“Na minha casa, Natal é com Presépio”, diz Mariano Ferreira, ao jornal Sol Português, um emigrante açoriano residente em Hamilton e que há 23 anos põe de pé nesta quadra um Presépio gigante que ocupa, ora toda a sua sala e quarto de jantar, ora metade desse espaço, conforme a sua disponibilidade nesse ano.
O que é certo é que o faz sempre e aplica nele o seu maior amor e a sua maior fé, nutrindo pela cena da natividade um carinho enorme, pois como diz, para ele, “sem as figuras do Presépio não é Natal”.
“Comecei com umas poucas figuras, num cantinho de um quarto, e fui aumentando. O gosto foi-me incutido pelos meus pais, principalmente pela minha mãe que, mesmo numa casa pobre, fazia questão de manter o presépio como um elemento fundamental na época de Natal. Sempre tivemos esta tradição e desde que vim para o Canadá, talvez pela saudade à terra, fez-me fazer, com muito empenho, este Presépio que foi sempre crescendo. Agora tenho peças que dão para metros e metros de presépio”.
O açoriano fez-nos saber que, em conjunto com os filhos, com quem vive, dedica normalmente quatro ou cinco serões à elaboração deste “projecto”, que nunca é igual e muda todos os anos, colocando certas figuras ou deixando de fora outras.
Este ano, por exemplo, “os touros na Terceira não tiveram espaço” e “tiveram de ficar presos nas caixas”, diz-nos em jeito de brincadeira.
São luzes, são peças animadas, é água a correr, exemplificando a sua “Ribeira Grande”, e são também elementos bem característicos do Canadá que se juntam à tradicionalidade açoriana e fazem com que este Presépio seja único e especial.
“Sou de lá, mas vivo cá, tinha de ter coisas dos dois locais do meu coração”, diz-nos com convicção.
Com a alegria e espontaneidade que o caracteriza, o emigrante realça que este ano mereceu destaque no seu Presépio uma oferta e a bandeira da Croácia, que lhe foram dadas pela namorada, que é croata.
Com muito orgulho, Mariano Ferreira abre a porta do seu espaço a todos os que o querem visitar e diz-nos que todos os anos passam pelo seu lar muitos colegas de trabalho, famílias e turmas das escolas, confessando que “dá muita alegria e até emoção ver o sorriso na cara das crianças, são elas que podem, talvez, continuar esta tradição”.
No Presépio deste ano, destaque mais uma vez para os Açores: nele estão presentes cenas da matança de porto, a casa dos pais (lá e cá), a barbearia do avô e do tio, a banda de música, os romeiros, as folias de Rabo de Peixe, o edifício da Câmara Municipal da Ribeira Grande… até a mãe a cozer o pão, cujo sabor lhe dá ainda tantas saudades.
A religiosidade está igualmente patente, quer na encenação da Procissão do Senhor Santo Cristo dos Milagres, quer na presença do coreto com o altar em honra do Divino Espírito Santo e a coroa bem iluminada.
Para além de muitas outras imagens, há ainda a referir as Portas da Cidade de Ponta Delgada, a cervejaria do “seu” Benfica e lá no cimo a imagem do Menino Jesus que, como sempre, se assume como centro deste Presépio.
Há também uma figura que curiosamente surge com o rabo virado para a porta… É o “Mariano”, o famoso “Caguei-te Mariano”, figura muito peculiar, com traços micaelenses, que a todos faz rir.
O novo comboio que os filhos lhe ofereceram a par de figuras que têm mais de 50 anos estão também à vista de todos, incluindo um burro com 110 anos – um burro velho que ganha um brilho especial, não por ser burro (que é um animal inteligente), mas por ter mais de um século e deixar sentir que ali “há passado”; um passado que o liga “à terra e à família”.
Mariano Ferreira afirma que, sempre que lhe pedem, faz Presépios para os vizinhos e os amigos, apenas com duas condições: por fé e por querer manter viva a tradição.
“Vou à casa das pessoas e sinto muito gosto em poder fazer as crianças felizes, por passar um pouco desta tradição. Fico feliz em poder fazer com que noutras casas haja Presépios, pois só assim há verdadeiramente Natal”, diz.
“Bom Natal, ou Merry Christmas”, deseja em ambas as línguas, a marcar uma vivência que o une aos dois lados do Atlântico.