A relação entre Portugal e o Brasil tem sido descrita como “uma experiência de ambiguidades” e geradora de “estranhamento”.
As conclusões são do mais recente trabalho de investigação “Portugal-Brasil: Raízes do Estranhamento”, do ex-jornalista da RTP Carlos Fino, que referem que “o Brasil tem vergonha das origens portuguesas e os portugueses menosprezam a antiga colónia”.
Numa entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o jornalista fala daquilo que classifica como “a existência de uma vontade de apagar a importância da memória portuguesa” no Brasil, devido ao que diz ser uma “vergonha da herança portuguesa”.
No entanto, Fino diz que essa vergonha não é algo consciente por parte do povo brasileiros e que é “até rejeitada”, particularmente pela “intelectualidade brasileira”, onde a “tendência é de não reconhecer isso”.
Outros dos fatores destacados por Carlos Fino são as piadas depreciativas aos portugueses, que fazem com que haja sempre “um olhar por trás de um olhar”.
“Eu sei que, no fundo, assim que eu virar as costas, ou talvez mesmo na minha frente, haverá alguém que conte a anedota do português. Porque o brasileiro pode até perder o amigo, mas não perde a graça. O brasileiro parece que não quer reconhecer o pai pobre”, sublinhou.
Para o jornalista esse desconforto em relação à herança portuguesa deve-se também a uma ausência de debate do colonialismo em Portugal e destaca a marca de 40 anos de salazarismo e propaganda do Estado Novo no país, que exaltou continuamente os feitos heroicos dos portugueses.
