Portugal foi usado como pretexto para lavagem de dinheiro sujo proveniente de Angola, avançou esta quinta-feira o Correio da Manhã (CM), com base nas revelações de Paulo de Morais, uma das testemunhas do caso “Luanda Leaks”.
Segundo o responsável, que é também um dos defensores do hacker Rui Pinto, “um grupo de conhecidos empresários e ministros angolanos comprou o Estoril Sol Residence, um projeto polémico do arquiteto Gonçalo Byrne, concluído em 2010 às portas de Cascais”.
Só o então ministro da Administração Pública, Emprego e Segurança Social, Pitra Neto, “tinha cinco apartamentos; o banqueiro Álvaro Sobrinho comprou seis apartamentos, e o então vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, adquiriu um”.
Para além disso, adianta o jornal, “o ex-ministro das Finanças de Angola, José Pedro Morais, e Noé Baltazar, antigo diretor da empresa estatal de diamantes, a Endiama, também tinham casas de luxo no mesmo complexo”.
No caso de Manuel Vicente, este comprou o 9º andar, por 3,8 milhões de dólares, pagos através de sociedades offshore, usadas também para a compra de dois outros apartamentos, o que mostra que Portugal foi usado para a lavagem de dinheiro.
“Quando tentámos investigar Manuel Vicente foi impossível, devido à interferência do primeiro-ministro e do Presidente da República. O caso passou para Angola e sabemos que nada acontecerá a Manuel Vicente, porque ele tem imunidade de cinco anos por ser ex-vice-presidente, tendo ainda uma amnistia para o salvar em caso de condenação”, refere Paulo Morais ao Correio da Manhã.
Segundo a testemunha, este caso expôs a enorme promiscuidade dos sistemas político, financeiro e judicial português à corrupção em Angola. “Passamos a ser vistos internacionalmente como a ‘lavandaria’ dos corruptos angolanos. E agora só investigamos a filha do ex-presidente porque ela caiu em desgraça no seu país”, conclui.