Os emigrantes portugueses no Luxemburgo representam, em conjunto com as suas famílias, cerca de 16,4% da população do país, segundo dados do Observatório da Emigração.
A comunidade portuguesa no Luxemburgo sente “discriminação, desdém, indiferença, repulsa e ingratidão”. Quem o diz é o fotógrafo bracarense Luís Vilaça, que passou uma semana em Vianden, em abril de 2017, onde pôde testemunhar e compreender os desafios de quem vive no local na condição de imigrante.
Segundo o P3, o título do projeto, Scheiß Portugiesen (Maldito português), foi escolhido por consistir numa expressão que continua a ouvir-se com frequência no país.
“Pude presenciar este facto enquanto lá estava”, garantiu o fotógrafo em entrevista ao P3, e realçou: “Aconteceu ver-me envolvido numa rixa entre duas comunidades e ouvir scheiß portugiesen.”
“Se é verdade que saíram de Portugal sem os conhecimentos necessários para poderem ser bem-sucedidos, também é verdade que o Luxemburgo não lhes facilitou a vida”, refere o fotógrafo, apontando problemas como a discriminação de lusodescendentes em contexto escolar e imposições linguísticas no local de trabalho.
A questão da obtenção da nacionalidade luxemburguesa é outro obstáculo referido pelo fotógrafo. Isto porque as provas para aquisição de nacionalidade exigem o domínio do luxemburguês, que é apenas um dos três idiomas oficiais do país.
A discriminação laboral, segundo o autor, tem uma raiz muito mais profunda: penetra o tecido escolar luxemburguês.
“Os alunos de outras nacionalidades vêem-se, por vezes, prejudicados ao serem encaminhados para escalões de ensino inferiores e que darão, no futuro, acesso a empregos menos qualificados.”
Em 2016, Luís Vilaça começou a aperceber-se da complexidade da vivência da comunidade portuguesa no local. “Em consequência das dificuldades que enfrentam, os portugueses criaram uma subcultura, um círculo onde se sentem acolhidos, onde se esforçam por que a realidade vá de encontro ao que sonharam. Esta é uma comunidade que existe dentro de outra muito maior, mas que vive, paradoxalmente, fora da dela. Os portugueses vêem-se a si próprios como órfãos: vivem sozinhos e distantes de tudo o que os completa.”, conclui.