Sonho, destino, coração, amor, vida paixão, são palavras que estarão eternamente ligadas a Tony Carreira, tantas foram as canções, as letras, as histórias e as emoções vividas que as inspiraram, ao longo dos últimos 36 anos. Tony Carreira vai atuar no dia 16 em Fátima, no Festival da Saudade, um grande evento nacional dedicado às famílias de emigrantes que vêm passar férias em Portugal e, por esse motivo, concedeu entrevista à revista Comunidades.
Entrevista conduzida por Abílio Bebiano
Revista Comunidades: Da Pampilhosa da Serra para França. Como foi “dar o salto”?
Tony Carreira. Dei o salto da Pampilhosa para a França há 50 anos. Eram outros tempos: levava sonhos comigo, porque a minha aldeia, como eu digo na canção, estava “perdida na beira”. Hoje, felizmente, já não está assim tão isolada, porque já há muitas formas de estarmos mais próximos, o mundo mudou
Na altura, eu só conhecia a minha aldeia, nada mais. Ouvia falar do que do que se passava em França, do tal sonho. Era tipo o sonho americano de que tanto se fala e eu ia muito contente por dar esse salto. Quando cheguei lá, rapidamente percebi que não era bem assim…
- O seu percurso começou em França a esgotar concertos e, hoje, é um dos cantores portugueses mais bem-sucedidos de sempre. Como é que foi essa trajetória?
- TC. Eu diria que foi uma trajetória normal, pois há sempre um caminho a percorrer até ter algum sucesso e, por vezes, infelizmente, há quem percorra esse caminho e não chegue a lado nenhum. Eu tive a sorte de conseguir construir a carreira que conhecem e sou muito grato à vida por isso!
- Sente-se amado em Portugal?
- Se eu me sinto amado em Portugal? Sim, sinto-me muito, muito mesmo!
Os portugueses acarinham-me muito – e isso vai muito para lá do meu publico, na verdade. O que eu sinto é que os portugueses, de uma forma geral, têm por mim um carinho muito grande e eu estou muito grato e feliz por isso. Sinto esse carinho diariamente.
- Depois de tantos anos de sucesso, o coração ainda bate mais quando percebe a quantidade de pessoas que tem à sua espera a cada concerto?
- TC. Isto é das perguntas que mais me fazem: se o coração ainda bate quando entro em palco. A resposta é “sim” e já percebi que será assim até ao fim.
- Em cada concerto que dá lembra-se da sua aldeia, perdida na beira… Cada vez que lá volta, quais são os momentos mais marcantes que relembra?
- A minha aldeia tem um lugar muito especial no meu coração, porque eu tenho recordações muito fortes do tempo que lá vivi – apesar de só ter vivido lá até aos 10 anos. São recordações muito presentes e muito fortes, como as recordações de infância de grande parte das pessoas. Neste caminho da vida, haverá uma ligação eterna com a minha terra através da minha filha porque ela adorava lá ir. E não há dia nenhum que não me lembre, quando penso nela, nos momentos tão bonitos que ela lá viveu.
- RC. Tony Carreira, o cantor de sonhos concretizados ou por concretizar?
- Se me fizessem esta pergunta há quatro anos, eu teria uma resposta totalmente diferente da de hoje. Hoje, estou grato à vida por tudo o que me deu, já não tenho mais sonhos para lá disso.
- Já conquistou os maiores palcos do mundo – Olympia e Zenith em Paris, o imponente Emperors Palace na África do Sul, o marcante Queen Elizabeth nos Estados Unidos, a mítica Brixton Academy em Londres – e em Portugal esgota o Pavilhão Atlântico, o Coliseu… Há algum local do mundo que ainda falte conquistar?
- Se me faltam muitos palcos onde cantar? Sim, há tantos! Porque ao mesmo tempo que falo do Olympia, dos Estados Unidos, de Londres, Coliseus, Atlânticos… nunca cantei na Índia, nunca cantei no Cazaquistão… Portanto, a resposta é “sim”, ainda há muitos sítios onde ainda não cantei.
- E relativamente às músicas, as que ficam no ouvido de todas as fãs… qual é a música que ainda hoje lhe toca mais na alma?
- “No tempo”. Não quer dizer que seja a canção mais bonita que eu gravei, porque, certamente, não o é; mas é, sem dúvida, uma canção muito especial e foi o público que me influenciou ao longo do tempo porque, em 1997 quando a canção foi editada, não teve o sucesso que teve os “Sonhos de menino”.
- RC. Para quando um novo disco? Vai ser mesmo o último?
Vou entrar em estúdio em setembro e, assim que estiver finalizado o disco será editado. Não posso dizer que é o último, porque posso mudar de opinião no processo de gravação. Mas sim, poderá ser o último de inéditos. Nunca o afirmei, mas talvez venha a ser.
- Com quem gostaria de fazer um dueto?
- TC. Com muita gente! Há tanta gente a cantar bem, há tanta gente de quem eu gosto. Gostaria de gravar com vozes femininas, mas também com vozes masculinas. Há, por exemplo, um artista que eu gosto muito, tanto do ponto de vista artístico como humano, que é o Matias Damásio – e penso esse dueto ainda vai acontecer. E Rita Guerra, que também poderá vir à acontecer. Há muita gente com quem eu gostava de gravar.
- RC. Trinta e seis anos depois, o que é que gostava de dizer às suas fãs que nunca tenha dito?
- Sou muito grato e não há concerto onde eu não agradeça por todo o seu apoio, que é o verdadeiro motor da minha carreira.
- O que é podemos esperar do concerto no Festival da Saudade?
- O Festival da Saudade é um festival que eu sinto que vai ser muito interessante e espero que seja a primeira de muitas edições, com muito sucesso. É um festival que eu sinto que é uma coisa séria, sólida, bem pensada e bem-intencionada. Por isso, tenho muto orgulho em participar nesta 1ºedição do Festival da Saudade e espero os portugueses sintam o mesmo apelo e que façam dele um verdeiro sucesso.
TONY CARREIRA – Biografia
Nome completo: António Manuel Mateus Antunes
Nascimento: 30 de dezembro de 1963 (60 anos)
Local de nascimento: Armadouro, Cabril, Pampilhosa da Serra, Portugal
Nacionalidade: portuguesa
Período em atividade: 1988–presente
Editora(s): Discossete, Espacial, Pomme, Farol Sony Music Portugal
Vida pessoal
O cantor é pai de três filhos: Mickael (nascido em 1986), David (nascido em 1991) e Sara (nascida em 1999 e falecida em 2020). Os três filhos seguiram as pisadas do pai como músicos e, no caso de David, juntando carreiras na moda e representação. Sara foi uma das cantoras de “Martin et les fées: Un conte féérique en chansons”, disco que reúne músicas baseadas no conto francês homónimo e que conta ainda com a participação de, entre outros, Gad Elmaleh, ex-namorado da princesa Charlotte do Mónaco.
Em agosto de 2014, separou-se da mulher, Fernanda Antunes, mãe dos seus três filhos. Casados desde 1985, o divórcio só se efetivou em 2019, após a divisão da fortuna de 10 milhões de euros em moradias, apartamentos e carros de luxo.
A 5 de dezembro de 2020, a cantora Sara Carreira, filha de Tony Carreira, morre num acidente de viação em Santarém, na autoestrada A1, com 21 anos.
A 2 de maio de 2021, o dia das Mães em Portugal, Tony Carreira anuncia oficialmente nas redes sociais a fundação de uma associação em memória da sua filha, a Associação Sara Carreira com o apoio da sua ex-mulher, Fernanda e dos seus dois filhos, Mickael e David. O objetivo é conceder bolsas de estudo a crianças carentes para que possam realizar seus sonhos.
Popularidade e condecoração
Muito popular entre as comunidades portuguesas de emigrantes em França e também em Portugal. Em 2016, Tony Carreira foi condecorado pelo governo francês com a medalha de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras. A Ordem das Artes e Letras é uma condecoração concedida pelo Ministério da Cultura da França que visa recompensar “as pessoas que se distinguem pela sua criação no domínio artístico ou literário ou pela sua contribuição ao desenvolvimento das artes e das letras na França e no mundo”.