Um lusodescendente criou a ‘1.ª rede social mesmo social’, cujo objetivo é substituir o dinheiro pela entreajuda, e vai ser lançada oficialmente em novembro em França e em janeiro em Portugal.
Stéphane de Freitas criou a rede, batizada de Indigo, que substitui o dinheiro pela entreajuda e vai chegar ao público depois de uma fase de testes de dois anos e meio, com 24.000 pessoas. Em 2015, foi «o projeto com mais ‘crowdfunding’ em França» e onde obteve apoio da Microsoft.
Após o lançamento em França e em Portugal, será também lançada na Grécia e na Costa do Marfim.
«Tive o privilégio de ser convidado, no início deste ano, para o salão VivaTech (Paris) e pude falar no palco logo após o Mark Zuckerberg. Anunciei que a Indigo podia ser a primeira rede social mesmo social. Hoje, as redes sociais só fazem ‘business’, mas há 600 milhões de pessoas que, no dia-a-dia, nem sequer podem ter acesso a comida ou roupa ou coisas elementares para a vida delas», explicou à Lusa Stéphane de Freitas.
Segundo o criador, a rede Indigo baseia-se na solidariedade: um membro pode oferecer um bem ou um serviço a alguém que necessite, aumentando, em troca, o seu coeficiente ‘GoodVibes’ que lhe vai permitir aceder a outros bens e serviços que ele próprio precise.
«Cada vez que uma pessoa pede um serviço ou um objeto e você lho der, o seu coeficiente ‘GoodVibes’ aumenta e você também pode ter contrapartidas. Quanto mais você ajudar associações, mais o seu coeficiente aumenta. E quanto mais esse coeficiente aumentar, mais o preço das coisas diminui», acrescentou o lusodescendente.
A ideia do projeto nasceu na sequência da criação, em 2012, da associação La Coopérative Indigo, cujo objetivo era facilitar os laços sociais. Face à constatação de que «as 571 pessoas mais ricas do mundo tinham tanta riqueza quanto meio mundo», Stéphane de Freitas tentou imaginar «o sistema económico mais justo que pudesse existir».
Além de França, o país onde nasceu e onde tem feito outros projetos de índole social, o lusodescendente quer lançar oficialmente a aplicação em Portugal e na Grécia, devido às crises financeiras por que passaram e ao espírito de solidariedade que demonstraram, um valor que também vê como basilar em África.
O empreendedor é também realizador do documentário “À voix haute : La Force de la parole”, que foi nomeado para os prémios do cinema francês Césars 2018 na categoria de “Melhor Filme Documentário”, e deixou um alerta sobre a importância de “saber falar”.
O filme retrata o concurso de eloquência que ele criou, a pedagogia “Porter sa voix”, num distrito dos subúrbios de Paris, para ajudar jovens dos bairros socialmente desfavorecidos a falar em público, ganhar confiança e encorajar o diálogo entre pessoas de meios diferentes. Entretanto foi adotada por 60 escolas em França e 100 novas escolas devem adotar o programa em breve, tendo o conceito sido exportado para outros países.
No final de setembro, Stéphane de Freitas lançou, ainda, o livro “Porter sa voix”, em França, no qual fala dos problemas que teve na adolescência por ser português e oriundo de um bairro social dos subúrbios de Paris e no qual defende o domínio da oralidade para contrariar a violência social.
Um novo documentário «Solidarité» que conta com o apoio da Netflix, está a ser preparado pelo realizador, com previsão de lançamento para setembro de 2019 em França.