A ideia de escrever um livro sobre futebol nasceu no Braga, mas a semente germinou e brotou das experiências com jogadores e equipa técnica do Palmeiras, explicou o treinador português Abel Ferreira.
“Esta história começou já no Braga, no meu último ano de Braga acreditava, nós [equipa técnica] acreditávamos, que poderíamos ganhar algo no Braga, porque nosso trajeto tinha sido de consolidação de uma forma de jogar”, contou o técnico português minutos após ser ovacionado por centenas de pessoas que estiveram no lançamento do seu livro “Cabeça fria, coração quente”, na 26.ª edição da Bienal Internacional do Livro de São Paulo.
“Quando chegámos ao Brasil queria conhecer melhor a cultura brasileira e os treinadores brasileiros. Perguntei ao nosso diretor [do Palmeiras] que literatura me poderia aconselhar de treinadores brasileiros, métodos de trabalho, formas de liderança para rapidamente entender como é que funciona o treinador brasileiro, o qual me foi dito: ‘não temos literatura com esse conteúdo’ (…) Então a partir desse momento foi o ‘start'”, acrescentou.
Abel Ferreira, que durante uma hora encantou o público ao respondeu perguntas formuladas pelo embaixador de Portugal no Brasil, Luís Faro Ramos, na noite de quinta-feira, na bienal do Livro de São Paulo, emocionou-se ao explicar a importância da família e dos livros na sua vida, antes e depois de chegada ao Brasil, onde agarrou o sucesso que está a experimentar no Palmeiras e que partilha nesta obra assinada também por Tiago Costa, Carlos Martinho João Martins e Vitor Castanheira.
“Foi assim que começou a nossa ideia, começou quase com uma semente, sendo uma semente que aqui foi regada, aqui germinou e aqui cresceu. E é um orgulho muito grande da comissão técnica (…). É uma partilha de conhecimento, é uma partilha de métodos de trabalho, é uma partilha das nossas experiências”, frisou o treinador português.
Ao falar sobre as obras que o marcaram como leitor, Abel Ferreira lembrou de o ‘O Pequeno Príncipe’, que para si transmite lições importantes sobre os princípios da vida, e ‘Quem mexeu no meu Queijo?’, que considerou ser um guia que lhe preparou para o futuro e para agarrar as oportunidades da vida.
O técnico português acrescentou à lista ‘A árvore generosa’, de Fernando Sabino, e ‘Jogar para vencer’, de John Wooden, dois dos muitos livros que recebeu no Brasil.
Questionado se pretende escrever outra publicação, Abel Ferreira considerou importante inspirar as pessoas de forma positiva na sua vida particular, mas sugeriu não ter intenção de formular uma continuação ou novo relato sobre suas vivências no futebol.
“Eu, se tivesse que escrever um livro, porque não quero escrever mais livros, sinceramente, o título que daria seria: ‘Nós recebemos na medida do quanto nos doamos'”, contou.
“Acho que a vida só faz sentido se houver partilha seja de que maneira for, de que forma for de que género for. É assim que eu vejo e é isso que eu procuro passar aos meus jogadores. Eu, além de ser treinador, sou formador de homens e essa é a minha missão de vida também”, acrescentou.
Falando sobre a experiência liderar uma equipa da elite do futebol brasileiro, país que tem a ‘mística’ do futebol na sua tradição cultural, e de como o Palmeiras está a marcar sua trajetória, o técnico português disse acreditar que aceitou o desafio por considerar que vida é feita de experiências e, portanto, lançou-se ao desconhecido e agora poderá estar a colher o retorno desta coragem.
“Às vezes temos medo de dar um passo, de experimentar algo, e ficar dentro da nossa zona de conforto. E o que o Brasil me deu foi alargar a minha zona de conforto e deixar que as borboletas batam na minha barriga para ir à procura de coisas que nos criam insegurança, incerteza, mas que nos tornam melhores, que nos ajudam a desenvolver enquanto profissionais e enquanto seres humanos”, ponderou.
Sobre a bienal sua presença na 26.ª edição da Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que neste ano tem Portugal como país homenageado, Abel Ferreira concluiu considerando ser um orgulho estar neste evento tão grande, com tanta gente, com tantos livros.
Fonte: Lusa