Os emigrantes lesados do ex-Banco Espírito Santo (BES) voltaram a manifestar-se junto à Embaixada de Portugal em Paris.
A manifestação foi organizada pelo grupo Emigrantes Lesados Unidos para denunciar a falta de proposta comercial para os clientes que subscreveram os produtos financeiros EG Premium e EuroAforro 10 e para reclamar ao Fundo de Resolução 31,7% do capital investido, depois de um acordo com o Novo Banco que lhes vai dar acesso a 75% do dinheiro nos próximos anos.
Figura habitual nos protestos dos emigrantes lesados do BES, em Paris, Manuel José Ferreira voltou a manifestar-se e levou consigo a “forquilha do diabo” que o acompanhou a todas as manifestações na capital francesa.
“Desde 2014 que a trago comigo. Isto é o símbolo do diabo e este banco não foi o diabo para nós, foi o inferno. Muitas pessoas estão doentes – que eu conheço – paralisadas até, outras já se suicidaram. A gente está à espera do dinheiro porque precisa do dinheiro. Agora mandaram 60% para o banco, mas está bloqueado cinco anos”, afirmou.
O português de 63 anos, há 47 a viver em França, contou que a própria esposa está com uma depressão e referiu que ele próprio vai continuar a lutar para reaver a totalidade do capital que depositou no banco e “em solidariedade” para com os que ainda não têm qualquer proposta comercial.
“Eu penso que a uma certa altura vão ter vergonha, porque as pessoas não se vão calar. Isto são pessoas de uma certa idade que não têm nada a perder”, afirmou o emigrante que assinou, em agosto do ano passado, a proposta comercial do Novo Banco para recuperar 75% do dinheiro investido numa conta a prazo por cinco anos.
Graça Cruxinho detinha as suas poupanças numa conta que diz que foi “batizada como EG Premium” e agora está “a viver uma grande depressão”, depois de ter emigrado para França com 26 anos e estar “sem nada” aos 61.
“Tenho as minhas poupanças lá há mais de 20 anos, fiz confiança num banco que me traiu (…). O dinheiro que tenho está-me a fazer muita falta. Estou com a idade de parar de trabalhar e não posso parar”, contou a portuguesa, sublinhando que “é uma coisa injusta que estão a fazer” depois de “se trabalhar uma vida inteira”.
Um dos organizadores do protesto, Carlos Costa dos Santos, destacou que “há quem não tenha assinado proposta nenhuma” e esteja “sem nada”, pelo que as manifestações vão continuar até ser encontrada uma solução para todos.
“É novamente um novo protesto contra o Banco de Portugal porque é responsável da nossa situação. Estamos aqui para reclamar o resto do nosso dinheiro. Há aqui pessoas que assinaram a última proposta, há pessoas que não assinaram e há outras pessoas que têm produtos sem solução”, explicou.
A Associação Movimento Emigrantes Lesados Portugueses (AMELP) – cujos dirigentes não estiveram presentes no protesto – anunciou, a 09 de março, “avanços significativos” nas negociações para encontrar uma solução para os clientes dos produtos EG Premium e EuroAforro 10, sem se comprometer com uma data para a sua conclusão.
Foto em destaque ©Global Imagens