá da atitude de Washington após as eleições norte-americanas e, a menos de duas semanas da votação, elogiou a sinceridade, segundo ele, do candidato republicano Donald Trump pelo seu desejo de estabelecer a paz na Ucrânia.
“O desenvolvimento das relações russo-americanas após as eleições dependerá dos Estados Unidos. Se eles estiverem abertos, nós também estaremos abertos. E se eles não quiserem, não precisamos de o fazer”, declarou, antes da reunião com António Guterres.
O grupo BRICS, fundado informalmente em 2006 e que realizou a sua primeira cimeira em 2009, inclui países que representam cerca de um terço da economia mundial e mais de 40% da população global.
Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Etiópia, Irão, Egito e Emirados Árabes Unidos integram atualmente o bloco.
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