Paris tornou-se a primeira capital europeia a proibir as trotinetes. No passado domingo, os parisienses votaram pela decisão de banir este meio de transporte cada vez mais comum nas grandes cidades.
Neste escrutínio inédito para deliberar sobre o uso de um meio de mobilidade participaram 103.084 eleitores (o correspondente a 7,46% dos parisienses inscritos nas listas eleitorais), tendo 89,03% votado pela proibição deste transporte individual. Segundo a AFP, as trotinetes deverão desaparecer das ruas da cidade dentro de cinco meses.
“A 1 de setembro, não haverá mais trotinetes self-service em Paris”, confirmou Anne Hidalgo ao anunciar os resultados da consulta popular no domingo à noite.
A presidente socialista da câmara da capital tinha-se comprometido “a respeitar o resultado” do referendo, tendo ela própria feito campanha pelo “não” às trotinetes, sublinhando que a proibição de circulação destes pequenos veículos motorizados reduziria os impactos negativos no pavimento e nos passeios na cidade.
Cinco anos depois de permitir as trotinetes no seu espaço público, Paris torna-se agora a primeira capital europeia a proibi-las. Os veículos deixarão de poder circular quando os contratos que ligam a cidade aos três operadores privados Dott, Lime e Tier Mobility terminarem, no final do verão.
Os partidos da oposição consideraram, contudo, que a participação na votação foi demasiado baixa para ser considerada uma vitória da democracia, como classificou a presidente da autarquia.
“Os parisienses mostraram o seu profundo desinteresse na votação (…) organizada por Anne Hidalgo”, referiu a oposição de direita, numa declaração citada pela AFP. O conselheiro municipal Pierre-Yves Bournazel (Horizons) denunciou aquilo que afirmou ser “a falta de empenho do executivo municipal” para esta consulta popular.
Já os três operadores privados de trotinetes referiram, numa declaração conjunta, que a mobilização para o referendo, realizado em 20 locais da capital, “poderia ter sido mais ampla e mais representativa se os métodos de votação tivessem sido diferentes, com mais mesas de voto, votação eletrónica, informação municipal”.
“O resultado desta votação terá um impacto direto sobre os movimentos de 400.000 pessoas por mês”, apontaram as três empresas, que gerem 15.000 veículos na cidade e que pagam à capital cerca de 930.000 euros por ano pela sua circulação.
Contudo, de acordo com a AFP, os operadores terão usado métodos controversos para influenciar a votação a seu favor, como oferecer um passeio gratuito ao domingo ou recorrer a influenciadores nas redes sociais para mobilizar os clientes jovens. “É completamente legal”, defendeu Nicolas Gorse, diretor-geral da Dott France.
Os operadores também alertaram para as consequências económicas de uma proibição, já que o negócio de aluguer de trotinetes, em Paris, representa 800 empregos. “A partir de agora, a nossa prioridade como empregadores responsáveis é assegurar o futuro dos nossos empregados”, disseram os três operadores no domingo à noite.
David Belliard, do departamento autárquico responsável pelos transportes, garantiu que a câmara trabalhará com as empresas nos “aspetos sociais” para minimizar o impacto da proibição nos trabalhadores.
Por outro lado, aqueles que defenderam a proibição das trotinetas elétricas argumentaram, entre outras coisas, o facto de estas serem abandonadas em qualquer parte do espaço público, de passarem com excesso de velocidade pelos peões, em passeios, ou de contribuírem para a pegada ambiental.
Os perigos que representam para a segurança física das pessoas quando são mal conduzidos foram outros dos fatores apontados. Em 2022, estes veículos estiveram envolvidos em 408 acidentes em Paris, dos quais resultaram em três mortos e 459 feridos, de acordo com as autoridades.
“Estamos satisfeitos” com a votação, disse à AFP Arnaud Kielbasa, cofundador da Apacauvi, associação que defende as vítimas de acidentes com trotinetes. Para Kielbasa, o sistema “self-service é muito propenso a acidentes e muito poluente”, sendo “incompatível com cidades densamente povoadas como Paris”.