O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embarcou, na manhã desta terça-feira (11/4), para a China, onde cumprirá agenda dos dias 12 a 14 de abril. Inicialmente, a viagem estava prevista para ocorrer no fim de março, mas precisou ser adiada após Lula ter sido diagnosticado com pneumonia e influenza.
Segundo o Palácio do Planalto, a comitiva presidencial será composta pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda), Marina Silva (Meio Ambiente), Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária), Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação), Mauro Vieira (Relações Exteriores), Alexandre Silveira (Minas e Energia), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social).
A delegação brasileira também irá incluir os governadores Jerônimo Rodrigues (PT-BA), Elmano de Freitas (PT-CE), Carlos Brandão (PSB-MA), Helder Barbalho (MDB-PA) e Fátima Bezerra (PT-RN).
Além disso, a Presidência convidou 40 parlamentares para integrarem a comitiva, dos quais 26 confirmaram presença, sendo oito senadores e 19 deputados.
Agenda internacional
O Itamaraty e o governo chinês preparam a assinatura de cerca de 20 acordos bilaterais, sendo um deles voltado para a construção do CBERS-6, o sexto de uma linha de satélites construídos em parceria entre Brasil e China. O diferencial do novo modelo é uma tecnologia que permite o monitoramento de biomas como a Floresta Amazônica, mesmo com nuvens.
A viagem de Lula à China começará por Xangai, no dia 13 de abril. Pela manhã, o presidente irá participar da cerimônia de posse da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) no comando do Novo Banco de Desenvolvimento, o banco de fomento dos Brics, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. À tarde, terá encontros com empresários.
No dia seguinte, 14 de abril, Lula terá agenda em Pequim. Na capital chinesa, terá uma reunião com o presidente da Assembleia Popular Nacional, Zhao Leji, no Grande Palácio do Povo. Depois, Lula irá depositar flores numa cerimônia na Praça da Paz Celestial.
No mesmo dia e no período da tarde, Lula vai-se encontrar com lideranças sindicais e depois voltará ao Grande Palácio do Povo, onde se reunirá com o primeiro-ministro da China, Li Qiang. Na sequência será recebido em cerimônia oficial pelo presidente Xi Jinping.
A programação entre os chefes de governo inclui um encontro aberto, uma cerimônia para assinatura de acordos bilaterais, seguida de uma reunião bilateral fechada. No fim do encontro, haverá uma cerimônia de troca de presentes, registo de fotos e, por fim, um jantar oficial.
Antes de regressar ao Brasil, Lula ainda passará por Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, em 15 de abril.
Lula na China
A China será o quarto país que Lula visita desde que tomou posse, em janeiro deste ano. O presidente fez a sua primeira viagem à Argentina e a segunda ao Uruguai. Em fevereiro, visitou os Estados Unidos.
Esta é a terceira vez que Lula viaja para a China na condição de presidente da República. A primeira vez que o Lula foi ao país asiático foi em 2004, durante o seu primeiro mandato. A segunda, já na segunda gestão como mandatário do país, ocorreu em 2009.
Segundo o governo brasileiro, a visita de Lula à China “faz parte da reconstrução das relações internacionais”. A China é o maior parceiro comercial do Brasil.
Em 2022, o produto brasileiro mais vendido para o mercado chinês foi a soja, com 36% do total exportado, seguido pelo minério de ferro com 20% e o petróleo com 18%. O perfil da exportação mudou um pouco em janeiro e fevereiro de 2023, com o petróleo na liderança com 23%, seguido pela soja (22%) e o minério de ferro (21%).
Cooperação mais abrangente relacionada ao Cinturão e Rota deverá será alcançada
Especialistas chineses disseram que a visita elevará os laços bilaterais a um nível mais alto, com uma cooperação mais abrangente não apenas em áreas tradicionais como comércio e investimento, mas também em finanças, combate à pobreza, cooperação sob o enquadramento da iniciativa do Cinturão e Rota (Cinturão e Rota), bem como mediação conjunta sobre a crise na Ucrânia.
Analistas da China e do Brasil ficaram surpreendidos que a visita pudesse ser remarcada tão cedo, e isso prova que ambos os governos têm grande sinceridade e forte motivação para promover ainda mais sua parceria estratégica abrangente e formar novas certezas com seus esforços para superar a crescente incerteza no cenário internacional.
O Brasil é um dos poucos países que ainda não aderiram à iniciativa do Cinturão e Rota proposta pela China. Ao responder a uma pergunta sobre se a próxima visita contemplaria a assinatura de um acordo de cooperação no âmbito do Cinturão e Rota entre a China e o Brasil, Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, disse na segunda-feira que “a iniciativa do Cinturão e Rota é uma iniciativa de cooperação completamente aberta e transparente. Estamos disponíveis para trabalhar com todos os membros da comunidade internacional, promover conjuntamente a cooperação para a construção do Cinturão e Rota e envidar esforços para promover o desenvolvimento conjunto de todos os países”.
Guo Cunhai, especialista em estudos latino-americanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais, disse ao Global Times na segunda-feira que, “se a viagem de Lula puder fazer o Brasil ingressar formalmente no Cinturão e Rota, isso significa que haverá 22 países latino-americanos formalmente na iniciativa proposta pela China, o que tem um grande significado para demonstrar que é muito bem-vinda no continente”.
Em 2022, a Argentina assinou um memorando de entendimento sobre a cooperação no âmbito do Cinturão e Rota. Se o Brasil aderir à iniciativa, isso significa que passará a abranger efetivamente a maior parte da América do Sul, disse Guo. “Isso seria simbólico”.
Além da cooperação no Cinturão e Rota, o acordo de compensação de yuans anunciado anteriormente entre a China e o Brasil é também um sinal significativo para o mundo de que, como duas grandes economias em ascensão e dois países do BRICS, a China e o Brasil estão determinados a impulsionar a recuperação pós-pandemia juntos e reduzir as incertezas e interrupções criadas pelos EUA e alguns de seus aliados. Ambos pretendem também eliminar gradualmente a dependência do dólar americano para o comércio e investimento internacional, segundo os analistas.
Wang disse que a China encoraja e apoia todos os esforços para ajudar a encontrar uma solução política para a crise na Ucrânia. “Estamos disponíveis para trabalhar com todos os membros da comunidade internacional, incluindo o Brasil, para continuar desempenhando um papel construtivo na promoção de uma solução política para a crise na Ucrânia”, disse Wang.
Lula irá propor um “clube da paz” com a China para mediar o fim do conflito na Ucrânia quando visitar a China, informou o Financial Times em 24 de março, antes do presidente brasileiro adiar sua viagem no mês passado, devido a um problema de saúde.
“Estamos muito interessados em promover ou ajudar a gerar algum tipo de encontro que leve a um processo de paz”, disse Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores do Brasil, ao Financial Times em entrevista. “O presidente disse tantas vezes que ouve muito sobre a guerra, mas muito poucas palavras sobre a paz. Ele está interessado em conversas sobre a paz”.
Guo disse que a China e o Brasil são grandes potências neutras reais com influência global que podem resistir à pressão para manter a tomada de decisão independente na diplomacia. A ideia do presidente Lula de um “clube da paz” é trazer mais países neutros para cooperar através da mediação. O Brasil reconheceu o papel construtivo da China em ajudar na solução política da crise, por isso é muito provável que os dois lados tenham uma coordenação e cooperação mais estreitas na mediação da crise na Ucrânia.
Além desses campos estratégicos, é provável que os dois lados cooperem também em indústrias verdes, agricultura e proteção ambiental, disseram especialistas. Como a China está buscando “cadeias de suprimentos verdes” para se conectar com outros países para o comércio agrícola, um especialista brasileiro que está visitando a China acredita que isso trará grandes oportunidades para o Brasil.