Os dados, fornecidos pela Aging In Place, resultam de um estudo de 30 países da OCDE. A demógrafa Maria João Valente Rosa considera a tendência natural.
Em 2020, a Aging In Place, organização norte-americana de prestação de serviços, conduziu um estudo baseado em dados da OCDE e compilou um ranking dos países com a taxa mais elevada de população acima dos 65 anos. Portugal ocupa a quinta posição numa lista de 30 países, uma situação que ilustra um retrato claro da tendência europeia: dos primeiros dez, apenas o Japão está geograficamente fora do continente.
Maria João Valente Rosa, demógrafa e docente da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH), refere que esta não é uma situação nova para o “continente grisalho” e que se trata de uma tendência global, explicada pelo desenvolvimento.
“Foram os países desenvolvidos os que começaram a envelhecer mais cedo. E existe ainda uma outra situação que os demógrafos chamam o dividendo demográfico. Tem que ver com o facto de que as pessoas que nasceram ainda em períodos de fecundidade elevada começarem a chegar às idades superiores.”
Para a especialista, não é estranho que sejam os países da Europa a apresentar estes níveis, ainda que existam nuances como é o caso dos países do sul do continente, designadamente Portugal.
“Portugal, à semelhança do que aconteceu com outros do Sul da Europa, foi um dos mais tardios a revelar níveis de fecundidade baixos”, aponta. “Perdemos a capacidade de renovar as gerações mais tarde do que os países do Norte, o que aconteceu no princípio dos anos de 1980. Éramos conhecidos como um país de descendência numerosa e, de um momento para o outro, baixámos.”
Esta alteração, impulsionada por um processo rápido de inversão da mortalidade a partir das décadas de 70 e 80, serve como base para a alteração do paradigma demográfico. “Tínhamos níveis elevadíssimos de mortalidade, taxas de mortalidade infantil vergonhosas e fizemos progressos assinaláveis”.
Isto resulta numa queda do número de nascimentos e num aumento da esperança média de vida, que está agora equiparada à do Norte da Europa. “No Japão, estão a chegar os baby boomers [pessoas nascidas entre 1946 e 1964] às idades superiores. Em Portugal, são as pessoas que nasceram em períodos de fecundidade muito elevada a ocupar essas posições”.
Segundo o estudo da Aging In Place, a lista é dominada pelo Japão (28,79%), seguindo-se Itália (23,37%), Finlândia (22,49%) e Grécia (22,40%). Em Portugal, a taxa de população com mais de 65 anos fixa-se nos 22,29%, mas a tendência é que continue a crescer.
“Com a mortalidade baixa, a fecundidade baixa e com este grupo a aumentar até 2040, é expectável que isto continue a acentuar-se no tempo. Vamos conviver no futuro com populações mais envelhecidas do que hoje.”
Uma posição corroborada por previsões das Nações Unidas e do Instituto Nacional de Estatística, que dão conta de que existe a possibilidade de que mais de um terço da população residente em Portugal tenha 65 ou mais anos em 2040, um número bastante superior à taxa atual.
Ainda assim, Maria João Valente Rosa mostra-se otimista. “É preciso perceber que as pessoas com 65 ou 70 anos, nada têm que ver com as do passado. São muito mais qualificadas, não são uma réplica ampliada. Por isso, termos mais pessoas com 65 anos, não quer dizer que temos mais pessoas em situação de doença, uma sociedade doente ou a morrer”.
Sobre uma eventual atenuante para a questão do envelhecimento, a resposta passa invariavelmente, diz, pelo saldo migratório positivo. Não apenas pelo aumento dos nascimentos.
“Não tem que ver com ter mais filhos, é preciso perceber que devido ao dividendo demográfico, as mulheres que estão a chegar ao período fértil são cada vez menos. Mesmo que tenham mais filhos do que aqueles que estão a ter agora, o número de nascimentos não vai ter um aumento tão significativo como o esperado”.
Segundo a PORDATA, entre 2011 e 2021, o número de mulheres no período fértil (entre os 15 e os 49 anos) diminuiu cerca de 286 mil. “Já são mulheres que nasceram em períodos de baixa fecundidade. A única forma, a médio prazo, de atenuar o envelhecimento é através dos saldos migratórios positivos se forem do tipo laboral”, refere.
Contudo, reforça a demógrafa, importa perceber que não há forma de parar o envelhecimento, “até porque ninguém quer regressar ao tempo em que toda a gente era nova porque ninguém chegava a velho. Espera-se que até 2040 tenhamos um acentuar muito significativo do envelhecimento em Portugal.”