O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, dedicou as primeiras palavras do discurso do 25 de Abril à Guerra Colonial, na sessão solene comemorativa dos 47 anos da Revolução de 25 de Abril na Assembleia da República em Lisboa, 25 de abril de 2021.
Em 25 de abril de 1974, um movimento de capitães derrubou a ditadura de 48 anos, de Marcelo Caetano, chefe do Governo e de Américo Tomás, Presidente da República, num golpe que se transformou numa revolução, a “revolução dos cravos”.
Marcelo Rebelo de Sousa recuou, não 47 anos, mas 60, ao início da Guerra Colonial, que “para sempre marcou a vida dos que combateram”, do país que cá ficou, dos que recusaram essa partida, dos que “viveram e morreram do outro lado da trincheira”.
Numa revisitação da história mais recente do país, Marcelo lembra que “o olhar de hoje não era o desses tempos”. O olhar de hoje tem uma “densidade personalista, de dignidade da pessoa humana, da condenação da escravatura e do esclavagismo, de recusa do racismo e das demais xenofobias”, um olhar que se foi apurando, num “avanço cultural e civilizacional”. Mas é uma “missão ingrata julgar o passado pelos olhos de hoje” e pelos valores que agora são evidentes.
E não se pode levar esse olhar de hoje, adverte o Presidente da República, ao ponto de se passar de “um culto acrítico triunfalista exclusivamente glorioso da nossa história, para uma demolição global acrítica”.
O Presidente da República diz que é “prioritário estudar o passado e dissecar tudo” – o que houve de bom e o que houve de mau. E fazê-lo sem “autocontemplações globais indevidas ou autoflagelações globais excessivas”.
Pelo caminho, o Presidente da República deixa um elogio à associação 25 de Abril (que esta semana esteve no centro da polémica por causa do desfile desta tarde na Avenida da Liberdade), e aos militares que fizeram a revolução, bem como a Ramalho Eanes – o único ex-Presidente da República que assiste à sessão solene e que é aplaudido. E sublinha que as diferentes sensibilidades entre os militares não travaram a necessidade de “unidade que a tudo o mais se sobrepunha”.
“Que os anos que faltam até aos 50 anos sirvam para trilhar esse caminho, assumir honras e fracassos, mas construindo coesões e inclusões e não intolerâncias. Que o 25 de Abril viva como gesto libertador e regenerador, sem álibis, nem apoucamentos”, defendeu o chefe de Estado, que manteve sempre a intervenção neste tom, não se pronunciando sobre temas da atualidade, caso da corrupção – apontada por muitos partidos na sessão desta manhã.
E Marcelo Rebelo de Sousa termina assim o seu discurso: “Não há nem nunca houve um Portugal perfeito, não há unem nunca houve um Portugal condenado”.
Ao contrário do que é habitual, Marcelo é aplaudido por quase todos os deputados (com exceção de Ventura). Mas com BE e PCP incluídos, o que não é costume.