O ministro da Economia e Finanças de Moçambique, Max Tonela, confirmou a boa notícia sobre a exportação do gás liquefeito, salientando que está tudo preparado para que esta seja apenas a primeira de muitas.
“Esperamos que aconteça antes do final do presente mês de outubro a primeira exportação de gás natural liquefeito produzido pelo país”, confirmando também que outros projetos poderão arrancar a breve trecho.
“Fizemos a primeira plataforma. No entanto, privilegiamos assegurar a retoma dos trabalhos de construção das duas linhas de liquefação em terra, promovidas pela Área 1, e todo o trabalho que se tem estado a realizar tem em vista recuperar a situação de normalidade para famílias, para as populações afetadas, mas também para promover os investimentos que vão resultar num desenvolvimento mais sustentado da região.
Entre os projetos está a retoma da Total, mas tendo em conta o volume de recursos de gás que existe e os desafios a nível global de procura e diversificação das fontes, o Governo está disponível para discutir outros cenários que não põem em causa o desenvolvimento dos projetos em terra”, concluiu o ministro. O facto de Moçambique poder vir a ser uma alternativa à Rússia, e ao seu gás, há muito que é discutida. Entre ‘ameaças’, agora pode tornar-se uma realidade.
“Há muito que defendemos que com a quantidade de gás que existe em Moçambique teremos de ser uma alternativa. A crise na Ucrânia é apenas uma infeliz oportunidade, mas temos de agarrá-la. Teremos de passar do papel para sermos uma verdadeira alternativa ao gás da Rússia”, disse ao Pascoal Júnior, dirigente da Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH) de Moçambique.
Há muito gás em Moçambique, como afirmam os especialistas, mas a verdade é que o mesmo, até por questões financeiras, não é explorado exclusivamente pelo Governo moçambicano, mas sim com o auxílio de algumas das principais empresas internacionais deste mercado. Também por isso a chegada deste à Europa está pendente de decisões que também não serão exclusivas do Governo de Filipe Nyusi.
“A exploração do gás só é possível em Moçambique graças a essas multinacionais, caso contrário o Governo não teria meios para extração, produção e exportação. Evidentemente que estaremos dependentes de acordo dessas mesmas empresas. No entanto, é óbvio para todos que essas empresas também têm a ganhar com a exportação do gás para a Europa. É uma oportunidade única para todos os intervenientes”, salientou Pascoal Júnior, que, ainda assim, deixa um alerta para a celeridade dos processos.
“Todos sabemos que há outros concorrentes no continente africano, alguns dos quais até mais próximos ao continente europeu, como a Argélia. Ainda recentemente o presidente do Conselho Europeu [Charles Michel] conversou com o Presidente argelino [Abdelmadjid Tebboune] sobre este assunto e a UE vê na Argélia um parceiro no que ao gás diz respeito. Temos de agir com celeridade, para conseguirmos também nós ser a tal alternativa”, reivindicou o dirigente moçambicano.
Refira-se que Moçambique já exporta gás natural em pequenas quantidades para a África do Sul através de um gasoduto de 865 km a partir das duas jazidas terrestres de Pande e Temane, província de Inhambane, sul do País (explorados pela Sasol, multinacional da África do Sul – acordo assinado em 2000) com destino às centrais elétricas de Secunda e Sasolburg na região norte deste país. A exportação através de cargueiros seria, então, uma nova novidade na realidade do gás moçambicano.
De acordo com os principais especialistas, que o relatam há já vários anos, o gás moçambicano pode competir em igualdade com o de outros fornecedores globais. A localização permite acesso a mercados da Ásia e Europa, além da própria África. A Área 1 terá, por exemplo, um cais para navios cargueiros para gás natural liquefeito, cujas ideias iniciais passavam por vender o gás à China, Japão, Indonésia, Tailândia e Índia e para países europeus.
O ‘boom’ do gás em Moçambique deverá atingir, em 2024, a marca de 31 milhões de toneladas por ano. Dados económicos apontam então que o Produto Interno Bruto (PIB) deva crescer a uma taxa anual acima de 10 por cento nos próximos 30 anos, segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI). Há quem diga, aliás, que Moçambique pode se tornar-se no “Qatar da África”, como relatou o jornal The Economist.
Verdade seja dita, nas últimas décadas, este país lusófono vivenciou grande crescimento económico com a exploração de petróleo e gás. A crise terrorista em Cabo Delgado, contudo, tem colocado um travão num ainda maior crescimento. É nesta região de Moçambique que estão inseridas as principais multinacionais que fazem a exploração do gás e que já levaram a que as mesmas tivessem parado a produção. O presidente moçambicano, Filipe Nyusi, porém, já garantiu que este “problema está a ser tratado” e prevê que todas as empresas regressem a 100 por cento em 2023.