O que seria do mundo sem os corajosos, esforçados flexíveis, humildes e brilhantes emigrantes lusos no século XVI? Já os nossos navegadores tinham aberto os olhos para o Novo Mundo. Mas voltavam à sua terra, aos entes queridos, aos amigos, às raízes.
Os emigrantes deixavam o fruto da sua vida, bens materiais e imateriais, relações que fazem do humano um ser superior. Ao superar o vazio, perceber o novo mundo e as novas gentes, criar empatia e novas relações, o português foi longe. A diferença entre tudo que aprendera na sua terra e o que via no estrangeiro o levava a indagar ‘o que é melhor’ e a integrar, para inovar.
Com o pau-brasil, ouro, açúcar, a seda, as iguarias e os escravos, veio a riqueza e o desperdício dos talentos pela realeza. A Liberdade-Igualdade-Fraternidade nascida em 1776 nos EUA e fortalecida em 1789 em França, só nos chegou cem anos depois. A guerra Norte-Sul nos EUA e as revoltas em Paris, típicas da resistência às mudanças, só nos chegaram pelos 1900.
Como em França, a injustiça social e a miséria resultaram na grande onda de emigração de Portugal, mormente para o Brasil e África, desde os 1850. Ao levar a corte para o Brasil, D.João VI levou aceitáveis condições de vida, como escolas e hospitais. Do norte foram para as roças do Brasil e fundaram, por exemplo, Bragança Paulista.
Os emigrantes, ao se confrontarem com inesperadas adversidades inovam. Ao acabar o ciclo do pau, cataram ouro. Quando este rareou, plantaram a cana sacarina, depois o café. Com a abertura dos portos, exportaram minérios, frutas tropicais, tudo.
Diferente de outros povos que maltratava os escravos, a maioria dos nossos colonizadores tentava ganhar a sua simpatia. Não havia liberdade no conceito europeu, nem miséria, tinham roupa, casa e comida. Os emigrantes ouviam as necessidades e o potencial de outros, criavam empatia com eles, e integravam o seu talento com o potencial local para melhorar tudo para todos.
A partir dos 1950 os emigrantes para França, fugiam a pé pelas gélidas montanhas espanholas, aceitando condições de vida terríveis, a aprender uma nova profissão, fazer-se credível, confiável a um povo muito exigente, a procura de mão-de-obra barata. Aumentou a tenacidade, flexibilidade e humildade que caracteriza os luso-descendentes de hoje.
Os filhos e netos dos nossos emigrantes de então, com essas habilidades, honram-nos em posições invejáveis. São senadores nos EUA e no Brasil, embaixadores de França, até PM do Luxemburgo. Em 1965 eu próprio recrutei para a Suécia centenas de soldadores da Lisnave. Em 85 chefes para projetos em África. Em 2005 engenheiros para a Suécia e depois sugeri a Austrália.
Hoje os nossos emigrantes são líderes em investigação científica, na captação da energia solar, biotecnologia, informática, tudo. São ótimos comerciantes em Nova Jersey e França, construtores no Luxemburgo e na Suíça, donos de pastelarias e restaurantes por todo o mundo.
Os emigrantes e as suas associações, se bem articulados, podem aumentar muito as nossas exportações de bens com mais-valia. Já promovem os vinhos e trazem milhões de turistas, cada vez com mais valor gasto por cá.