O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, disse que o ataque a Palma “não foi maior do que tantos outros” protagonizados pelos grupos armados que atuam em Cabo Delgado, assegurando que segue “segundo a segundo” as operações no terreno.
“Sabem todos que no dia 24, há uma semana, houve um ataque, desta vez em Palma. Não foi maior do que tantos outros que tivemos”, afirmou Filipe Nyusi.
O chefe de Estado falava durante a inauguração da delegação do Instituto Nacional de Segurança Social (INSS), no distrito de Matutuíne, província de Maputo, sul do país.
A referência aos acontecimentos em Palma foi a primeira do Presidente moçambicano ao assunto, interrompendo um silêncio que levou 18 organizações da sociedade civil a “exigir”, em carta aberta, uma “informação” sobre os ataques e o drama humanitário que se instalou no norte do país.
O chefe de Estado moçambicano acrescentou que o “impacto” do ataque a Palma deve-se ao facto de “ter sido uma zona na periferia dos projetos em curso naquela província”.
A vila de Palma situa-se a cerca de 25 quilómetros da área em que se desenvolve o projeto de gás natural do consórcio liderado pela multinacional Total, em Afungi, província de Cabo Delgado, norte do país, no que será o maior investimento privado em África.
“O nosso apelo é simples, não percamos o foco, não fiquemos atrapalhados, vamos abordar o inimigo como temos estado a fazer, com alguma contundência, como as Forças de Defesa e Segurança estão a fazer”, destacou Filipe Nyusi.
A falta de concentração serve “os interesses dos inimigos internos e externos”, declarou, sem concretizar.
“Temos estado, de segundo a segundo, a seguir o trabalho que os jovens [das Forças de Defesa e Segurança] no terreno estão a fazer”, enfatizou.
O presidente da Câmara de Energia Africana (CEA) considerou hoje que, se a violência continuar a impedir a petrolífera Total de retomar os trabalhos, a Eni e a Exxon podem repensar os seus próprios projetos.
“Se o trabalho de desenvolvimento de ‘upstream’ no bloco ‘offshore’ conhecido como Área 1 não puder ser concluído, a Total terá dificuldade em prosseguir com seu projeto Mozambique LNG, e a Eni e a ExxonMobil terão dificuldade em seguir o exemplo com os seus próprios projetos South Coral LNG e Rovuma LNG”, escreveu NJ Ayuk numa nota enviada à Lusa, na qual salienta que este é um perigo real.
A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, é desde há cerca de três anos alvo de ataques terroristas e o último aconteceu no dia 24, em Palma, em que dezenas de civis foram mortos, segundo o Ministério da Defesa moçambicano.
A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados, segundo agências da Organização das Nações Unidas, e mais de duas mil mortes, segundo uma contabilidade feita pela Lusa.
O movimento terrorista Estado Islâmico reivindicou na segunda-feira o controlo da vila de Palma, junto à fronteira com a Tanzânia.
Vários países têm oferecido apoio militar no terreno a Maputo para combater estes insurgentes, mas, até ao momento, ainda não existiu abertura para isso, embora haja relatos e testemunhos que apontam para a existência de empresas de segurança e de mercenários na zona.