Portugueses a viver em Varsóvia, na Polónia, organizaram “redes informais” de ajuda a refugiados ucranianos, tendo já encaminhado famílias para Portugal e dado “ajuda e carinho” a várias dezenas de mulheres e crianças que fogem da guerra na Ucrânia.
Paulina Matos vive em Varsóvia desde setembro. Acolheu em casa “uma parte” de uma família de quatro adultos e três crianças refugiadas, a “outra parte” da família ficou em casa de uma amiga e a “terceira parte” em casa de outra. As três amigas viram-se “no meio de uma rede de ajuda” que as pôs em contacto com outras famílias que de outra forma não conheceriam.
Ana e João foram viver para a Polónia em 2020, o contacto de Ana acabou adicionado a um grupo da rede ‘Whatsapp’ e o casal acabou a dar “apoio direto” a três famílias refugiadas, a distribuir comida, roupa e medicamentos por casas de desconhecidos que agora são “amigos e confidentes”.
“Já nem sei como isto começou. Acho que foi com o pedido de ajuda de uma amiga, portuguesa, via ‘Whatsapp’. Depois foi uma bola de neve, havia um pedido, víamos como podíamos ajudar, adicionava-se outra pessoa à história e quando dei conta tinha gente que não conhecia de lado nenhum a ligar-me a perguntar se podia ajudar uma certa família a ir para Portugal. É uma coisa um pouco de loucos”, explicou à Lusa.
A família que Paulina acolheu já está a viver em Portugal: “Foi complicado, não queriam ir porque era longe, depois não queriam deixar os carros, eram as únicas coisas que tinham. Foi complicado mas com umas mensagens a amigos e umas conversas conseguiu-se arranjar dinheiro para o combustível e uma caravana para irem acompanhados”, disse.
A casa de Ana e João não dava para albergar muita gente. “Temos três filhos, um já adolescente. Mas sentimos que tínhamos que fazer alguma coisa. Juntámos esforços com vários amigos, cada um dá o que pode e pede a quem pode e estamos a pagar renda, água, luz , alimentação e roupa a três famílias, um total de 16 pessoas, três mulheres e o resto são filhos e sobrinhos. Tem sido um desafio”, contou à Lusa João.
A guerra na Ucrânia provocou a fuga de mais de quatro milhões de refugiados para países vizinhos, maioritariamente para a Polónia, onde a população se tem mobilizado no apoio a quem chega, assim como os portugueses que vivem na capital polaca.
A “rede informal” de Paulina tem tido o apoio do Colégio Americano em Varsóvia: “A ajuda do colégio tem sido fundamental. Precisamos de roupa, vamos lá. De comida? Eles arranjam. Outro dia ligaram-me de Portugal, uma rapariga que não conhecia de lado nenhum, a dizer que conseguiu o meu número através de um amigo a perguntar se podia receber cinco carrinhas de comida. Encaminhei para o colégio. Dá outra segurança”, apontou.
Os três portugueses, que vivem em partes diferentes de Varsóvia, não se conhecem, mas até se podiam conhecer: “Há várias redes informais de portugueses a funcionar, a acolher famílias, a distribuir alimentos, roupa e a tentar encaminhar pessoas para outros países onde têm contactos”, explicou João.
“Acho que é uma coisa muito portuguesa, fazer os pés ao caminho e desenrascar sempre qualquer coisa. Numa escala pequena vamos conseguindo dar resposta e ajudar. Não estamos a trabalhar com nenhum entidade oficial, mas há sempre alguém que conhece alguém que trabalha em qualquer sitio e lá vamos fazendo o que podemos”, descreveu Paulina.
Mas as necessidades de quem chega a Varsóvia fugido da Ucrânia, reconhecem os três, não se ficam pela alimentação e alojamento.
“Precisam de um abraço, de carinho, de alguém, que tenha uma palavra de esperança. O que nem sempre é fácil de ter e nem sempre é fácil que aceitem. Perderam tudo mas têm orgulho e ainda há quem confunda solidariedade com caridadezinha”, referiu João.