O embaixador de Portugal na Guiné-Bissau, José Rui Caroço visitou a sede da empresa Armazéns do Povo, cujo capital maioritário é detido por empresários portugueses e que o Governo anuncia como tendo sido nacionalizada pelo Estado guineense.
Após percorrer várias dependências da empresa na companhia do presidente do conselho de administração da Armazéns do Povo, Alfredo Miranda, o embaixador português disse aos jornalistas tratar-se de um testemunho da importância do grupo nas trocas comerciais entre os dois países.
A Armazéns do Povo, empresa detida maioritariamente pelo grupo português Interfina, é das principais abastecedoras do mercado guineense com produtos importados de Portugal, nomeadamente materiais de construção civil, géneros alimentares e eletrodomésticos.
A empresa representa 15% de toda a exportação portuguesa para Guiné-Bissau.
No total, o capital de empresários portugueses representa cerca de 96% da empresa e cerca de 3% do capital social é detido por empresários guineenses.
“A minha vista tem só esse registo, esse testemunho e essa constatação da grande importância que os Armazéns do Povo, como empresa privada e com significativos investidores portugueses, desempenha no mercado guineense, no quadro e à luz do relacionamento entre Portugal e a Guiné-Bissau”, observou José Rui Caroço.
O Governo da Guiné-Bissau, na sua reunião de Conselho de Ministros de quinta-feira, anunciou a nacionalização da empresa Armazéns do Povo, numa decisão que o presidente do conselho de administração considera “estranha e ilegal”.
O embaixador de Portugal disse estar a visitar de novo os Armazéns do Povo, “com muito gosto”, por ser “uma grande empresa privada que tem capitais portugueses significativos, assim como também capitais guineenses”.
José Rui Caroço salientou a relevância da empresa pelos produtos que faz chegar à Guiné-Bissau e que são distribuídos por todo o país, pelos postos de trabalho que cria e ainda destacou os investimentos feitos para a sua modernização.
Portugal acompanha os investimentos da Armazéns do Povo e de outros empresários que têm apostado no mercado guineense, disse o embaixador José Rui Caroço.
“Numa altura em que tanto investimos, que as relações luso-guineenses conhecem o momento de melhoria da sua própria excelência, em que se pretende, obviamente, num salutar ambiente de negócios continuar a investir sobremaneira, obviamente está a cargo dos investidores e da iniciativa privada, como é o exemplo dos Armazéns do Povo e de muitos outros que gostamos e estimulamos a que possam investir neste mercado”, observou o diplomata.
José Rui Caroço sublinhou ainda que as trocas comerciais entre Portugal e a Guiné-Bissau vivem um bom momento, havendo casos em que igualaram ou superaram os patamares antes da pandemia de covid-19.
“É isso que nós queremos continuar para também, com esse contributo, o contributo aqui dos agentes económicos no terreno e que junto das populações se faça sentir”, defendeu o embaixador de Portugal na Guiné-Bissau.
“Estranho e ilegal”. Governo guineense nacionaliza Armazéns do Povo, maioritariamente de capitais portugueses
“Estranho e ilegal”. Governo guineense nacionaliza Armazéns do Povo, maioritariamente de capitais portugueses
Os Armazéns do Povo, conglomerado de edifícios públicos, foram vendidos pelo Estado guineense em 1992 e o grupo português Interfina comprou 55% das ações da empresa, a que se juntam mais participações de outros grupos lusos, perfazendo cerca de 96% de capitais portugueses, declarou à Lusa Alfredo Miranda.
O Estado guineense detém um total de cerca de 3% do capital da empresa, observou Miranda que não compreende a decisão do Governo do país em nacionalizar o grupo.
“Nós fomos surpreendidos pela aprovação de um decreto-lei, na última reunião do Conselho de Ministros, que teve lugar na quinta-feira passada, em que, efetivamente, pelo teor do decreto, o Estado decidiu nacionalizar a empresa Armazéns do Povo SARL”, afirmou Alfredo Miranda.
O presidente do conselho de administração precisou ainda que a empresa Armazéns do Povo investiu, nos últimos anos, mais de sete milhões de euros na modernização dos imóveis e ainda emprega, de forma direta, mais de 200 trabalhadores guineenses.
“A empresa Armazéns do Povo SARL é uma empresa de capitais portugueses, mais de 95% do capital é português”, observou Alfredo Miranda, para quem, talvez, seja pelo facto de a empresa se ter modernizado é que poderá suscitar “algum interesse de certas forças”.
O presidente da administração da Armazéns do Povo “não compreende” como é que se decide pela nacionalização de uma empresa privada “de capital maioritário estrangeiro”, e que representa cerca de 15% das exportações de Portugal para a Guiné-Bissau.
O grupo Armazéns do Povo, que se dedica ao comércio de produtos diversos de Portugal para a Guiné-Bissau, está, segundo Alfredo Miranda “em cumprimento de todas as normas” do país e até hoje não foi informado pelas autoridades da decisão da suposta nacionalização.
“O que a empresa pensa fazer é que se faça a justiça, que se cumpra a lei. Todos os documentos da empresa estão em dia, apresentamos o balanço regularmente”, afirmou Alfredo Miranda, realçando que a empresa faz reuniões regulares onde o Estado guineense pode participar como sócio que é.
Miranda notou ainda que o Estado guineense tem um representante permanente no conselho de administração da empresa Armazéns do Povo e que pode facultar todos os documentos, se for o caso, disse.
O presidente da administração também considerou estranho o facto de o Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos “não cumprir com a lei” ao não pagar uma indemnização fixada pelo tribunal guineense e ainda mandar invadir as instalações da empresa.
Alfredo Miranda referia-se a um caso em que o Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos foi condenado, “com a sentença transitada em julgada”, por ocupação ilegal das instalações da empresa.
“Estranhamente, a ministra da Justiça e dos Direitos Humanos rebentou os nossos cadeados e ocupou as nossas instalações. Pôs lá uma segurança privada. Isso foi na quinta-feira da semana anterior e nesta quinta-feira nós fomos surpreendidos com a decisão do Conselho de Ministros em nacionalizar a empresa”, sublinhou Alfredo Miranda.
Está no horizonte do grupo Armazéns do Povo, que abastece o mercado guineense, entre outros, com produtos de construção civil, eletrodomésticos, produtos alimentares, expandir-se para os países da sub-região africana onde a Guiné-Bissau está inserida, adiantou Miranda.
“E de repente surpreendem-nos com esta decisão que não sabemos como é que podemos posicionar sobre isto”, disse Alfredo Miranda notando, contudo, que a empresa poderá recorrer aos tribunais “se tiver de ser”.
O presidente da administração dos Armazéns do Povo considerou ser “muito mau” para a imagem do país o que se está a passar com a empresa.