A Agência Europeia do Ambiente (AEA) publicou o mais recente relatório Estado do Ambiente, segundo o qual «a Europa enfrenta desafios ambientais de uma escala e urgência sem precedentes».
Publicado de 5 em 5 anos, o relatório revela que de uma forma geral o estado do ambiente na Europa tem piorado, e aponta a (falta de) proteção da biodiversidade como a maior falha.
O relatório indica que a Europa não irá cumprir a maior parte dos objetivos que estabeleceu para 2020, e se as tendências se mantiverem o resultado será uma maior degradação dos ecossistemas, da água, do ar e do solo.
Entre os resultados mais sombrios deste relatório está o facto de a Europa continuar a perder biodiversidade a um ritmo catastrófico. Os animais, plantas e habitats protegidos pela Diretiva Habitats da UE continuam com estatutos de conservação predominantemente desfavoráveis: 60% das espécies e 77% dos habitats estão ameaçados.
A monitorização a longo prazo mostra tendências negativas para aves e borboletas comuns, sendo os declínios mais significativos os das aves de zonas agrícolas (32%) e das borboletas de zonas de pastagem (39%).
Dos 13 objetivos políticos específicos estabelecidos para 2020 nesta área, é provável que apenas 2 sejam cumpridos: a designação de áreas protegidas marinhas e terrestres. Sem planos e ações de gestão adequados, estas áreas são protegidas apenas no papel, a perda de biodiversidade continuará, e irá acelerar ainda mais as alterações climáticas, às quais ficaremos ainda mais vulneráveis.
Segundo Domingos Leitão, Diretor Executivo da SPEA, «o relatório da Agência Europeia do Ambiente é mais uma prova gigantesca para juntar aos inúmeros estudos científicos que dão provas da crise que criámos a nível planetário. A Natureza está a ser apagada da face da Terra, com consequências nefastas para a própria humanidade, e ninguém pode dizer que não sabíamos». As tendências, ao longo dos últimos 25 anos, mostram que as aves, e em particular as aves de habitats agrícolas, têm sofrido declínios significativos e não mostram qualquer sinal de recuperação. «Isto deve-se principalmente à má aplicação das políticas agrícolas pelos estados membros», refere o responsável.
«Portugal, por exemplo, tem investido centenas de milhões de euros na agricultura intensiva, do regadio e do plástico, e ignorado completamente a necessidade e a obrigatoriedade legal de investir dinheiro do desenvolvimento rural na agricultura sustentável, em particular dentro da Rede Natura 2000», sublinha.
Domingos Leitão diz ainda que «os agricultores cujas explorações estão nas áreas protegidas e classificadas vêem-se impedidos de fazer uma gestão favorável à biodiversidade por falta crónica de apoios do Ministério da Agricultura. O relatório da AEA declara que uma reforma da Política Agrícola Comum (PAC) ainda poderia ajudar as populações de aves a recuperar».
Para a semana, a nova Comissão Europeia vai lançar o seu Acordo Verde Europeu (European Green Deal).
«A resposta dos governos europeus será crucial para responder à dimensão da crise que temos entre mãos. Esta semana ouvimos o Primeiro-Ministro de Portugal na COP25, em Madrid, dizer que os políticos têm o dever de ouvir os cientistas e de agir para salvar o planeta».
Para Domingos Leitão, esta mensagem do Primeiro-Ministro «deverá ser dirigida, em primeiro lugar, para o seu executivo e para os seus ministros».
“Portugal deve de uma vez por todas ter uma ação coerente com o seu discurso. Deixar de promover o regadio e a agricultura intensiva, abster-se de autorizar projetos imobiliários e turísticos na linha de costa, acabar com a sobre-exploração dos recursos pesqueiros, e proteger as reservas e parques naturais do impacto causado por aeroportos, minas e outros projetos destrutivos”, diz o responsável.
“Se o Governo de Portugal ouvir os cientistas e cumprir a Lei em matéria de ambiente o nosso futuro será bem melhor”, conclui