Um casal português em lua de mel está retido num resort de cinco estrelas nas Maldivas depois de ter testado positivo à covid-19.
Apesar de confinados no paraíso, marido e mulher criticam a unidade hoteleira por não providenciar o acesso a novos testes e a acompanhamento médico.
Ricardo Meireles e Sílvia Santos casaram a 2 de julho e três dias depois embarcaram de Lisboa para Nalaguraidhoo, uma ilha paradisíaca nas Maldivas, em pleno Oceano Índico, onde permaneceriam seis dias. A ideia era seguir depois para o Dubai, onde ficariam até esta sexta-feira, dia 16, mas o sonho de uma lua de mel bipartida rapidamente se tornou num autêntico pesadelo para este casal de Gondomar.
“Na madrugada de domingo para segunda-feira [11 para 12], quando estávamos para partir para o Dubai, recebemos uma chamada a dizer que não podíamos sair do quarto porque um estava positivo e o outro inconclusivo [à covid-19]”, começa por contar Ricardo.
Até aqui tudo bem. O pior estava, segundo o casal, para vir. Isto porque primeiramente a unidade hoteleira, o Sun Island Resort & Spa terá alegadamente recusado repetir os testes à covid-19 que foram pedidos pelo casal, que se disponibilizou para suportar os respetivos custos, uma vez que “o hotel não os oferece”.
“A mim, que testei positivo, foi-me negado até hoje. À minha mulher só lhe permitiram passadas mais de 24 horas, depois de muita insistência da nossa parte e do nosso operador turístico em Portugal, até mesmo por causa do nosso seguro”, adianta.
Sem surpresa, o casal foi obrigado a cumprir isolamento, mas, contrariamente ao expectável, não na unidade onde ficou alojado, mas sim num outro espaço.
“Eles queriam-nos obrigar a ir para outro sítio mais próximo de Malé [capital das Maldivas], próprio para isolamento, embora não tenhamos informação disso, e teríamos ainda de pagar o transporte. Nós dissemos que não saíamos e levaram-nos então para uma outra zona de isolamento aqui”, acrescenta.
Ao contrário do que lhes teria sido transmitido pela única médica da ilha – de que seriam os únicos casos – não foi isso que o casal presenciou quando chegou ao novo espaço.
“Quando chegamos a essa zona, havia oito casas, todas lotadas, e tudo com gente infetada. Estamos a falar no mínimo de 16 pessoas”, precisa Ricardo.
A acrescer a isto, e além de um pequeno incidente com a higienização da casa de banho – “uma infestação de baratas” que só terá ficado resolvida com a troca do quatro -, o casal queixa-se ainda da falta de comunicação com o hotel e de alguma falta de cuidados médicos.
“Requisitei um termómetro para o Ricardo, para o avaliar e partir daí ver se podia dar alguma medicação e a médica demorou dez horas a vir ter comigo. Disse-me também que não tinham termómetros para me emprestar”, exemplifica a também enfermeira que, apesar de vacinada em janeiro, testou positivo juntamente com Ricardo.
“Eles não se prontificaram a dar medicação. Eu como trago sempre medicação para as viagens, acabei por lhe dar o paracetamol e ele melhorou”, continua.
De momento, pouco ou nada mais sabem. Nem suspeitam como contraíram a infeção, “num país seguro como as Maldivas”, alegam. Ricardo, por exemplo, chegou a fazer quatro testes (um por semana) em junho, mesmo para o casamento, poucos dias antes. Sílvia outros dois. E para entrar nas Maldivas idem.
A única certeza, para já, é que jamais se esquecerão da lua de mel confinada. “Eles dizem que se tudo correr bem, ao fim de 14 dias, podemos sair. Se ao fim de dez dias, pudéssemos, pelo menos, fazer um teste, tínhamos alguma ideia. Se um de nós der positivo, temos de ficar cá mais 14 dias”, finaliza Ricardo.
Ministério dos Negócios Estrangeiros a par do caso.
A Embaixada de Portugal em Nova Deli, cuja área de jurisdição integra as Maldivas, tomou conhecimento do caso após a notícia publicada no JN e já entrou em contacto com os dois cidadãos portugueses, disse fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros, adiantando ainda que, “apesar de terem testado positivo, estes se encontram bem de saúde.”
A mesma fonte recorda que “vigora neste país a orientação de que os hóspedes que testem positivo à covid-19 sejam obrigados a cumprir quarentena numa unidade hoteleira imposta pelas autoridades locais” e que “a obrigatoriedade de quarentena resulta da legislação local, não sendo permitida a repetição do teste num período inferior a 14 dias, mesmo que assintomáticos”, tal como solicitado pelo casal.
“O Ministério dos Negócios Estrangeiros desaconselha, há vários meses, nos Conselhos aos Viajantes, as deslocações não essenciais para as Maldivas”, finaliza.