A cimeira de Madrid vai deixar claro que “há uma coisa que a Rússia nunca poderá fazer, que é exportar as suas guerras para países membros da NATO”, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, numa entrevista com a Agência Efe em Lisboa.
A reunião de Madrid “é muito importante para a Aliança, neste contexto muito especial e muito difícil e complexo do sistema internacional, para demonstrar uma fortíssima unidade, determinação e capacidade”, acrescentou o ministro.
Vai sair de Madrid “um novo conceito estratégico” que irá substituir o atual, que foi acordado em Lisboa em 2010 e que “está desatualizado” porque “o mundo mudou tanto”, especialmente depois da guerra que a Rússia desencadeou contra a Ucrânia a 24 de fevereiro.
No modelo de há uma década, “a Rússia é identificada como um parceiro da NATO, a China não é mencionada”, recordou Gomes Cravinho.
A nova estratégia da Organização do Tratado do Atlântico Norte será “uma demonstração muito clara da determinação da NATO, da consciência da Aliança sobre a segurança de cada um dos nossos membros”.
O novo papel da China
O novo modelo estabelece um “equilíbrio” entre as dinâmicas regionais e internacionais, acrescenta o ministro dos Negócios Estrangeiros na entrevista com a Efe, realizada na sede do seu Ministério na véspera da cimeira de Madrid e da Conferência dos Oceanos que Lisboa acolherá a partir desta segunda-feira, dia 27.
Gomes Cravinho referiu-se em particular ao papel da China, que “não é a nova União Soviética”, sublinha.
“É uma potência emergente complexa, mas é também um parceiro indispensável na luta contra as alterações climáticas e outras questões de gestão global”.
“Isto significa que devemos saber trabalhar com a China em questões fundamentais de gestão internacional e ao mesmo tempo ser muito firmes nos princípios básicos da ordem internacional que são essenciais para a paz no mundo e na nossa região”, ressaltou.
“Penso que o novo conceito estratégico que vai ser um marco na história da NATO consegue encontrar esse equilíbrio”, disse o ministro, diplomata de 58 anos que antes dos Negócios Estrangeiros detinha a pasta da Defesa na anterior legislativa do socialista António Costa.
Caminho para a paz?
A cimeira de Madrid vai restabelecer paz na Ucrânia? “Infelizmente não, porque depende sobretudo de um país que não está na reunião, que é a Rússia”, admitiu Gomes Cravinho.
Contudo, “uma coisa ficará muito clara na cimeira de Madrid, que há uma coisa que a Rússia nunca poderá fazer, que é exportar as suas guerras para os países membros da NATO”, disse o ministro, que acompanhará Costa na reunião da Aliança.
A cimeira de Madrid de 29 e 30 de junho vai reunir 44 delegações, 41 das quais lideradas por chefes de Estado ou de Governo.
Ao todo, estarão representados 30 Estados da NATO, juntamente com países parceiros como a Bósnia, Jordânia, Mauritânia, Japão, Austrália, Coreia do Sul e Ucrânia.
Fonte: Agência EFE