Nicholas Kristof defende que a política de combate às drogas em Portugal ‘não constitui um milagre’ ou uma ‘solução perfeita’, mas se os EUA pudessem alcançar a taxa portuguesa de mortes por overdose seria possível ‘salvar uma vida a cada 10 minutos’.
A discriminalização do consumo de drogas em Portugal deve servir de exemplo a vários países, nomeadamente aos EUA, não só por ser uma medida de “compaixão” para com os toxicodependentes, mas por apresentar resultados positivos, escreve o jornalista Nicholas Kristof no “New York Times”.
Num artigo de opinião, o jornalista norte-americano contrapõe o caso português ao dos EUA, sublinhando que os dois países seguiram caminhos opostos e hoje apresentam saldos diferentes. Se nos últimos 15 anos a política de combate às drogas nos Estados Unidos “falhou completamente”, tendo sido registadas cerca de 64 mil mortes por overdose, “Portugal poderá ter vencido a batalha contra as drogas”, refere Nicholas Kristof, frisando que o número de cidadãos que consumem heroína desceu de 100 mil para 25 mil durante este período, segundo os dados do Ministério da Saúde.
Desde a discriminalização do consumo de drogas em Portugal, em 2001 –durante o Governo socialista de António Guterres –, “a dependência de estupefacientes tem sido encarada mais como um desafio médico do que uma questão criminal” e os resultados estão à vista, observa o jornalista. Portugal transformou-se no país da Europa Ocidental com a menor taxa de mortalidade por consumo de drogas, sendo já um exemplo para várias nações que enviam equipas para conhecerem de perto as práticas.
Acrescenta ainda que a utilização da metadona como terapia de substituição é comum em Portugal, ao contrário dos EUA onde apenas 10% dos toxicodependentes têm acesso a este tipo de programas.
Segundo o colunista, o caso português “não constitui um milagre ou uma solução perfeita. Mas se os EUA pudessem alcançar a taxa de mortes por overdose em Portugal”, poderíam “salvar uma vida a cada 10 minutos”. Poderíam salvar “quase tantas vidas como as que se perdem atualmente com armas e acidentes de viação.”
“A lição que Portugal ensina ao mundo é que enquanto não conseguimos erradicar a heroína, é possível salvar as vidas de toxicodependentes – se nós tivermos vontade de tratá-los não como criminosos, mas como doentes, seres humanos que estão a sofrer e necessitam de mãos solidárias e não algemas”, conclui Nicholas Kristof.
































