Segundo Guillaume Osier, do Statec, em entrevista ao Contacto, os portugueses são a nacionalidade mais afetada pela pobreza no Luxemburgo.
Cerca de 30% dos imigrantes portugueses têm um rendimento que não chega para suportar as despesas até ao final do mês. “As pessoas de nacionalidade portuguesa estão mais expostas ao risco de pobreza”, revela Guillaume Osier, responsável pela Unidade de Condições de Vida do instituto de estatísticas do Luxemburgo (STATEC), em entrevista ao Contacto. Uma percentagem que tem vindo a crescer nos últimos anos.
Como explicar este fenómeno? “Os portugueses encontram-se nos setores da construção, saúde, serviços de apoio às pessoas, que têm uma remuneração menor que outros setores no Luxemburgo”, responde este responsável do Statec.
Mas não são só os portugueses a terem um mais elevado risco de ser pobres. Os indicadores permitem concluir que “a taxa de risco de pobreza para os estrangeiros é muito superior à dos luxemburgueses”.
Se olharmos para a totalidade da população residente no país concluímos que 19,2% da população está em risco da pobreza. Esta é a percentagem mais elevada dos países da União Europeia, no país que tem o mais elevado PIB per capita da Europa dos 27. Um indicador que revela que as desigualdades estão a crescer no Grão-Ducado. Ou seja, que a riqueza do país não está a ser distribuída de forma igualitária.
Como explicar este fenómeno? “Existe desigualdade em países ricos como o Luxemburgo, que têm períodos de forte crescimento há várias décadas”, acrescenta. Ou seja “não existe um crescimento igualitário e inclusivo que permita a todos recolher frutos da riqueza”. Na prática “o crescimento económico muito forte não beneficiou de forma idêntica todos os residentes”. Uma realidade que se estende a outros países. “Penso que o fenómeno se passa em todos os países do mundo que têm fortes crescimento e que têm agravado as desigualdades”.
E nem o trabalho consegue tirar as pessoas da pobreza. A pobreza afeta também quem trabalha. Cerca de um em cada dez residentes no Luxemburgo que trabalham “estão em risco de pobreza”.
Há famílias que não conseguem que o dinheiro chegue ao final do mês
Se fizermos um plano mais apertado sobre os números encontramos outros dados preocupantes. Há diversas famílias que não têm dinheiro suficiente para pagar todas as despesas até ao final do mês.
Os casais com três filhos são um dos exemplos. Se somarmos o rendimento social mínimo, com as prestações familiares, subsídio de vida cara e apoio às rendas não atingimos um orçamento que permita à família sobreviver. A totalidade dos rendimentos não chega para pagar todas as despesas.
Mas é no caso da famílias monoparentais que aumentam as dificuldades. Basta falarmos de agregados com dois ou mais filhos para encontrarmos situações em que o dinheiro não chega para assegurar as despesas até ao final do mês. Todas elas têm rendimentos abaixo do orçamento de referência, que contabiliza todas as despesas de uma família com estas características.
O que permite concluir que o salário social mínimo, mais as transferências sociais não asseguram o valor mínimo para que as famílias possam viver.
Madalena Queirós (Contacto (LU)