A Cabo Verde Airlines (CVA) anunciou hoje a retoma dos voos internacionais em 18 de junho, 15 meses após a suspensão da atividade, devido às restrições da pandemia de covid-19, arrancando inicialmente com uma ligação entre a ilha do Sal e Lisboa.
Em comunicado enviado à redação, a companhia, liderada desde 2019 por investidores islandeses, refere que “irá oficialmente retomar as suas operações no dia 18 de junho com um voo semanal, às sextas-feiras, entre a ilha do Sal e Lisboa, em Portugal”, acrescentando que essa retoma “será gradual, conectando o arquipélago através do ponto central no Sal” e que as reservas estão disponíveis a partir de hoje.
Segundo a companhia, posteriormente, de 28 de junho até 28 de março de 2022, a CVA irá operar quatro voos semanais entre Praia/Sal e Lisboa às sextas e segundas-feiras, um voo semanal para e de Sal/Praia/Boston à terça-feira, com regresso à quarta-feira, e um voo semanal para e de Sal/São Vicente/Paris ao sábado com retorno ao domingo.
A companhia, sem realizar voos comerciais desde o encerramento dos aeroportos cabo-verdianos, em 19 de março de 2020, para conter a pandemia de covid-19, sublinha que este retorno “será gradual e far-se-á com dois aviões”.
Citado no comunicado, o diretor-executivo da companhia, Erlendur Svavarsson, afirma que este é só o começo. “Estamos entusiasmados pelo facto de podermos, finalmente, ressuscitar a companhia aérea das cinzas da pandemia. As praias do Sal, os restaurantes únicos e o calor e hospitalidade do povo cabo-verdiano irão receber de braços abertos os visitantes a um destino que é verdadeiramente diferente de todos os outros”, afirmou.
Em março de 2019, o Estado de Cabo Verde vendeu 51% da então empresa pública TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde) por 1,3 milhões de euros à Lofleidir Cabo Verde, empresa detida em 70% pela Loftleidir Icelandic EHF (grupo Icelandair, que ficou com 36% da CVA) e em 30% por empresários islandeses com experiência no setor da aviação (que assumiram os restantes 15% da quota de 51% privatizada).
No comunicado de hoje, a CVA refere ainda que “dependendo da taxa de vacinação e do desbloqueio das fronteiras internacionais, é esperado o lançamento de novas frequências e destinos adicionais”, logo que “as condições pandémicas o permitam”.
Acrescenta que nesta retoma passa a dispor de um novo serviço de sistema de passageiros, denominado HITIT, “uma plataforma moderna com uma solução de vendas, operações e contabilidade integrada” e que “irá aumentar a eficiência e a confiabilidade do apoio ao cliente”.
A companhia garante que “aproveitou” a “paragem forçada” desde março de 2020 “para se reorganizar, treinar as suas equipas e implementar um novo sistema de vendas que permite que os passageiros sejam automaticamente notificados de todos os voos em andamento”.
“Um investimento enorme em experiência do cliente do qual se espera resultados frutíferos com o intuito de tornar a companhia mais ágil e confiável”, sublinha a CVA.
Em entrevista à Lusa na cidade da Praia em 15 de abril, aonde regressou no dia anterior da Islândia, com o Boeing-757 “Baía de Tarrafal”, que aterrou no aeroporto internacional da capital mais de um ano depois de ter sido colocado em situação de armazenamento no exterior, Erlendur Svavarsson explicou que a situação financeira da companhia é agora “especialmente boa”, mas garante que o Estado cabo-verdiano não injetou qualquer verba, contrariamente ao que aconteceu com as concorrentes portuguesas que operam em Cabo Verde.
“Na verdade, o Estado de Cabo Verde, não injetou qualquer verba, contrariamente aos nossos concorrentes da SATA e da TAP, que continuam a receber contribuições do Estado português. O Governo de Cabo Verde tem sido muito diligente com os recursos públicos e não deu qualquer dinheiro à CVA até ao momento. Apenas garantias, o que quer dizer que a companhia está a ter acesso a empréstimos, que agora representam fundos suficientes para dar o próximo passo no processo de refinanciamento da companhia”, sublinhou Erlendur Svavarsson.
As companhias aéreas SATA e TAP são as únicas que mantêm, até agora, ligações regulares das ilhas cabo-verdianas de São Vicente, Sal e Santiago à Europa e aos Estados Unidos, mas ambas estão sob intervenção do Estado português, devido às consequências da pandemia de covid-19.
“A situação financeira da CVA é especialmente boa porque, apesar da pandemia, conseguimos refinanciar a companhia, ganhámos acesso a liquidez, com o apoio do Governo”, afirmou, referindo-se aos sucessivos avales do Estado – avalizando empréstimos de cerca de 20 milhões de euros desde novembro – para reestruturação de créditos anteriores e pagamentos de salários a trabalhadores.
Contudo, o presidente da companhia sublinha que ao longo do último ano foi possível manter os mais de 300 trabalhadores, embora em regime de ‘lay-off’, através do modelo simplificado criado pelo Governo para apoiar as empresas cabo-verdianas afetadas pela pandemia, além de não terem sido renovados contratos a prazo.
“Agora vamos ter de esperar para ver como é que o setor do turismo vai recuperar e retomar as operações para determinar o nível de trabalhadores que vão continuar (…) Mas devo dizer que fizemos um trabalho especialmente positivo ao manter as responsabilidades sociais para com os trabalhadores e quero agradecer-lhes porque, por vezes, foram muito pacientes connosco. Por vezes os salários foram pagos com atraso, o que é algo terrível e peço-lhes desculpa por isso e tenho a certeza que com uma equipa como esta a CVA não vai falhar”, reconheceu.
Apesar das dificuldades que o grupo Icelandair também enfrenta na Europa, à semelhança das restantes companhias, devido ao impacto da covid-19 no turismo, Erlendur Svavarsson afirmou que a aposta na CVA e no ‘hub’ que tinha sido instalado na ilha do Sal — servindo de base para os voos de e para África, Europa, América do Norte e América do Sul – é para manter.
“Absolutamente. Foi um investimento estratégico que foi feito pela Loftleidir Cabo Verde e pelos seus acionistas, e a crença continua muito forte neste modelo de negócio de ligar quatro continentes. A crença continua muito forte em Cabo Verde como destino de turismo e quando consideramos a cultura, as pessoas, o ambiente da ‘morabeza’ e tudo o que Cabo Verde tem para oferecer, acredito que temos uma posição muito forte”, concluiu.