Manuel Fontaine conversou com os deslocados internos, autoridades locais e famílias anfitriãs em Pemba, capital da província após o ataque à cidade de Palma.
O diretor de emergências do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, Manuel Fontaine, visitou a província de Cabo Delgado, em Moçambique. A agência da ONU está preocupada com a má nutrição e doenças como cólera e Covid-19.
A região, no norte do país africano de língua portuguesa, vive um confronto entre tropas do governo e extremistas islâmicos desde 2017.
Em entrevista a jornalistas, nesta terça-feira, Fontaine afirmou que a crise humanitária deve durar muito tempo e, acrescentou que, em anos de experiência com crises humanitárias, a impressão é de que existe uma crise grande e longa. Um terço da população em Cabo Delgado está vivendo fora de suas casas. Em algumas cidades que acolheram os que fugiam da violência, a população chegou a triplicar.
O diretor do Unicef afirmou que a situação da má nutrição preocupa especialmente os deslocados internos. A Organização Internacional para Migrações, OIM, e o Unicef já registaram mais de 16,5 mil pessoas chegadas de Palma em busca de abrigo.
Uma outra ameaça é a cólera, que tinha começado a diminuir na região, mas que pode aumentar com as condições atuais.
Manuel Fontaine ouviu diretamente os deslocados internos, as famílias que acolhem os que fogem dos confrontos e autoridades locais e ficou alarmado com os relatos de violência como sequestros, violência de gênero e histórias terríveis de sofrimento por pessoas que passaram dias tentando escapar a pé, e que chegaram a Pemba com os pés inchados e marcas de ferimentos. Para ele, a crise é também de proteção.
A escalada do conflito em Cabo Delgado nos últimos meses causou uma grave crise humanitária, forçando quase 700 mil pessoas a deixarem suas casas.
O Unicef já identificou 220 crianças desacompanhadas. Muitas famílias foram separadas quando os grupos armados invadiram a cidade de Palma. Uma das crianças contou à Unicef que viu a mãe ser assassinada e por isso correu para fugir dos criminosos. O pai, que estava noutra parte da cidade, na hora do ataque, até agora não foi encontrado. Muitas crianças não conseguem descrever o que aconteceu com elas por causa do trauma sofrido.
A agência da ONU contou que precisa de assistência alimentar, água e itens básicos para os moçambicanos que estão fugindo da violência em Cabo Delgado. O Unicef também quer apoiar o retorno dos alunos às aulas.
Fontaine disse que partes de Palma continuam inseguras para os agentes humanitários. O porta-voz do Programa Mundial de Alimentos, PMA, Tomson Phiri, informou que a agência está pedindo US$ 82 milhões para assistir a população. No momento, existem 950 mil pessoas passando fome severa no norte de Moçambique.