Um presépio, um pinheiro enfeitado, azevinho, bacalhau e muito calor humano não podem faltar no Natal dos milhares de portugueses que vivem e trabalham no estrangeiro.
Junte o presépio aos presentes, embrulhados com ternura, misture com o cheiro do pinheiro e o tremeluzir das velas. Acrescente a alegria das crianças à ementa festiva e sirva bem quente. Estes são os ingredientes para a melhor receita de Natal, com a família à volta de uma mesa repleta de iguarias e tradição.
É nesta quadra que vemos chegar ao nosso país muitos emigrantes que anseiam pelo tão esperado abraço e reencontro com a família, sem dúvida o melhor presente de todos. Mas, seja pelos constrangimentos que ainda existem, devido à pandemia, ou pela dificuldade em conciliar a viagem com o trabalho nos países de acolhimento, muitos portugueses passam o Natal longe da terra, e das pessoas que os viram crescer.
Ainda que muitos não consigam vir a Portugal nesta altura, há tradições que os portugueses a residir no estrangeiro fazem questão de manter para colmatar a ausência e atenuar a saudade. A quadra natalícia continua a ser sinónimo de família e por isso a prioridade é juntar familiares e amigos “à volta da lareira” e conviver como se estivessem na terra natal, recordado a tradição portuguesa da consoada, aqueles que estão longe, ou simplesmente replicando os natais da infância.
O Natal é, para os portugueses, uma das celebrações mais importantes do ano. Designada como a festa da família por excelência, é costume realizar-se a consoada depois da Missa do Galo. Assim, tal como acontece em Portugal, muitos portugueses além-fronteiras continuam a não prescindir da homilia de Natal, na noite de 24 para 25 de dezembro, mantendo a tradição da celebração religiosa, mas também promovendo o encontro das comunidades e um momento de aproximação às sociedades dos países que os acolhem.
A consoada, de grande singularidade gastronómica no nosso país, acontece sempre na noite de 24 de dezembro. Segundo a tradição portuguesa, a mesa não pode ser retirada e, assim, noite adentro, vão se juntando novos pratos e a mesa continua posta até o dia seguinte, em homenagem ao menino Jesus. São muitas as “Casas de Portugal”, organizações e coletividades culturais portuguesas espalhadas por toda a diáspora que realizam anualmente o jantar de Natal para as comunidades, onde não faltam as iguarias típicas da época.
Segundo a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), apesar dos novos desafios que se apresentam no novo contexto económico e social, provocados pela pandemia Covid-19, “a exportação de produtos portugueses, registou ao longo dos últimos anos um crescimento constante, devido à atitude cada vez mais sofisticada, agressiva e reinventada das empresas nacionais, para enfrentar mercados de maior valor por parte dos produtos nacionais”.
Em Newark, nos Estados Unidos, estabeleceu-se, por exemplo, uma rede de supermercados que pertence ao Grupo Seabra, detentores da importadora Triunfo (a maior importadora de produtos nacionais no país), que “presenteia” os portugueses nesta quadra com o bacalhau, polvo, enchidos, azeite, vinhos da Beira Alta, e doces típicos como a aletria, o leite creme ou o bolo-rei. Há uma vasta gama por onde escolher e garantir que o Natal vai ser celebrado com o devido “sabor a Portugal”.
Há, hoje em dia, em quase todas as comunidades espalhadas pela diáspora lusa, um acesso relativamente fácil a estes produtos, que muitos têm “a sorte” de encontrar em lojas, armazéns e supermercados locais, proporcionando aos nossos emigrantes um Natal à portuguesa, com certeza!
Natal português no Mundo: tradições que se mantêm
França
A comunidade portuguesa em França é a mais numerosa das comunidades portuguesas na Europa, e uma das principais (estrangeiras) estabelecidas no país, rondando um milhão de pessoas. O espírito natalício português é vivido, também aqui, e muitos emigrantes contam com inúmeros mercados de Natal espalhados um pouco por toda a França. O maior e mais conhecido é o Mercado de Estrasburgo, que ao longo do mês de dezembro acolhe visitantes de toda a Europa. Nestes mercados, os portugueses encontram geralmente doces tradicionais, como o bolo-rei, os sonhos, doces regionais e vinhos portugueses. Não faltam também artigos como os bordados de Castelo Branco, joias em filigrana, guitarra portuguesa, artesanato, ícones da cultura portuguesa bastante procurados nesta altura.
Luxemburgo
Portugal é tradicionalmente representado nos vários mercados de Natal da cidade do Luxemburgo, com vários produtos gastronómicos e culturais. Todos os anos, produtos portugueses são divulgados e vendidos nos stands do Centro de Apoio Social e Associativo (CASA), levando ao Natal dos nossos emigrantes um pouco da sua terra de origem. Muitos procuram estes mercados para “matar saudades” e degustar os típicos produtos gastronómicos e bebidas portuguesas, tais como castanhas assadas ou a famosa ginja de Óbidos, servida em copo de chocolate, mas também para conviver e comprar diversos produtos de artesanato para oferecer.
Alemanha
São mais de 130 mil os portugueses a residir atualmente na Alemanha. Para estes emigrantes, o melhor do Natal continua a ser o reencontro, os abraços, a família e os amigos, portos de abrigo para aqueles que não podem deslocar-se “à terra” nesta quadra. Assim, os portugueses juntam-se, “em casa uns dos outros”, preparam o bacalhau, capricham nas decorações das casas e deixam no ar o aroma da tradição lusa. Na Alemanha, é comum os portugueses visitarem os Mercados de Natal que se realizam nas principais cidades, como o a Feira de Natal no Gendarmenmarkt, em Berlim, onde encontram as tradicionais barraquinhas de artesanato e especialidades gastronómicas típicas da época. É também nestes mercados que muitos investem na divulgação da cultura lusa, como Ana Cláudia Färber, que começou a vender produtos de cortiça portuguesa em mercados de Natal da zona de Berlim e Brandeburgo há seis anos.
Angola
É sabido que a quadra natalícia se tornou conhecida em Angola com a colonização. Na sequência da evangelização, o Natal passou a fazer parte das celebrações do país e é hoje assumido como “tradicional”. Comemorado em toda a parte é, no entanto, mais celebrado nas cidades, onde o nível social da população é mais elevado. O Natal aqui é tipicamente português, e não faltam os ingredientes característicos da gastronomia lusa, como o grão-de-bico, azeite, batatas, ovos, uvas, passas, amêndoas, nozes, pinhões, ingredientes para a confeção de bolos, e o fiel e tradicional bacalhau, sem faltarem as bebidas. Em Angola, também se celebra a missa na noite de 24 para 25 de dezembro e, durante o dia, é comum realizarem-se danças folclóricas que dão vida às cidades angolanas.
Cabo Verde
Sendo um país da diáspora, o Natal é também bastante festejado em Cabo Verde e, claro está, em família. É nesta altura que muita gente regressa ao país, ou à sua ilha natal, para comemorar a data junto de familiares. Nas zonas urbanas, as famílias preparam pratos típicos do Natal português onde se inclui o bacalhau, geralmente cozido com legumes, ou o peru assado no forno. Nas zonas mais rurais é tradição confecionar-se a “cabritada”. Refira-se que a ementa de Natal, em Cabo Verde, depende de ilha para ilha. Em Santo Antão e São Nicolau, por exemplo, é comum preparar-se o xerén e a chanfana e, no Fogo e Santiago, o djagacida e o tchacina, bem como os fidjose e os pastéis de milho.
Macau
As ruas de Macau enchem-se nesta altura de grandiosas decorações nos principais pontos turísticos, como o Leal Senado, o Largo da Sé e a avenida da Praia Grande. A árvore de Natal é um dos pontos altos da decoração natalícia da cidade, geralmente colocada no largo do Leal Senado e, o presépio, colocado tradicionalmente no Largo da Sé. Neste canto do mundo, famílias portuguesas decoram as suas casas com os elementos tipicamente alusivos a esta quadra e mantêm a tradição gastronómica da ceia de Natal, cuja ementa inclui as couves e o bacalhau cozido ou o peru assado no forno. Entre os doces que os portugueses fazem questão de ter à mesa, encontram-se as rabanadas, os sonhos e o bolo-rei. A noite de Consoada termina com a ida à igreja (Sé) para assistir à Missa do Galo.
Festa de Natal | 20 Anos da Casa de Portugal em Macau
Dia 4 de dezembro a Casa de Portugal em Macau (CPM) assinala os seus 20 anos de existência e realiza, na Torre de Macau, o Jantar de Natal, convívio anual entre os sócios, família e comunidade. A CPM é uma referência para a comunidade portuguesa, mas também um elemento distintivo de cooperação com as demais comunidades do Território, reunindo cerca de 700 cidadãos de várias nacionalidades que são “Amigos da Cultura Portuguesa”.
A Festa de Natal e o jantar comemorativo dos 20 anos vão ser uma montra das atividades da instituição e o contributo para animar a comunidade portuguesa a residir no território. Os principais destinatários deste jantar são as crianças e vai a haver, para estas, a tradicional entrega de presentes.
Brasil
Emigraram para o Brasil em busca de novas oportunidades e condições de vida e, quando chega o Natal, os portugueses a residir neste país lusófono mantêm os laços com a cultura de origem. Enfeitam o pinheiro de Natal, montam o presépio, celebram em família a noite de consoada, assistem à Missa do Galo e não deixam passar em branco a troca de prendas. Porém, existe aqui uma diferença: em dezembro é verão no Brasil e esta época é vivida pelos portugueses num clima de muito calor, contrariando a tradição de um Natal tipicamente português, junto à lareira.
Canadá
Neste país vivem cerca de meio milhão de portugueses e lusodescendentes, com uma forte relação com os Açores e o Minho, dois locais tradicionais de origem dos emigrantes no Canadá. A véspera de Natal, para muitos portugueses a residir aqui, constitui uma oportunidade para juntar a família, muitas vezes espalhada por um país-continente, recordando a tradição portuguesa da consoada. Por isso, os preparativos para a festa são muito semelhantes ao que aconteceria em Portugal. O facto de grande parte dos emigrantes viver em centros em que estão em grande quantidade torna mais fácil fazer-se um Natal à portuguesa. Aqui têm geralmente acesso a todos os “condimentos”, como é o caso do fiel amigo bacalhau, que não pode faltar na ceia de Natal.
Estados Unidos
O Natal é vivido aqui “com toda a pompa e circunstância portuguesa”, conta à Revista Comunidades Carlos Ferreira, um português a residir em Newark (New Jersey) há 16 anos. Desde os pratos típicos, como o bacalhau “com todos”, ou o bolo-rei, passando pela celebração da missa do galo, a tradição mantém-se. A comunidade portuguesa está profundamente enraizada na costa leste dos Estados Unidos, “há missas celebradas em português diariamente e há produtos importados de Portugal para que os pratos tenham esse sabor a “casa Portuguesa”, refere Carlos Ferreira. Normalmente a tradição americana dita que as prendas se abram no dia 25 de manhã, depois da “visita do Pai Natal”, mas, “os portugueses aqui nem dão tempo ao Pai Natal para descer a chaminé em condições”, conta o músico e jornalista, entre risos.
Na ceia de Natal, marcada por um ambiente familiar, onde não falta boa gastronomia portuguesa “com sabor a nostalgia”, o clima é de solidariedade, com as típicas queixas de que o “mall” (centro comercial) estava “loucamente cheio” (no caso dos que deixam as compras para a última da hora). No dia 25, o prato mais apreciado é a célebre “Roupa Velha”, preparado com as sobras, que aviva memórias e prolonga o espírito da terra sentido no outro lado do Atlântico.