Portugal e o Luxemburgo são dois dos países subscritores de uma declaração conjunta que exclui a energia nuclear das fontes energéticas consideradas sustentáveis e dos alvos de financiamento europeu em matéria de energia.
O documento, que foi apresentado esta quinta-feira, na COP26, a cimeira do clima da ONU, que decorre em Glasgow, na Escócia, é também assinado pela Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca e Espanha.
“Queremos deixar claro que há um conjunto de países, incluindo alguns que têm nuclear, como é o caso de Espanha, que sentem que uma coisa é a utilização da energia nuclear, e até a admissão de alguns projetos do nuclear, mas daí a ele ser considerado sustentável de forma a obter fundos comunitários para a sua construção, isso nem pensar”, afirmou o ministro do Ambiente Português, João Matos Fernandes.
Esta declaração é assinada na mesma semana em que Emmanuel Macron anunciou, num discurso transmitido pelas TVs, que a França vai construir novas centrais nucleares.
O relançamento do programa nuclear é um dos pontos do pacote de medidas de promoção das energias alternativas aos combustíveis fósseis que o presidente francês revelou esta terça-feira, depois de já ter anunciado que iria apostar na tecnologia dos mini-reatores nucleares.
“Vamos, pela primeira vez em décadas, relançar a construção de reatores nucleares no nosso país e continuar a desenvolver as energias renováveis”, afirmou Macron.
A produção energética de França depende em dois terços de fontes nucleares. Apesar de ser considerada uma alternativa limpa aos combustíveis fósseis o risco de acidentes nucleares, como os que aconteceram em Chernobyl, na Ucrânia, ou, mais recentemente, em Fukushima, no Japão, e os perigos que envolvem para as populações e para o próprio ambiente, têm vindo a afastar muitos países dessa opção, nas políticas de transição energética, como é o caso do Luxemburgo.
Para o Luxemburgo, a forma de atingir a neutralidade carbónica até 2030 não passa pela energia nuclear, mas pelo “desenvolvimento massivo das energias renováveis, apoio à eficiência energética e aumento das interligações entre os mercados energéticos”, sublinhou o ministro da Energia e do Ordenamento do Território, Claude Turmes, no final de outubro, no auge da crise energética que obrigou os responsáveis europeus a reunirem de emergência.
As energias renováveis foram, em 2020, a principal fonte de energia na União Europeia (UE), ultrapassando pela primeira vez os combustíveis fósseis na produção de eletricidade, revela um relatório divulgado pela Comissão Europeia.
Ambientalistas e populações, assim como as autoridades alemãs, também se mostraram contra este projeto junto às fronteiras com o Luxemburgo e a Alemanha.
Em França, o relançamento do programa nuclear também já está a ser alvo de crítica, sobretudo pelos partidos ecologistas e da Esquerda e por organizações ambientalistas, como o Greenpeace.
Citado pela AFP, o líder de Esquerda, Jean-Luc Mélenchon, defendeu que “a energia nuclear deve ser abandonada” por ser “cara e perigosa”. Uma ideia secundada pelo ecologista Yannick Jadot, que deu como exemplo os custos excessivos e o atraso do reator em construção em Flamanville, na Normandia.
O mesmo exemplo foi dado pela Greenpeace, que, em comunicado acusou o anúncio de Macron de estar “desligado da realidade”.
Japão abandonou programa nuclear depois de desastre de Fukushima
Após o desastre na central nuclear de Fukushima, em 2011, que devastou a região noroeste do país, afetando 100 mil pessoas e contaminando os recursos naturais e o Oceano Pacífico, o Japão decidiu que iria abandonar progressivamente a produção de energia nuclear nas décadas seguintes.
Na altura, os especialistas estimaram que os trabalhos de limpeza do lixo radioativo e das zonas contaminadas poderiam levar décadas a estarem concluídos.
Antes de Fukushima, já a Alemanha e a Suíça tinham decidido abandonar a energia nuclear.