Perante uma plateia de convidados portugueses e lusodescendentes, no Palácio do Eliseu, o Presidente francês sublinhou que existe uma “história de amor entre Portugal e França”, depois de citar Fernando Pessoa. Palavras que abriram solenemente a Temporada Cruzada Portugal-França 2022, que arrancou, assim, esta sexta-feira, no centro do poder francês, o Palácio do Eliseu, em Paris.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, deu o pontapé de saída, na passada sexta-feira, para a Temporada Cruzada Portugal-França 2022. Num jantar de gala no Palácio do Eliseu, o chefe de Estado francês falou de “história de amor entre Portugal e França”, enquanto Marcelo Rebelo de Sousa disse que “há caminho a fazer juntos” e que “tem a certeza”, que o vão fazer se Macron se mantiver na presidência “nos próximos cinco anos”.
Um poder que os portugueses também detêm em França, seja nas artes ou na economia, de acordo com Emmanuel Macron, que recordou que o Théâtre de la Ville de Paris é dirigido por Emanuel Demarcy-Mota, que o Festival de Teatro de Avignon vai ser comandado por Tiago Rodrigues e que José Manuel Gonçalves é o diretor do Centquatre. Como contraponto, apresentou o Museu de Serralves, no Porto, como sendo dirigido por um francês.
Emmanuel Macron disse que “a comunidade francesa em Portugal continua a crescer”, com cerca de 50 mil pessoas, “mas menos que os dois milhões de lusodescendentes em França”. Afirmou, ainda, que “as relações económicas entre os dois países têm cifras eloquentes” e admitiu ter “roubado talentos a Portugal” para desenvolver empresas francesas, ainda que haja “13 mil milhões de euros de investimento francês em Portugal”.
O chefe de Estado francês lembrou, ainda, que a França aderiu à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa em 2018 e que Portugal vai aderir, em breve, à Organização Internacional da Francofonia.
Emmanuel Macron explicou que a Temporada Cruzada Portugal-França conta com 500 eventos nos dois países para “celebrar em França a riqueza do património cultural português e revelar o Portugal contemporâneo que inventa, inova e avança”. Disse que é preciso “continuar esta longa conversa que têm há vários séculos os artistas” de ambos os países, apontando Vieira da Silva, Fernand Léger, Eduardo Viana e Robert Delaunay. Macron destacou que, nesta temporada, a pintura portuguesa do século XVII vai estar em destaque no Louvre, as telas de Nicolas Poussin vão para o Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa, as obras de arte da Fundação Gulbenkian vão para o Hôtel de La Marine e “As Três Graças” de Pedro Cabrita Reis vão estar no Jardim das Tulherias. Destacou, ainda, o concerto da “grande pianista Maria João Pires” e da Orquestra da Fundação Calouste Gulbenkian, a exposição sobre os Panteões português e francês e o espetáculo “Mosaico de Vozes Lusófonas” no Théâtre du Chatelet.
Emmanuel Macron aproveitou para “sublinhar o que a França deve ao povo português”, como a “ajuda que a jovem república portuguesa deu a uma França enfraquecida durante a Primeira Guerra Mundial e a coragem heroica dos soldados da Segunda Divisão Portuguesa durante a Batalha de La Lys em 1918″. Disse várias vezes que “a França não esquece”, como “não esquece o engajamento dos portugueses na Resistência”, “a coragem do cônsul em Bordéus Aristides de Sousa Mendes que salvou várias dezenas de milhares de pessoas, nomeadamente 10.000 judeus” e “a imensa contribuição dos portugueses para a reconstrução e expansão económica francesa quando acolheu, do final dos anos 50 aos anos 70, centenas de milhares de portugueses em busca de uma vida melhor”.
O Presidente francês lembrou que foi em Paris que foi gravada a Grândola Vila Morena, que Zeca Afonso e Mário Soares se refugiaram na capital francesa e que, hoje, os dois países “partilham um destino comum no seio da União Europeia”.
Presidente português responde à “história de amor” com um “coração de francófono”
Emmanuel Macron falou em “história de amor”, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu com o seu “coração de francófono”. O Presidente português começou por lembrar que o primeiro rei de Portugal era descendente de um francês, que a poesia medieval foi influenciada pelos trovadores franceses, que os valores do Iluminismo, a liberdade, os sistemas: administrativo, político, económico e social são oriundos da “sabedoria francesa”, mesmo antes das invasões de Napoleão.
Marcelo Rebelo de Sousa enumerou as influências da cultura francesa em Portugal, desde o teatro de Molière, Racine e Corneille, à literatura de Flaubert, Balzac, Zola, Modiano, Le Clézio, passando pelo cinema de Godard e Truffaut, pela música de Debussy e até pelas “croissanteries” que invadiram “um bairro operário perto do Palácio de Belém”.
“Estamos juntos em tudo”, resumiu o chefe de Estado português, falando nos dois milhões de portugueses e lusodescendentes em França, das posições comuns na ONU, NATO, União Europeia, dos valores de “paz, direitos do homem, democracia, multilateralismo, reinvenção do humanismo”.
A declaração de amor de Marcelo Rebelo de Sousa terminou com um brinde e um encorajamento a Emmanuel Macron, tendo em vista as eleições presidenciais de abril em França: “Agora caminhamos juntos, e você disse, meu caro Emmanuel, que há muito a fazer. Eu vou estar presente nos próximos quatro anos. Cabe-te a ti mostrar que vais estar aqui também nos próximos cinco anos. Isso não o podemos fazer de Portugal, votar em França. Mas há um caminho a fazer e vamos fazê-lo juntos. Tenho a certeza.”
Jantar de gala para marcar o arranque da Temporada
Depois de ter participado, sexta-feira, numa cimeira internacional sobre oceanos na cidade francesa de Brest, o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, foi o convidado de honra do jantar de arranque da Temporada Cruzada Portugal-França, no Palácio do Eliseu.
No jantar estiveram, também, os ministros português e francês dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva e Jean-Yves Le Drian, a ministra francesa de origem cabo-verdiana Elisabeth Moreno, entre outros ministros. Entre os convidados, estavam, ainda, a pianista Maria João Pires, os artistas Pedro Cabrita Reis e Joana Vasconcelos, o realizador Ruben Alves, o encenador e presidente da Temporada Emmanuel Demarcy-Mota, vários empresários e autarcas da comunidade portuguesa em França.
Paralelamente, na sexta-feira à noite, a Filarmónica de Paris acolheu um “Salão Fado” e o concerto “Portugal Rêvé” [“Portugal Sonhado”] com a soprano portuguesa Raquel Camarinha e o pianista Bruno Belthoise, conhecido por divulgar a música erudita portuguesa em França.
Este sábado, é inaugurada a obra “As Três Graças”, de Pedro Cabrita Reis, no jardim do Museu do Louvre, e vai haver um concerto da pianista Maria João Pires na Filarmónica de Paris.
No domingo, a Filarmónica de Paris acolhe os fadistas Carminho e Camané, enquanto o Théâtre du Chatelet é palco do “Mosaico de Vozes Lusófonas”, um conjunto de concertos com o bissau-guineense Mû Mbana, o cabo-verdiano Miroca Paris, o brasileiro Luca Argel e os portugueses Kátia Guerreiro, João Berhan e Sopa de Pedra.