Portugal e Espanha vão submeter à UNESCO documentos sobre a viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães, numa candidatura conjunta ao Registo da Memória do Mundo, anunciou o Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva. Candidatura será apresentada até final de novembro.
Após a 4ª reunião da Comissão Nacional das Comemorações do V Centenário da Circum-Navegação, em Lisboa, Santos Silva detalhou que se trata de um conjunto de 15 documentos, incluindo o Diário de Pigafetta, cronista da viagem; um relato indireto, por Fernando de Oliveira; e 13 documentos que existem nos arquivos nacionais de Portugal e Espanha, “que permitem compreender”, também de outros pontos de vista, o significado absolutamente inaugural da viagem de circum-navegação.
Singularidade
O Ministro sublinhou a singularidade deste conjunto de documentos exemplificando com a carta que o Rei de Espanha dirigiu ao Rei português explicando que o facto de ter promovido e financiado uma viagem às ilhas Molucas não significava nenhuma tentativa de embaraçar ou prejudicar os interesses da coroa portuguesa.
“Esperamos que os outros 11 países percorridos pela viagem de circum-navegação se associem”, disse Santos Silva, acrescentando que “certamente apoiarão esta candidatura”.
O programa Memória do Mundo foi criado pela UNESCO em 1992 com o objetivo de proteger e promover o património documental mundial através da conservação e do acesso aos documentos.
Registo da Memória do Mundo
Neste registo estão inscritos diversos documentos e conjuntos documentais portugueses, o mais conhecido dos quais é a carta do achamento do Brasil, redigida por Pedro Vaz de Caminha.
Constam ainda deste registo o Tratado de Tordesilhas, o relatório da primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul, por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, o roteiro da primeira viagem de Vasco da Gama, o livro de registo de vistos concedidos pelo cônsul de Portugal em Bordéus Aristides de Sousa Mendes, entre outros.
Celebrações
As celebrações do quinto centenário da primeira viagem de circum-navegação, que foram profundamente afetadas pela pandemia de Covid-19, interrompendo, por exemplo, a viagem do navio-escola Sagres, vão incluir a publicação de resultados da investigação científica em curso.
“Já publicámos, este ano, o livro que apresenta sistematicamente os roteiros e os relatos do primeiro século de domínio do estreito de Magalhães, que foram objeto de investigação analítica e erudita da parte do historiador português Henrique Leitão e do investigador espanhol José María Morena”, referiu o Ministro.
“Esse trabalho já está editado e agora editaremos um segundo, que é a primeira abordagem desse primeiro século de travessias do estreito de Magalhães a partir das representações cartográficas, os mapas e os roteiros que foram sendo construídos para auxiliar os navegantes a atravessar o estreito”, acrescentou.
Diário de Pigafetta
Prevista para breve está, também, a publicação da “primeira tradução portuguesa, com os aparatos eruditos necessários, do texto canónico do diário de Pigafetta”, o cronista da viagem.
“Desde 1999 que dispomos de um texto fixado filologicamente a partir das várias versões que existem dos diários de Pigafetta. Esse texto, que ainda não está traduzido em língua portuguesa, passará a estar, mercê do trabalho de estrutura de missão e da equipa científica dirigida pelo professor Henrique Leitão”, disse Santos Silva.
Exposição
O Ministro destacou ainda outros projetos para o terceiro e último ano das comemorações do V centenário da viagem, como a organização da exposição Pelos Mares do Mundo, que tem uma equipa luso-espanhola de curadores e que abrirá ao público no próximo mês de maio, no Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto.
“Será o culminar de todo o trabalho que, no domínio das exposições, temos feito, e servirá também de ensejo para a organização de uma exposição itinerante com Espanha, por terras de Portugal e de Espanha, e que, de algum modo, fará a ligação entre o fecho das comemorações formais e a continuação, num e noutro país, da memória sobre esse feito extraordinário que foi a circum-navegação”, referiu.
Entre as atividades realizadas este ano, o Ministro destacou o início dos oito projetos de investigação no domínio das ciências do mar e da observação, financiados pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no valor de 2,4 milhões de euros, que estão em curso, com a apresentação dos primeiros resultados, prevista para 2022.
Na produção editorial, Santos Silva referiu “o universo das publicações especialmente dirigidas ao público infantojuvenil e de divulgação da viagem de circum-navegação, a importância de Fernão de Magalhães e Juan Sebastián Elcano e o significado da viagem para a história portuguesa”.
A primeira viagem à volta do planeta realizou-se em 1519/1522, tendo sido capitaneada por Fernão de Magalhães e, depois da morte deste, nas Filipinas, por Juan Sebastián Elcano.