Milhares de manifestantes brasileiros juntaram-se em várias cidades brasileiras e no estrangeiro para contestarem o resultado das presidenciais e apelarem a uma intervenção militar, no dia em que o país celebra 133 anos da proclamação da República.
A sede do quartel-general em Brasília tem sido o palco das maiores manifestações e hoje não foi exceção: pelo menos 10 mil pessoas juntaram-se ao acampamento (montado assim que terminaram as eleições em 30 de outubro) para pedirem ao Exército que intervenha no resultado eleitoral e que tome o poder.
Segundo a imprensa local, o mau tempo registado na capital do país acabou por ser o maior inimigo das manifestações antidemocráticas, que foram desmobilizando.
A Esplanada dos Ministérios em Brasília foi encerrada para impedir a entrada de pedestres e travar a ida dos camiões concentrados ao lado do quartel-general do Exército, à Praça dos Três Poderes, onde se encontra a sede do Supremo Tribunal Federal (STF), o “inimigo número um” dos manifestantes.
O traje dos apoiantes de Jair Bolsonaro (camisola verde e amarela da seleção brasileira) esteve também fortemente representado em frente ao Comando Militar do Sudeste, em São Paulo, onde os manifestantes exigiram insistentemente que as forças armadas “salvassem o Brasil”.
Estas concentrações verificaram-se ainda em vários estados brasileiros, apesar do comunicado do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sublinhando que o “Brasil merece paz, serenidade, desenvolvimento e igualdade social” e que “os extremistas antidemocráticos merecem e terão a aplicação da lei penal”.
Também em Nova Iorque, de acordo com imagens nas redes sociais, foram registadas protestos apesar de as forças armadas terem manifestado o seu apoio expresso à democracia e reconhecido a sua total “conformidade” com o resultado das eleições, nas quais Lula da Silva derrotou Jair Bolsonaro, por uma margem estreita de 1,8 pontos percentuais.
A cidade norte-americana tinha sido palco no dia anterior de protestos contra juízes do STF que acabaram por serem insultados e assediados.
Em Nova Iorque, para participarem numa conferência, estas personalidades foram vítimas de insultos e assédios por parte de manifestantes brasileiros, que se recusam a aceitar a derrota de Bolsonaro, em Nova Iorque, em vários lugares, como à porta dos seus hotéis, enquanto passeavam pelas ruas da cidade, ou mesmo em restaurantes, como mostram vídeos partilhados nas redes sociais.
Luiz Inácio Lula da Silva ganhou as eleições presidenciais, recebendo 50,9% dos votos, contra 49,1% para Jair Bolsonaro, que procurava um novo mandato de quatro anos.
Lula da Silva assumirá novamente a Presidência do Brasil em 01 de janeiro de 2023 para um terceiro mandato, após ter governado o país entre 2003 e 2010.
Apesar do apelo dos manifestantes para uma intervenção militar, a auditoria feita pelas Forças Armadas ao sistema de votação não encontrou provas de fraude nas eleições.
O próprio Jair Bolsonaro permitiu que o processo de transição começasse.
Logo depois do resultado eleitoral de 30 de outubro, camionistas encetaram centenas de bloqueios de estradas por todo o país nos três dias após as eleições, mas levantaram os protestos após Bolsonaro ter apelado aos seus apoiantes para que não cortassem a livre circulação dos cidadãos.
Em 2 de novembro, um feriado público, milhares de pessoas manifestaram-se fora dos quartéis militares nas principais capitais do Brasil para pedir um golpe de Estado contra os resultados eleitorais.
Num comunicado divulgado na véspera do feriado, o Exército reiterou que está ao serviço da “liberdade, independência e desenvolvimento” do Brasil e que tem “a nobre missão de defender a pátria e garantir os poderes constitucionais e a lei e a ordem”.
A mensagem dos militares conclui dizendo que o exército “soube interpretar os desejos do povo que serve”, uma frase ambígua que nos grupos pró-Bolsonaro, onde proliferam notícias falsas, tem sido interpretada como um convite à manifestação.