Há mais caravelas-portuguesas a dar à costa do nosso país, um fenómeno que está associado às alterações climáticas. Só na última semana de Abril, estes organismos aquáticos foram avistados em 18 praias do continente e das ilhas.
A chegada aos areais de um número cada vez maior destas criaturas gelatinosas, que podem causar lesões graves e dolorosas na pele humana, exige uma “maior sensibilização” não só da população, mas também “dos profissionais de saúde”.
Na semana passada, foram registados avistamentos um pouco por todo país, da Póvoa de Varzim a Aljezur, além da presença recorrente nos arquipélagos (Faial, São Jorge, Terceira, São Miguel, Funchal e Santa Cruz, por exemplo). Relativamente aos primeiros três dias do mês de Maio, já foram identificadas caravelas-portuguesas em 29 praias de Ovar a Aljezur (continente), Angra do Heroísmo, Ponta Delgada, Vila Franca do Campo e Lagoa (Açores) e Funchal e Porto Santo (Madeira). Desde 2 de Janeiro de 2023, já foram registados 583 avistamentos em Portugal, dos quais 230 são referentes à caravela-portuguesa.
“Há aqui certamente um ângulo climático. Estamos neste momento a analisar os dados dos últimos sete anos precisamente para compreender de que modo a mudança do clima está a influenciar os arrojamentos. Há um aumento de ocorrências e estamos a tentar perceber que razões estão por trás disso”, explica Antonina dos Santos, investigadora do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e responsável pelo projeto GelAvista.
10 cuidados a ter após a picada
- Lavar a zona afetada com água do mar e nunca com água doce. “Se não for salgada, existe uma diferença osmótica que pode potenciar o veneno”, diz a cientista Antonina dos Santos.
- Não esfregar a zona queimada.
- Remover com uma pinça os vestígios do animal que possam estar ainda na pele.
- Aplicar vinagre puro, sem diluição prévia, na zona afetada. Este conselho é válido apenas para a picada de caravela-portuguesa, uma vez que “o vinagre desnatura as proteínas do veneno da Physalia physalis”, refere o cientista Ricardo Dinis-Oliveira.
- Em alternativa, pode aplicar uma compressa de água quente (aquecida a 40 graus Celsius), durante 20 minutos.
- Não aplicar álcool sobre a queimadura.
- Jamais usar amónia para tratar a lesão.
- Ignorar o conselho de que, se alguém urinar sobre a ferida, a dor passará. “Esta recomendação não apresenta qualquer fundamento científico”, diz o investigador Ricardo Dinis-Oliveira.
- Não recorrer a ligaduras ou pensos rápidos.
- Se estiver em choque, com dores persistentes ou dificuldades em respirar, ir ao centro de saúde ou às urgências hospitalares.
O que é um arrojamento?
Arrojamentos é o nome que se dá às situações em que animais marinhos ficam encalhados na costa. É sempre uma circunstância trágica para as caravelas-portuguesas, que não têm grande controlo sobre os movimentos e já não conseguem regressar ao mar. Embora estes fenómenos sejam naturais, eles tendiam a ser ocasionais e a obedecer uma certa sazonalidade e recorrência geográfica. Agora, há uma “visível” multiplicação e variabilidade destes episódios.
“Estes arrojamentos deixam de ser naturais, quando são em muito maior número, dez ou 20 caravelas numa mesma zona, por exemplo. Começa a haver também muita variabilidade; normalmente surgem no fim da Primavera, até ao Verão, mas há anos em que aparecem em pleno Inverno”, relata Antonina dos Santos.
Há diferentes aspetos das alterações climáticas que podem estar relacionados com o aumento de seres gelatinosos nas praias. Além das caravelas-portuguesas (Physalia physalis), também têm sido avistados veleiros (Velella velella) em Portugal. A mudança do clima potência a subida dos termómetros do planeta e promove a expansão térmica do oceano. Além da temperatura das águas, há uma variabilidade a ter em conta não só na sazonalidade, mas também na direção e na intensidade dos ventos ou das correntes.