“Envolver o senhor Presidente da República numa situação onde ele não tem rigorosamente nenhuma intervenção, mas vindo a público como veio, deixa-o naturalmente numa situação que eu acho que é incómoda do ponto de vista institucional”, afirmou Luís Montenegro durante uma declaração aos jornalistas na sede do PSD, no Porto.
O social-democrata fazia referência a notícias que referem que na audição de terça-feira na comissão de inquérito à tutela política da TAP, o deputado da IL Bernardo Blanco leu excertos de um e-mail em que o ex-secretário de Estado das Infraestruturas Hugo Mendes defende que seja adiado um voo que tinha como passageiro o Presidente da República.
Segundo o deputado Bernardo Blanco, Hugo Mendes sublinhava que era importante manter Marcelo Rebelo de Sousa como aliado da TAP.
Na terça-feira, na mesma comissão, a CEO da TAP não negou ter chegado à empresa esse `email´.
Classificando a situação de grave, Luís Montenegro considerou que Marcelo Rebelo de Sousa fará o que entender, nomeadamente a sua avaliação sobre as informações vindas a público. “Já tive ocasião de dizer e reitero, não me vou imiscuir na ação e no exercício dos poderes que lhe estão constitucionalmente consagrados”, disse.
Acrescentando que “conhecendo-o como o conhece” sabe que o Presidente da República não é indiferente àquilo que se está a passar na Assembleia da República.
Luís Montenegro acusou ainda o Governo de ter uma visão instrumental de Marcelo Rebelo de Sousa que aparece “aos olhos de membros do Governo como um peão do PS ao serviço da sua agenda”.
Presidência afirma que nunca contactou TAP nem Governo
A Presidência da República afirmou, numa nota escrita, que nunca contactou a TAP nem nenhum membro do Governo para uma mudança de um voo de regresso de Moçambique em março de 2022.
“A Presidência da República nunca contactou a TAP, nem nenhum membro do Governo sobre tal assunto. A Presidência da República nunca solicitou a alteração do voo da TAP, se tal aconteceu terá sido por iniciativa da agência de viagens”, lê-se na nota, enviada às redações.
Esta posição surge depois de na comissão parlamentar de inquérito sobre a TAP se ter falado numa troca de emails entre o então secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Mendes, e a presidente da Comissão Executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, sobre o eventual adiamento de um voo que tinha como passageiro o chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa.
A Presidência da República refere que “o Presidente da República deslocou-se a Moçambique em março de 2022” e que “a viagem foi tratada pela agência de viagens habitual, que terá feito várias diligencias e acabou por encontrar uma alternativa com a TAAG, via Luanda, no dia 23, mas o regresso de Moçambique acabou por se verificar a 21 de março de 2022, num voo regular da TAP (TP182)”.
Na mesma nota, acrescenta: “Tomámos conhecimento desta questão no dia 11 de fevereiro de 2022, quando a CEO da TAP perguntou ao chefe da Casa Civil, num jantar no Eliseu, a convite do Presidente Macron, a propósito da Saison Croisée França Portugal, se Sua Excelência o Presidente da República tinha solicitado a mudança do voo da TAP de 24 de março, o que foi imediatamente desmentido”.
Questionada sobre este assunto em comissão de inquérito pelo deputado da Iniciativa Liberal Bernardo Blanco, na terça-feira, Christine Ourmières-Widener mencionou que fez questão de verificar se se tratava realmente de um pedido da Presidência da República para uma mudança do voo.
“No fim, não fiquei surpreendida ao perceber que o Presidente da República nunca nos pediria para mudar um voo, que teria impacto no resto dos passageiros”, disse a gestora.
Na troca de emails, segundo o que foi lido na comissão de inquérito, o ex-secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Mendes, argumentava que era importante manter Marcelo Rebelo de Sousa como aliado da TAP.